Sacrifícios

Quando eu tinha uns 10 anos de idade, e estava de férias com a minha família em uma cabana no interior do Rio Grande do Sul próximo à barragem do Salto, começamos a conversar logo após o jantar. Era o que tínhamos a fazer antes dos smartphones e quando as TVs simplesmente “não pegavam” em várias partes do estado. A conversa acabou se centrando no tema dos “sacrifícios”, ou seja, o quanto poderíamos sacrificar algumas coisas em nome de outros valores.

A questão prática era: se você quer ter aulas de violão não pode fazer judô, pois não há como pagar todas essas coisas. Meu pai tinha quatro filhos, não haveria dinheiro para financiar isso para todos. Ele era da “teoria do pirulito”: se você tem 4 filhos e 3 pirulitos ninguém ganha, porque não há como desfavorecer um diante dos outros. Todos são iguais e ninguém poderia ficar em desvantagem. Portanto, haveria que se sacrificar algo para que todos pudessem ter um benefício.

Um pouco contrariado eu perguntei ao meu pai:

– Ok, e você? Que sacrifícios faria pelos seus filhos? Seria capaz de, por e exemplo, arrancar um dedo da mão para nos salvar?

Meu pai riu da minha pergunta e respondeu:

– Um dedo? Ora, eu daria a minha própria vida pelos meus filhos. Eu morreria por eles.

Lembro bem dessa conversa, e penso que a resposta que eu dei para ele é engraçada até hoje.

– Rá, morrer pelos filhos é fácil. Quero ver ter coragem de arrancar um dedo!!

Para mim a morte era algo distante, um acontecimento meramente abstrato. Mas arrancar um dedo – multiplicando a dor de verdade que eu já havia experimentado – isso sim era sofrimento prá valer,

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