É assim que caem os impérios; quando a miséria do povo recebe como resposta das elites esse tipo de contraste ele se torna uma ofensa em si. Trata-se de escárnio, deboche e desrespeito. Não se trata de questionar o direito de produzir algo que o dinheiro pode pagar, mas viver em uma sociedade onde a desassistência, a fome, o desemprego, a inflação e a desesperança convivem com a opulência obscena é uma bofetada na cara de qualquer brasileiro.
Quando essas coisas explodem alguns dizem “Por que essa violência, gente? Não é pra tanto!!“. Mas quando a gente oferece brioches para a patuleia faminta está alimentando a indignação silente. Quando cai a última gota, cabeças rolam… as vezes literalmente.
Aliás, concordo que isso é tudo muito brega. Para mim vale o relato que centenas de mulheres me disseram: “não existe sensação melhor do que parir um bebê e depois deitar na sua própria cama para descansar e tomar uma sopa de galinha”. Isso é qualidade de vida e valor; o resto é modinha e ostentação fútil. Esta sim é uma memória capaz de produzir transformações na forma como enxergamos o mundo.
Tenho ainda uma curiosidade: desses 500 milhões de custos nessa obra – cuja única função é fazer a elite perdulária paulistana se sentir “especial” – quanto foi investido para fazer dessa chinelagem a capa de Veja?
Pois eu acho que essa iniciativa é o “romerobritismo” da assistência ao parto no Brasil, uma homenagem a Romero Britto, que produz coisas bregas, extravagantes, caras e inúteis.