Bem, para acreditar nisso é preciso questionar: na última eleição o Bolsonaro comprou as pesquisas? Como funciona? Afinal, as pesquisas mostraram de maneira muito clara que Bolsonaro crescia de forma vertiginosa no final da campanha eleitoral e todas as empresas foram unânimes em apontar a vitória do candidato da extrema-direita. Outra dúvida: as esquerdas – professores, operários, trabalhadores, proletários, estudantes, os pobres, os negros, os gays – compram pesquisas de intenção de voto, mas a direita – os magnatas, a elite financeira, os empresários, os militares, a pequena burguesia e os patrões – não compram? Por quê? A direita é honesta e a esquerda vigarista? Por que deveríamos acreditar nessa divisão moral da sociedade? Onde se pode comprovar isso? Expliquem por que os pobres comprariam as pesquisas eleitorais (quem paga?) e os ricos (como o velho vigarista da Havan) não fariam isso?
Essa divisão moral da sociedade não faz sentido algum, mas todo o ideário fascista é centrado nessa ideia. Basta ver como foram as propagandas nazistas, o fascismo italiano e todas as frentes de direita que, na ausência de argumentos econômicos e sociais, apelam para valores da “família”, da “religião” e de um patriotismo canhestro e falacioso. Veja como os defensores de Bolsonaro jamais questionam os projetos, planos e realizações dos governos de esquerda, muito menos os comparam com o que foi feito na onda neoliberal de Temer-Bolsonaro. Não, sempre partem para os ataques morais, chamando os petistas (e a esquerda em geral) de vigaristas, ladrões, guerrilheiros e “presidiários”. Entretanto, jamais se vê uma crítica aos projetos de governo, nunca algo técnico ou sobre as ideias, sempre elementos subjetivos sobre a honestidade ou a “espiritualidade” dos políticos da esquerda.
O estranho é que isso agride até a própria realidade. Quem esteve a vida inteira envolvido com crimes, milícias, rachadinhas, funcionários fantasmas, apartamentos para “comer gente“, desejo de “matar uns 30 mil“, negros pesados em “arrobas“, sendo a “favor da tortura“, ameaçando golpe militar a todo momento, vizinho de “milicianos envolvidos na morte de Marielle e Anderson” sempre foram Bolsonaro e seus filhos.
Eu espero que a partir do ano que se aproxima possamos virar a página do fascismo, do negacionismo, do estímulo à violência, do golpismo e do ódio incontido. Precisamos reconstruir um pais que foi destruído pelos golpes em sucessão, e esta será uma tarefa de todos nós.