Brasinhas

Essa frase, que li nas mídias sociais, me faz lembrar os “Brasinhas do Espaço“, um desenho animado do final do anos 70. O desenho se baseava no cotidiano de um grupo de escoteiros que moravam em uma espécie de Estação Orbital e perambulavam para lá e para cá viajando no espaço sideral em uma mini espaçonave que mais parecia uma bicicleta de vários lugares. Eram perseguidos incansavelmente pelo temível Capitão Gancho e seu ajudante anão Estática. Os garotos se chamavam Escoteiro (líder do grupo), Sábio (garoto de óculos), Xereta (garoto loiro), Jenny (menina), Estrelinha (cachorro), Capitão Gancho (vilão) e Estática (seu ajudante). Muitas vezes o Capitão Gancho fazia ameaças para as crianças ao estilo “vamos fritar vocês em óleo lunar“, fazendo Estática esfregar as mãos e dizer “Isso mesmo Capitão!!“. Porém, quando Estática resolvia fazer uma ameaça deste tipo o Capitão o repreendia dizendo “Cale a boca Estática!!! Eles são apenas crianças!!“.

Ou seja…. às vezes eram meras crianças, em outras eram merecedores da fúria do Capitão malvado e de seu ajudante. Estática nunca sabia a maneira certa de agir e como se manifestar. “Serão eles nossos terríveis inimigos ou são apenas pirralhos?” pensava ele. Pois eu acredito que Estática e sua confusão sintetizam o drama que temos ao lidar com seres em desenvolvimento físico, cognitivo e emocional: as crianças.

Sim, é verdade que muitas vezes tratá-los com maturidade, partindo da ideia de que eles são capazes de entender o que estão fazendo, dizendo ou pedindo pode ser uma forma especial de respeitá-los, conferindo a eles o status de “pessoas”. Não há dúvidas de que tratá-los assim pode deixá-los muito felizes. Todavia, o contrário também é um fato corriqueiro. Em muitas vezes nosso erro é não enxergar as crianças como crianças, tratando-as como adultos pequenos, exigindo de suas mentes jovens análises que só poderiam ser feitas através da experiência – elemento que só o tempo e a maturação são capazes de lhes oferecer.

Desta forma, não creio que exista uma solução definitiva, uma receita ou uma regra fixa. Temos somente princípios essenciais, como a ideia de protegê-los e amá-los. As vezes é forçoso reconhecer que os Brasinhas do Espaço são imaturos, incompletos e incapazes de entender a complexidade de um fenômeno ou a iminência de um real perigo. Em outras, subestimar sua capacidade de compreensão é o pior erro a ser cometido, e cabe enxergá-los como sujeitos capazes e competentes. Cabe aos adultos caminhar sobre esta lâmina fina sabendo que a única certeza é que sempre vamos errar. Nosso caminho é descobrir – a duras penas – como agir diante de cada situação, em cada momento e para cada alma frágil que repousa em nossas mãos.

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