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Mística

Reza a lenda que uma vez na véspera de um jogo importante, o mascote do Botafogo, um cachorrinho sem raça definida chamado “Biriba”, fez “xixi” na perna do jogador Braguinha. Depois desse ato curioso o Botafogo ganhou a partida, com gols de, adivinhem, Braguinha. A partir dessa coincidência, em todo jogo importante o presidente Carlito obrigava o atacante botafoguense a oferecer suas canelas para servirem de poste ao cãozinho. A alternativa era “Biriba” lamber as chuteiras do jogador Otávio. Depois de algum tempo, quando se percebeu que o xixi do Biriba não garantia as vitórias, o assunto foi esquecido. Ficou para a história a figura emblemática do cãozinho torcedor.

Lembro também quando Tite colocou as fotos dos filhos e esposas dos jogadores no vestiário do Grêmio antes da partida contra o Corinthians na final da Copa de 2001, e naquele jogo o Grêmio sagrou-se tetracampeão da Copa do Brasil. Fez – mais uma vez – volta olímpica no Morumbi, cunhou para si o nome “Rei de Copas”, Tite ganhou seu primeiro título em nível nacional e a história virou lenda. Foi repetida em dezenas de decisões a partir de então, e muitos times tiveram sucesso, enquanto muitos outros perderam campeonatos profundamente motivados pela iniciativa. Depois esta ação caiu em desuso, pelas mesmas razões que levaram Biriba voltar a ser apenas um charmoso mascote.

Algumas iniciativas ganham impulso por estas coincidências vitoriosas, mas depois entram em decadência porque não se sustentam em resultados. Se o Internacional, que usou camisas embarradas para jogar sua primeira partida na Sul-americana após a enchente, tivesse vencido seu jogo na terça-feira, a mística da “camisa com barro” talvez tivesse uma vida mais longa. Infelizmente, para o coirmão, as camisas sujas entrarão para a galeria de boas iniciativas que, pelo menos para a torcida rubra, deverão ser esquecidas.

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Um pouco da história tricolor

O time do Hamburgo, vencido pelo Gremio em 1983 na Final do Campeonato Mundial (que colocava frente a frente os campeões da Libertadores e da Champions League), era a base da seleção alemã que jogou o mundial de 1982. Era um time cheio de craques, mesmo que nos últimos anos seja um time apagado na Alemanha. Uma característica das antigas Libertadores (as Libertadores “raiz”) era que, naquela época, apenas dois brasileiros podiam jogar este campeonato – campeão e vice do campeonato brasileiro (a Copa do Brasil só começou em 1989, e foi o Grêmio quem a venceu). O Grêmio entrou nesta Libertadores por ter sido vice campeão do campeonato vencido pelo Flamengo de Zico, Júnior, Adílio, Raul e Nunes em 1982. Compare com hoje: até 9 clubes brasileiros (como em 2022) podem participar de cada edição da competição. Naquela época era  muito mais difícil chegar a uma final mundial.

Lembremos também que o Grêmio foi campeão da Libertadores em 1983 jogando contra o campeão mundial de 1982, o Peñarol de Fernando Morena. Foi campeão depois em 1995 jogando na Colômbia contra o Nacional de Medellin, de Higuita, base da seleção que foi à Copa de 1994. Depois foi mais uma vez campeão na Argentina, em Buenos Aires contra o Lanús, time que desclassificou o poderoso River Plate no Monumental de Nuñes.

Ou seja: ganhamos de grandes times das três maiores praças futebolísticas sulamericanas: Uruguai, Argentina e Colômbia, duas delas fora de casa. A Libertadores que ganhamos em casa foi contra o campeão do Mundo, o Peñarol. Depois disso, disputamos 3 finais mundiais e só perdemos para o maior Real Madri deste século, de Ronaldo e Casemiro. Ganhamos do Hamburgo e empatamos com o Ajax.

