Mais cedo ou mais tarde apareceria alguém pedindo o desaparecimento das ideologias e o surgimento de um “positivismo político cientificista”, algo para além dos partidos em que a “competência” administrativa “comprovada” por um currículo “acadêmico” pudesse depurar a política dos tolos, oportunistas, ignorantes e todos os sujeitos movidos por interesses espúrios. Uma espécie de aristocracia ao estilo “Nosso Lar”. Seria a negação do conflito e a superação do contraditório. Governantes seriam eleitos através de concurso público realizado em prova direta de múltipla escolha.
Quem pede isso esquece que a humanidade sempre foi governada assim e que a modernidade nos ofereceu a alternativa mais justa ao oferecer a escolha dos seus representantes a todos os cidadãos. Ao invés de provas acadêmicas para selecionar os mais aptos tínhamos o DNA dos governantes, herdado de sua família nobre, em cujo currículo constava um aprendizado de uma vida inteira na “arte de governar o povo”.
A verdade é que a falta de partidos daquela época e a supressão das ideologias já era, por si só, a ideologia dominante, que vagava invisível no campo simbólico, e determinava a cada componente da sociedade seu lugar eterno e imutável de servo ou senhor.
Aos que desejam um mundo sem partidos e sem ideologias, sem conflitos e sem disputas, sugiro que voltem no tempo e se abriguem mas brumas de Avalon, ou em qualquer lugar paradisíaco do século XIV. Aqui no século XXI o extermínio dos partidos e o aniquilamento das formas distintas de pensar o coletivo significaria um passo definitivo em direção à barbárie e à anulação do pensamento.