Tive muita sorte. Meu pai morreu em 2021 depois de 3 meses de hospitalização na luta contra um câncer. Eu sempre soube que meu pai tinha defeitos, como qualquer pessoa, mesmo que seus defeitos pareceriam brinquedos diante dos meus – bem elaborados e profissionais. Apesar disso, quando ele morreu ninguém se aproximou de mim para lembrar de suas falhas e seus erros, e ninguém ficou repetindo ininterruptamente para mim e para meus irmãos algum de seus deslizes. Creio que as pessoas ao meu redor sabiam que, na morte, é preciso respeitar a dor dos que ficam, e preservar o amor e o carinho que nutriam pela alma que se vai. Espero que quando for a minha hora, que não deve tardar, as pessoas tenham a mesma consideração. Publiquem todo o seu ódio apenas quando meu corpo, corroído pelas bactérias e desfeito das fibras que o sustentavam, esteja frio, cego e surdo, preparado para voltar à terra, ao pó e ao esquecimento.
A todas estas pessoas, eu agradeço.