Para comparar, o nosso coirmão jogou uma final caseira contra o São Paulo e outra contra um time mexicano, ambas no Beira Rio. Nem de longe se compara à epopeia das Libertadores do Grêmio, que teve até a “Batalha de La Plata”, quando houve derrubada de alambrado pela fúria da torcida Argentina e espancamento de jogador gremista no túnel quando se dirigia ao vestiário. Os colorados jogaram apenas uma final de campeonato mundial, e na outra disputa que participaram perderam ainda na semifinal para um time do interior do Congo, cuja cidade ninguém lembra qual é. Esse time congolês hoje está imortalizado, dando nome a um viaduto de Porto Alegre.

Sejamos justos…. basta comparar as histórias.

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O Mais Temido

Por qual razão as torcidas de fora do Rio Grande do Sul historicamente consideram que o Grêmio é o time mais difícil, mais aguerrido, mais temido e aquele que mais deve ser evitado?

Existem várias formas de explicar este fato, a maioria delas clubista. Entretanto, vou deixar aqui a minha teoria, que acredito ser a menos enviesada: nosso coirmão, o Internacional, nunca fez festa na casa alheia, com exceção dos campeonatos regionais. Todos os campeonatos acima do Mampituba (divisa entre o Rio Grande do Sul e Santa Catarina) vencidos pelo Colorado foram com a volta olímpica sendo realizada em seu próprio estádio. Os três campeonatos brasileiros da série A foram vencidos no Beira Rio (Cruzeiro, Corinthians e Vasco) nos anos 70, assim como as duas Copas Libertadores. A sul-americana idem. O mundial não conta, porque hoje em dia ele é realizado em estádio neutro. Além disso, as duas Copas Libertadores do Internacional foram, respectivamente, contra um time brasileiro (São Paulo) e um time mexicano (o Chivas Guadalajara), o que não melhora o cartaz entre os clubes sul-americanos e não produz a imagem de clube guerreiro, ameaçador, imbatível e “imortal” entre as torcidas da América Latina.

Por seu turno, o Grêmio tem vários campeonatos vencidos fora de sua casa, fazendo festa nos domínios do adversário inúmeras vezes – e de forma épica. Isso marca muito a imagem do clube fora de suas fronteiras. Temos 5 copas do Brasil, sendo que duas delas ganhamos contra os times de maior torcida do Brasil, fora do nosso estado e com estádios lotados: Flamengo de Romário e Corinthians de Marcelinho Carioca e Luxemburgo. Também fomos campeões brasileiros sobre o São Paulo de Valdir Perez e Serginho vencendo as duas partidas finais, sendo a grande final no Estádio Morumbi repleto. São derrotas “em casa” que os adversários jamais esquecem.

No âmbito da América, ganhamos 3 libertadores, duas dela na casa do inimigo: uma na Colômbia contra o Nacional de Higuita e outra contra o Lanús em Buenos Aires. Ou seja: fizemos a festa da América na casa “deles”, expondo a torcida adversária à dor de uma derrota em seus próprios domínios. A terceira foi no nosso estádio, mas contra o campeão do Mundo, o Peñarol de Fernando Morena. Desta forma, ganhamos 3 libertadores vencendo na final clubes das 3 maiores praças futebolísticas da América – além do Brasil: Uruguai, Argentina e Colômbia. Até nossa vitória no Brasileirão da série B foi fora do nosso estádio, e de forma épica: em Recife, contra o Náutico, na Batalha dos Aflitos, que o Brasil inteiro lembra como o feito mais heroico da história do futebol profissional. Também a falecida Copa Sul ganhamos em Curitiba, contra o Paraná Clube, jogando em seu estádio.

Ou seja: o Grêmio é o mais aguerrido dos clubes do Sul do Brasil e o adversário mais temido pelos “hermanos” dentre todos os clubes brasileiros da Libertadores. Essa fama – e o temor causados nos adversários – foi forjado porque criamos a imagem de um time guerreiro que não se intimida com a torcida adversária e por termos uma história de imortalidade. Ganhamos campeonatos importantes e de forma espetacular na casa dos nossos inimigos. Por isso quanto mais nos odeiam, mais nos admiram.

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