Tenho plena consciência da mediocridade da minha escrita. Não vejo nela nenhuma qualidade ou virtude. Quando leio crônicas, textos ou excertos de obras famosas sempre tenho a impressão que, se o que faço se diz escrita, deveria haver um nome diferente para o que leio. Existe um abismo entre intenção e ato… eppur, scribo.
Comecei a escrever há uns 30 anos. Escrevi um texto cômico chamado “O Círculo do Gelo”, que na época me parecia hilário, mas que hoje seria apenas constrangedor. Depois escrevi, a pedido de uma jornalista, um texto chamado “Pelo direito de nascer direito” que foi publicado em um jornal local, no dia de Natal de 1994. Alguns anos depois surgiram a internet, as listas de discussão e a minha compulsão por escrever tomou corpo e desabrochou.
“Onde falta qualidade que sobre a vontade”, pensava eu. Mas eu nunca escrevi pensando em escrever bem, e sempre achei que fazer isso seria um caminho fácil para o desastre. Como o amor, ele só está “onde não está”. Quem encontra alguém com o objetivo de amar, nada encontrará. O amor é sempre um subproduto; a boa escrita só pode ser o subproduto de escrever muito.
Eu me relaciono com a escrita de forma diferente: escrevo para registrar. Penso numa história e sei que preciso contá-la. Expurgo as ideias porque sei que tenho pouco tempo de vida e não quero levar estas lembranças para o túmulo.
Antes de morrer meu pai disse que gostava de ler o que eu e meu irmão escrevíamos. “Menos política”, dizia ele, que quase nada deixou escrito em vida. Talvez ele visse nos meus escritos algo que nem eu via.
Para mim, escrever é uma necessidade. Hoje, enquanto fazia minha caminhada diária na Comuna, percebi que muitas vezes penso escrevendo. Isto é: meus pensamentos são ordenados no formato de uma escrita, como se eles apenas temporariamente pudessem ficar restritos à minha mente. Terminada a caminhada eu os transbordo para a tela e o mundo.
Se pudesse voltar atrás começaria a escrever desde a infância. Registrar o mundo é uma tarefa edificante e um exercício fabuloso.