Arquivo da tag: função paterna

Tanques

Hoje tivemos desfile de tanques na Esplanada dos Ministérios em Brasília, com seus canhões apontados para nossas cabeças como gigantes de aço ostentando seus membros eretos numa demonstração grotesca de virilidade. Há alguns dias promoveram um passeio de motocicletas, que nada mais são que próteses metálicas e rígidas colocadas entre as pernas de meninos com medo.

Houve diversas infrações de trânsito praticadas, assim como sempre ocorrem delitos quando a masculinidade precisa ser comprovada por meio da força. Foi pouca gente se analisarmos a repercussão eleitoral. Em São Paulo estiveram 6.230 motos, que fazem muito barulho e impressionam, mas representam apenas 6 mil votantes. Isso não é nada para uma cidade de 20 milhões de habitantes.

É evidente que as manifestações de apoio a Bolsonaro estão minguando – ou “broxando”. Por isso a insistência na exaltação da frágil heterossexualidade. Isso também explica as motociatas, mesma estratégia usada por Mussolini no fascismo nascente no século passado, pois as motocicletas ocupam espaço, fazem barulho, simulam uma multidão e são potentes sinais semióticos de poder fálico. Tudo o que essa turma gosta é de demonstração de potência sexual. Alimentam-se disso. Gozam com essas exibições de potência que denunciam a fraqueza do real poder.

Bolsonaro é o falo desejado pelos deserdados da função paterna.

Deixe um comentário

Arquivado em Política

Sobre o mundo virtual

Sobre continuar…

(…ou snowflake activism)

Desculpem a breve intromissão, mas vocês realmente achavam que poderia ser diferente? Acreditavam mesmo que iam mexer nas inseguranças sexuais das mulheres, seus remorsos e culpas, suas alegrias, suas angústias e medos e ninguém ia reclamar? Achavam mesmo que iam tocar no abelheiro dos “podres poderes” da corporação e os “senhores da guerra” não iam atacar com violência desproporcional?

O problema não é a ofensa, nem a grosseria. Também não é a violência de quem não suporta o contraditório. O problema é a ingenuidade de querer fazer omelete sem quebrar a casca do ovo. “Mercenário“, “frio”, “dinheirista, “fingido”? Ora… isso é ofensa? Achavam mesmo que às pessoas iriam respeitar? E por quê? Por serem mães e cuidarem de filhos, portanto “mulheres de bem“?

Ingenuidade. Mexer nas questões do parto é “tiro, porrada e bomba”. Foguete de todos os lados. As mulheres que fizeram cesariana, as que não podem pagar, os cesaristas ofendidos, os neo-humanistas em busca de espaço, os verdadeiramente mercantilistas que acharam um nicho pra grana, as doulas feridas e as abençoadas, enfermeiras e obstetrizes, quem odeia médico e quem os ama demais.

Construir esse caminho é para quem consegue levantar todo ensanguentado, tirar a poeira do corpo, limpar o sangue, cuspir o dente quebrado, levantar a cabeça e seguir em frente no caminho do protagonismo garantido à mulher.

Resiliência.

Não se iludam; um patife virtual é um canalha na vida real. Não me refiro a ninguém em especial mas esta definição está em sintonia com o que vivi nos últimos 20 anos de redes virtuais. Esperar que o mundo virtual seja melhor e mais civilizado que o mundo real é a mais suprema das ingenuidades. Pelo contrário: aqui no Império duro e inexorável dos signos a vida tem muito menos matiz. E o dilema para a manutenção de comunidades temáticas é sempre esse: de um lado o “princípio primordial” (porque estamos aqui? que pode ser parto humanizado, vacinas, amamentação ou tipos de cabelos) e do outro lado “minha expressão subjetiva, meus direitos e minhas necessidades“.

Já participei de grupos que questionam as vacinas em que pessoas entravam para debater o calendário vacinal e onde fazer “aquela nova vacina do HPV”. Em outros grupos de apoio à amamentação algumas mães perguntavam qual o melhor NAN para uma criança de 1 ano. Quando eu (geralmente) ou outro participante questionava a pertinência de tal debate em grupos que combatem o modelo vacinas, fórmulas lácteas e desmames as respostas eram exatamente estas conhecidas por todos. “Eu tenho o direito, não sejam radicais, isto é um culto, é uma religião, não me sinto respeitada etc“. Outra resposta (das mulheres) era: “Vocês precisam ser mais acolhedores com quem traz esses questionamentos“.

