No Brasil as campanhas que criticam a atuação de parteiras e doulas tem um endereço evidente: renovar a crença preconceituosa de que enfermeiras e obstetrizes oferecem uma assistência de “segunda classe”, aumentar o poder médico e deixar o campo livre para as cesarianas abusivas. Dá até para escutar alguns médicos dizendo às pacientes: “Vai querer mesmo arriscar ser abusada durante o parto ou quer marcar uma cesariana já?“
O modelo atual deixa a cesariana absolutamente impune, enquanto o parto normal um pode significar um risco grave para o médico ou a parteira. Com um bisturi na mão os profissionais são intocáveis; com as mãos nuas estão desprotegidos.
A culpa não está em um lugar apenas; está disseminada na cultura e atinge pacientes e cuidadores. O signo é o medo e a cesariana um refúgio para as agressões. Cesarianas em alta significam o acionamento de uma cascata de eventos, que transitam da morbimortalidade materna e neonatal aumentadas até o desmame precoce. Por outro lado o respeito aos estudos que apontam o parto normal como superior podem ameaçar o bem estar e a própria continuidade do trabalho dos atendentes de parto.
É preciso entender o que este tipo de campanha significa e onde pode nos levar.