Para mim AOC – Alexandria Ocasio-Cortez – a congressista americana nascida no Bronx que já foi garçonete e bartender, é o maior exemplo do desastre das esquerdas da América. Há poucos dias ela foi para um baile de gala do Metropolitan usando um vestido onde se lia “Tax the Rich”, em letras vermelhas sobre o vestido branco. O caso gerou manchetes no mundo inteiro e debates acalorados se seguiram.
A questão é que, antes de se tornar congressista, AOC participou de vários protestos, tomando borracha da polícia no lombo e levando adiante sua palavra contra as elites e a plutocracia americana. Já no baile, encontrou-se e confraternizou amistosamente com elementos do “deep state”, que é formado pelas indústrias de armas, drogas, petróleo, tecnologia e por Wall Street, os mesmos que há pouco xingava e combatia. Por certo que os poderosos riram dela, mas é claro que fingiram respeitar seu “protesto”.
O ingresso para a festa custava a bagatela de 30 mil dólares (tipo, 150 mil bolsonetas) e por certo que, para aqueles que lá estavam, esse valor cai na rubrica “investimentos” de suas empresas. Por outro lado, fora do Metropolitan uma multidão protestava enquanto levava porrada da polícia, os mesmos que há alguns anos eram seus parceiros de luta. O poder a fez mudar de lado. AOC agora se juntou às corporações e depois disso não votou mais nas leis importantes para a esquerda como “saúde universal”, “defund the police”, “stop fracking”, “climate change”, “minimum wage”, etc. Em outras palavras, uma Tábata “with steroids”.
Mas isso não é o mais chocante. O que me deixou estupefato é a história do vestido, que é especialmente pedagógica. Ela descreveu sua amiga estilista, Aurora James (foto acima, com Alexandria), como “uma mulher negra, da classe trabalhadora e imigrante, que chutou a porta do Metropolitan para viver o seu sonho”. Isto é…. nada de creches, moradia para todos, saúde universal… mas uma mulher negra e trabalhadora conseguiu chegar ao topo. Uau, que vitória!!!.
Essa é a essência do individualismo identitário. Cada um por si, lute por você. Não desista. Chegue ao topo. O resto que se vire. Mais ou menos o discurso que me acostumei a escutar por aqui também.
A parte engraçada da história é que a “estilista negra imigrante” Aurora James veio de… Toronto, no Canadá. Faz tanto sentido quanto chamar John Lennon em Nova York de “imigrante de uma ilha da Europa”. Além disso ela é namorada de um sujeito da família dos Lehman Brothers que tem uma fortuna estimada de 100 milhões de dólares. Fica difícil imaginar essa moça como representante das milhões de imigrantes latinas, negras, pobres, operárias sem creche e sem saúde universal que fazem parte da franja mais pobre e necessitada dos Estados Unidos.
Com este tipo de esquerda (o partido democrata americano é o melhor exemplo), que tem milhares de representantes tanto lá quanto aqui no Brasil, quem precisa de direita?