Max diria: “Proselitismo equivocado. Seleção pobre de participantes. Excesso de bondade. Falha de função paterna”.

Acho que precisamos acolher tanto quanto educar e colocar limites… mas de qualquer forma a minha larga experiência no assunto determina que ser maleável neste nível ou ser acolhedor e amoroso em demasia só tem um resultado previsível: a morte do grupo. Quando o núcleo duro dos princípios norteadores de qualquer grupo ou associação é atingido então o grupo naturalmente se desfaz; sua razão de existir se destrói. É a explosão da pequena e delicada parte central no coração da Estrela da Morte, mas que constitui sua identidade e seu sentido essencial.

Por esta razão gosto de grupos com administradores sem culpa e que mandam os chatos tomar no fiofó. Eles percebem que mais do que problema pessoal de uma mocinha com “medo de parto normal mas que consulta com o Dr Frotinha” existe a questão da própria sobrevivência de um canal para a difusão de uma determinada ideia ou perspectiva.

No fundo, a dinâmica dos grupos e comunidades sempre será o enfrentamento entre o os ensejos do coletivo e as necessidades individuais.

Deixe um comentário

Arquivado em Ativismo

Função paterna

Só incautos se assustam com a proximidade ideológica entre boleiros e extrema direita. Eu posso apostar que a maioria dos jogadores estão desse lado. Não é muito difícil entender as razões para esta escolha.

Boa parte dos jogadores emergem de bolsões de pobreza e até miséria. Qual a maior carência relacionada à pobreza? Para além das necessidades de sobrevivência podem ter certeza que não é nenhum brinquedo, roupa ou aparelho eletrônico. O que estes meninos mais carecem é de pai.

Uma recente estatística mostra que 70% dos encarcerados no Brasil não tinham essa figura em casa. Um pai é mais do que um provedor; ele é o melhor e mais tradicional representante de uma instância psíquica que oferece à criança a noção de “lei”. Depois de ultrapassada a fase de “castração” os meninos buscam – desde que a castração tenha sido eficaz – a identificação com essa figura com quem dividem o amor da mãe. Essa aproximação é extremamente estruturante para o sujeito e vai construir sua futura relação com a sociedade. Na ausência dessa figura real o menino buscará a função em outros lugares: na escola, nos vizinhos, nos parentes, em ídolos, no exército etc…

O que é Bolsonaro senão uma grande figura paterna tentando instituir a “lei”, doa a quem doer? Que figura de poder, autoridade, força, arbítrio e dureza ele representa? Ora…. não é difícil entender que ele atrai para perto de si aqueles jovens (ou nem tanto) sequiosos por ouvir uma voz de autoridade inquestionável que preencha a lacuna da figura paterna ausente em suas vidas. São os mesmos jovens que adoravam Hitler e cujos pais haviam morrido na primeira guerra, ou que haviam saído da Alemanha despedaçada para conseguir emprego longe de casa. São os despossuídos do capitalismo que sonham com o cavaleiro salvador que vai resgatá-los da solidão, o herói que seu pai não pôde ser.

Figuras como Felipão tiveram enorme sucesso no futebol porque sabiam usar esse poder. Os jogadores o enxergava como pai. Nas palavras de um atleta que jogou com ele “Nós jogávamos POR ele e PARA ele.” Entender essa dinâmica deixa mais fácil perceber o sentido de usar “Família Scolari” na Copa do Mundo. Felipão era o pai para quem os meninos faziam gols e venciam adversários.

Ronaldinho Gaúcho não foi o primeiro a declarar amor a Bolsonaro. Antes dele houve várias manifestações de jogadores (Felipe Melo, Aluízio…) a favor do representante da extrema-direita. Para entender essa escolha é preciso mergulhar na infância desses jovens e entender o que essa escolha representa em suas vidas. A própria vida do craque do Barcelona nos ensina o quanto a morte precoce e trágica de um pai pode trazer de consequências.

Entender a sutileza de uma sociedade complexa, com suas contradições e tensões é muito difícil. Entender autoridade, força e poder é simples. Qualquer brucutu entende e dá gargalhadas com as prisões arbitrárias feitas por juízes megalomaníacos que posam com metralhadora no Instagram. Precisa sofisticação intelectual para entender a importância de garantias constitucionais e respeito aos direitos humanos, mesmo que isso, ocasionalmente, livre criminosos de penas pelos seus delitos. Não é a toa que Hitler, com esse exato discurso, seduziu tanta gente na Alemanha e fora dela.

Deixe um comentário

Arquivado em Política