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Sacrifícios

Quando eu tinha uns 10 anos de idade, e estava de férias com a minha família em uma cabana no interior do Rio Grande do Sul próximo à barragem do Salto, começamos a conversar logo após o jantar. Era o que tínhamos a fazer antes dos smartphones e quando as TVs simplesmente “não pegavam” em várias partes do estado. A conversa acabou se centrando no tema dos “sacrifícios”, ou seja, o quanto poderíamos sacrificar algumas coisas em nome de outros valores.

A questão prática era: se você quer ter aulas de violão não pode fazer judô, pois não há como pagar todas essas coisas. Meu pai tinha quatro filhos, não haveria dinheiro para financiar isso para todos. Ele era da “teoria do pirulito”: se você tem 4 filhos e 3 pirulitos ninguém ganha, porque não há como desfavorecer um diante dos outros. Todos são iguais e ninguém poderia ficar em desvantagem. Portanto, haveria que se sacrificar algo para que todos pudessem ter um benefício.

Um pouco contrariado eu perguntei ao meu pai:

– Ok, e você? Que sacrifícios faria pelos seus filhos? Seria capaz de, por e exemplo, arrancar um dedo da mão para nos salvar?

Meu pai riu da minha pergunta e respondeu:

– Um dedo? Ora, eu daria a minha própria vida pelos meus filhos. Eu morreria por eles.

Lembro bem dessa conversa, e penso que a resposta que eu dei para ele é engraçada até hoje.

– Rá, morrer pelos filhos é fácil. Quero ver ter coragem de arrancar um dedo!!

Para mim a morte era algo distante, um acontecimento meramente abstrato. Mas arrancar um dedo – multiplicando a dor de verdade que eu já havia experimentado – isso sim era sofrimento prá valer,

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Férias

Li uma publicação justificando o fato de professores terem férias duas vezes por ano com argumentos do tipo “fizemos concurso público, temos correção de provas, 40 alunos em sala de aula, seminários, congressos, reuniões, muito estudo, dedicação, etc.” Para mim bastaria dizer que existem dois períodos de férias; professores têm porque os alunos têm. Mas as explicações para serem “diferentes” dos demais me incomodaram

O problema é que qualquer profissão exigiria duas ou três férias por ano (e auxílios variados) com esse tipo de justificativa. Professores não são melhores que médicos, juízes, comerciários, é muito menos piores. Professor deveria ganhar um salário ótimo, excelente, tão bom quanto estes outros profissionais (sim, porque médico deveria ganhar mais que professor???) e não mordomias ou penduricalhos baseados em sua excelência. Deveria ser igual para todos. O que me incomoda nesse tipo de publicação é que ela é IDÊNTICA à dos juízes justificando os salários abusivos, auxilio creche, auxílio terno, gravata e duas férias por ano. Afinal, são concursados e fazem (segundo eles próprios) um trabalho excelente e muito sacrificial.

Por que não poderia ser o mesmo para todos? Férias iguais, imposto de renda de acordo com o que ganha e a ambição de qualquer tipo de benefício que os outros não possuem.

Acho que professor deve ter 30 dias de férias, como todo mundo. Ou duas vezes por ano para acompanhar as férias escolares (e não porque são “especiais”). Ou até mesmo 60 dias por ano, quando valer para todos os outros trabalhadores.

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