O projeto de gourmetização das doulas não ajuda as doulas, mas auxilia as instituições no seu projeto de restringir ao máximo a sua atuação. É o projeto dos sonhos da corporação médica e dos hospitais privados, e carrega em seu bojo um problema gravíssimo: ele dificulta as doulas pobres, de comunidades distantes e sem educação formal a dar assistência às suas irmãs, vizinhas, amigas e clientes.
Por que deveríamos impedir uma doula sem instrução formal – inclusive analfabeta – de atuar? Por que restringir o acesso à essa função para todas as mulheres que não tem um diploma de segundo grau? No Brasil apenas 51% das mulheres com mais de 18 anos completam o ensino médio (homens 46%). Essa medida por si só já corta pela metade o número de mulheres que poderiam ser doulas. A quem tal restrição interessa?
Já pensaram se fosse exigido de cozinheiras, diaristas ou balconistas o ensino médio completo? Já perguntaram porque nunca alguém teve essa ideia para as outras profissões, mas decidiram que, para as doulas, essa certificação seria mandatória? Conseguem perceber o interesse das corporações em atingir o coração do movimento? Por que as doulas, mas não o porteiro do prédio, precisa esse grau de educação?
Claro… como sempre nos preocupamos com a classe média, com os pacientes mais abonados, com a performance de doulas em hospitais privados e sofisticados, enquanto o Brasil profundo, preto e pobre se mantém esquecido. A gentrificação desse movimento é um passo firme na direção da sua destruição, ao eliminar do cenário de atuação a sua base popular e laica.