Quando vejo propaganda de garotos imberbes vendendo cursos, afirmando terem descoberto o “segredo”, destravado as “potencialidades”, revelando a “lei de atração” e mostrando o mistério da “riqueza dos judeus” falando do exterior, com joias caras, carros ou lanchas importados e roupas chiques eu sempre lembro de uma velha história sobre a arrogância que se conta aqui no Rio Grande do Sul.
Bagre Fagundes, um personagem pampeano tosco e grosso como dedo destroncado, era conhecido por ser sincero e direto, sem meias palavras. Certa feita, na disputa pela vereança, ele foi fazer um discurso de campanha em uma pequena cidade do interior, onde os cuscos rengueavam no frio e os guascas cuspiam fumo mascado no meio-fio. Nesta ocasião, depois de olhar a pequena multidão que se aglomerava em frente ao palanque dos candidatos, olhou pra peãozada, cuspiu pro lado, pediu a palavra e disparou:
– Tenham esperança e votem em mim. Lembrem, eu já fui chinelão assim como vocês…