Esta é uma experiência corriqueira, ainda que eu creia que este drama é compartilhado por milhões de viventes como eu. Acordo de um sonho espetacular no meio da madrugada e penso demoradamente no que ocorreu na trama da qual sou espectador e protagonista ao mesmo tempo. Analiso seus mínimos detalhes, recordo as falas, os personagens e, quiçá, a própria música incidental que delineia e acompanha os movimentos de câmera com seus acordes envolventes. Interpreto suas múltiplas facetas segundo vários autores, Freud, Klein, Skinner, Lacan chegando até Pedro de Lara. Nada resiste ao escrutínio profundo da análise.
Dou risadas das incongruências lógicas do sonho, um humor involuntário que surge da tentativa do Ego em tomar as rédeas em um território que não lhe pertence. Finalmente faço um resumo mental da trama e dos significados psicológicos de cada tomada de cena e, já comprometido com a ideia de colocar o enredo no papel pela manhã, volto a dormir.
Ao acordar só o que me vem à mente é… “Eu vi coisas que vocês, humanos, nem iriam acreditar. Naves de ataque pegando fogo na constelação de Órion. Vi Raios-C resplandecendo no escuro perto do Portão de Tannhäuser. Todos esses momentos ficarão perdidos no tempo, como lágrimas na chuva. Hora de acordar”. E aí, tudo vira poeira, fragmentos dispersos de luz perdidos no infinito cósmico.