
Nas páginas dos amigos bolsonaristas encontramos estas pérolas da desinformação, adquiridas diretamente das sombras do WhatsApp: o Ministro do STF Gilmar Mendes almoçando com o “filho do Lula” em Roma no meio do segundo turno. Um simples olhar com atenção bastaria para ver que o sujeito na foto não lembra qualquer filho do presidente Lula. Entretanto, o Porsche dourado, a mansão no Uruguai, as lojas Havan e o triplex também eram facilmente desmentidos; por que, então, tantos acreditaram?
Eu pergunto: como puderam tantos acreditar nessas tolices? Como puderam receber estas mensagens pelo WhatsApp e imediatamente as disseminaram, sem ao menos verificar se a Havan era do “véio”, se a JBS já tinha dono, se na mansão já havia moradores e se o barbudinho na imagem não é qualquer outra pessoa?
A resposta é a necessidade premente de acreditar em qualquer fato – mesmo mentiroso – que confirme suas crenças. Por isso as pessoas acreditaram no “estado de sítio” há alguns meses, ou na prisão do Ministro Alexandre de Moraes logo após a vitória de Lula. Trata-se do conhecido “viés de confirmação“, um mecanismo psicológico primitivo que nos força a crer nas interpretações da realidade que confirmam as nossas crenças mais primitivas, as quais são originadas dos nossos afetos e emoções, não dos estratos superiores da razão.
Isso explica tragédias como Jonestown, onde 900 seguidores de Jim Jones tomaram cianureto, seguindo as ordens do seu mestre e guru. Também nos permite entender toda a idolatria dos extremistas de Waco, no Texas, vítimas de um incêndio que provocou a morte de 76 membros da seita davidiana em 1993, entre elas 23 crianças e o próprio líder, o pastor Koresh.
Somos constituídos de um núcleo de medos primitivos, tendo a angústia como sentimento fundador. Por sobre este medo essencial, colocamos uma grossa camadas de crenças irracionais (Deus, evolução, causa e efeito, progresso, justiça divina, determinismo, etc) que aliviam a nossa angústia estabelecendo uma relação de causalidade para os eventos caóticos da vida.
Por sobre esta camada de crenças aplicamos uma fina camada lógica, um verniz de intelecto, uma fachada tênue de racionalidade, que nos afasta dos medos sem, no entanto, eliminá-los, mas que nos oferece a sublime ilusão de sermos seres autônomos e conscientes. Tão brilhante é esta camada externa que ela nos ofusca e nos engana, fazendo-nos pensar que somos conduzidos pela luz da razão, quando em verdade ela funciona mais como uma máscara frouxa a esconder nossa estrutura primitiva e pulsional.
Não é por outra razão que somos presas fáceis das fake news. Elas são apenas a água refrescante que nossa alma sedenta de confirmação tanto deseja. Diante de tanto desejo, nossa razão minúscula é uma combatente frágil e minúscula. Via de regra, é derrotada pela avalanche de informações que desejamos ardentemente acreditar, sendo elas falsas ou não.