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Violência

Educar sem violência não é fácil, nem natural. Natural é fazer “bypass”, criar atalhos, usar o caminho mais curto para atingir um objetivo. Testemunhei isso, com mais atenção, nos meus netos. Muito cedo eles aprendem a bater. Diante da insatisfação e da frustração, levantavam a mãozinha para bater e fazem isso sem jamais assistir a um ato de violência. É curioso como essas ações estão associadas com o nosso desenvolvimento enquanto espécie; bastam cinco minutos observando os animais para entender que elas são heranças muito antigas que carregamos em nossa bagagem primata.

Entretanto, apesar de ser um processo adaptativo natural para garantir atenção, domínio territorial, sucesso reprodutivo e recursos para sobrevivência, a violência pode ser substituída por modelos mais sofisticados de convívio social. Abolir as práticas violentas não deve ser um objetivo das sociedades e dos indivíduos apenas por ser moralmente superior, mas porque existem resultados muito melhores usando alternativas. Como diria minha mãe: “a fraternidade é a mais elevada forma de relação entre as criaturas”, além de ser a mais efetiva e a mais duradoura estratégia usada por humanos.

Meus netos são da primeira geração de crianças que eu testemunhei onde foi usada a filosofia da criação sem violência. A diferença que vejo no comportamento deles é marcante. Não existem surras ou castigos físicos a limitar suas travessuras e brigas; eles têm noção do limite e do preço por saírem da linha, mas agressões estão fora do escopo das penalidades. Com isso, creio que se estabelece uma perspectiva positiva para o futuro: nenhum conflito na vida deles necessitará da violência como intermediação. Mais do que informação, esta marca estará na sua formação como sujeitos sociais. Essa é, ao menos, a esperança que carrego; se desejamos mudar a humanidade, quem sabe a modificação do imprint da infância seja capaz de torná-los sujeitos da Paz.

Ainda há muita rejeição para esse novo paradigma, não só no plano pessoal mas igualmente no plano coletivo. O punitivismo é a palmada que a sociedade aplica nos delinquentes, imaginando que as punições possuem a capacidade de corrigir almas desajustadas. Não só isso: vejo aplausos todos os dias para linchamentos, de quem acredita no “olho por olho”. No trato com as crianças, ainda persistem milhares de advogados das “palmadas do bem”, que apostam nos “limites” estabelecidos “com amor” através de espancamentos. Ainda somos condicionados pela ideia de que violência pode gerar paz, como se a semeadura de urtiga pudesse gerar rosas…

Ainda há muito o que fazer para transformar este mundo e muito é necessário para modificar o paradigma da violência em direção a um modelo centrado na fraternidade e na cooperação. Mudar a forma de nascer é um passo essencial, assim como é fundamental tratar os pequenos com afeto e sem punições físicas. Cabe a nós começar essa mudança.

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Papa

Na boa… não precisa ficar dando sermão dizendo que o Francisco também é “humano” como cada um de nós. Não tem justificativa para o que ele fez. Está errado, e muito. Ele é exemplo para o mundo inteiro. Se fosse ele um cantor de Heavy Metal estaria errado, seria atacado por comentaristas de música e entretenimento do mundo todo, mas para um líder mundial que prega a “paz e a tolerância entre os povos”… nem se fala.

Sejamos francos: a atitude dele foi absurda, grosseira, violenta e injustificável. Quanto mais eu vejo a fúria nos seus olhos mais eu me assombro com o seu despreparo para a fama e a posição de líder espiritual de mais de 1 bilhão de pessoas. Mas, como sempre, tem gente passando pano, perdoando, chamando-o de “humano” e ressaltando que ele é o primeiro Papa que pediu desculpas publicamente, o que demonstra que quando gostamos e admiramos alguém TUDO pode ser perdoado e contextualizado, mas quando não gostamos até o mais banal dos deslizes passa a ser um pecado capital.

Não seria necessário bater na mão mulher. Os seguranças já estavam a postos. Quando explicamos que não se bate em criança ou que desprezamos a violência é DISSO que estamos falando. Quando falamos que agressões não educam é a esse tipo de ato que nos referimos. Quando dizemos que a violência nunca é a melhor resposta, ou quando lembramos de “dar a outra face”, é sobre este tipo de atitude.

Portanto, não precisa defender tanto o Papa porque até ele está envergonhado do péssimo exemplo que deu. E tem mais: ele já pediu desculpas e o reconhecimento do erro é essencial. Já vi textos por aí insinuando que ele se “machucou” com o puxão (??) e que a moça era uma “fanática”. Sério? Por segurar a mão do seu ídolo? Que absurdo.

Que o Papa aprenda essa lição e seja mais humilde. Aliás, por que não convidam esta senhora para um café com o Sumo Pontífice como um gesto de desculpas públicas?

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