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Marionetes?

Circula entre a esquerda identitária psolista a tese de que, quem critica a indicação de uma jurista negra ao STF pelo fato de ser uma pressão comandada pelos interesses imperialistas (bem, ao menos eles já reconhecem este fato) deveria também ser contra a libertação dos escravos, já que ela foi “determinada pelos ingleses”. Ou seja, cobram “coerência” dizendo que, se um dia apoiaram medidas dos ingleses deveríamos acolher da mesma forma a estratégia americana de indicar uma mulher negra ao STF. Nesta análise, não haveria matizes ou circunstâncias históricas a envolver cada um desses fatos.

Vamos deixar claro: ninguém é contra uma jurista negra em qualquer lugar. Ninguém se opõe a que pessoas negras ocupem qualquer cargo no governo ou na iniciativa privada, desde que demonstrem a necessária competência para isso. Aliás, Lula acabou de indicar uma juíza negra ao STJ, algo que não ocorreria se ele fosse movido por preconceitos contra a comunidade negra. Entretanto, seremos sempre contrários à pressão identitária que visa impor uma representante dos interesses de específicas identidades num órgão jurídico – que deveria apenas defender a constituição, não as cores de pele ou orientações sexuais. Mais ainda, somos contra a visão ingênua que se espalha entre os liberais de que tal indicação poderia representar algum avanço civilizatório, na “defesa” dos interessas das mulheres e dos negros, dentro de um órgão corrupto e burguês como o STF. Ora, não é o que fatos antigos, e até bem recentes, nos demonstram.

É um fato inegável, mas necessário citar repetidamente, que as indicações anteriores foram desastrosas, em especial àquelas feitas pelos presidentes Lula e Dilma. Mas não porque desejávamos um ministro que defendesse nossas bandeiras – esta não é a função de um ministro – mas que tivesse fidelidade à constituição e coerência em seus votos. O que vimos foi o contrário; o STF manteve-se dentro do padrão de sua história: um órgão pusilânime, sensível às pressões burguesas, acovardado e incoerente. Tivemos votos que se tornaram péssimos exemplos de atuação vindos exatamente daqueles ministros que, em teoria, deveriam ser da confiança do Partido dos Trabalhadores e do Presidente da República. Assim foram as manifestações das ministras mulheres, golpistas e lavajatistas, Carmem Lúcia e Rosa Weber, assim como do ministro negro Joaquim Barbosa, responsável pelos ataques violentos contra a democracia, a esquerda e o PT – balões de ensaio para os golpes em sequência que ocorreram logo após.

De que adiantou a cor da pele e sua condição de mulher para rasgar a constituição e manter Lula preso? De que elas foram úteis quando inventaram tipos legais para prender José Dirceu? Para piorar, afirmar que os negros foram “libertos por pressão britânica” é desmerecer e jogar no lixo a memória de grandes abolicionistas brasileiros. Cito apenas 3 negros: Luiz Gama, André Rebouças e José do Patrocínio, que agora, por esta interpretação viciosa da história, seriam tão somente “fantoches nas mãos dos ingleses”. Não valeram de nada os esforços de Joaquim Nabuco, Castro Alves e Francisco José do Nascimento, o “Dragão do Mar”? Por fim: quem está por trás da campanha milionária para esta indicação, que obtém apoio de tantas instituições imperialistas e de suas ramificações no Brasil?

Aliás… há poucos dias um youtuber comunista do PCB chamou Lula de “Janjo”. Ao seu lado, outros do campo da esquerda tratam Zanin como um reacionário. Pergunto: quando é que os anti-Lula, os identitáries e a direita, em conjunto e unidos, sairão do armário? Vão esperar para julho?

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Pagar a conta

Oi amor, vamos rachar essa conta?

O galãzinho da Globo disse em uma entrevista para a TV que não acha justa a obrigação de pagar as contas em um encontro com uma garota. Falou também que não se importa de pagar a conta do restaurante para amigos e namoradas, mas que se sente desconfortável com essa expectativa, como se esse ônus fosse obrigatório, e esta atitude seria “o que se espera de um homem”. Obviamente identitáries reclamaram do comentário.

Estranhamente eu vi este mesmo tipo de reclamação vindo exatamente das mulheres durante décadas, e sempre achei uma justa reivindicação. Muitas me diziam que não se importavam de cozinhar e/ou lavar a louça para o marido ou a família, mas se diziam indignadas com a naturalização que se criava sobre essa função, como se esse fosse o papel a ser desempenhado pelas mulheres. Como se ao ver uma pilha de louça suja na pia fosse natural e lógico que a obrigação de limpá-la recaísse sempre sobre elas.

Ora…. serei mais uma vez o “chato da equidade”. Se é possível reclamar de velhas construções sociais incidindo sobre as mulheres, porque seria injusto ou errado que os homens também questionassem seu papel de “pagadores compulsórios”?

Eu tenho a mesma posição em relação às pessoas ou instituições que sempre quiseram me pagar coisas. Nestes momentos eu lembrava das palavras do meu irmão, que sempre dizia: “Tudo que é de graça é muito caro”. Por isso a minha eterna posição rabugenta em relação às indústrias farmacêuticas e seus “presentinhos”. Eu sabia que jamais me dariam uma caneta, um jantar, uma viagem ou o ingresso em um congresso apenas pelos meus belos olhos; ele queriam a minha assinatura nas receitas pois sabiam que eu era a ligação fundamental entre o chão da fábrica de drogas e a boca do paciente. Seus agradinhos serviam para me seduzir a prescrever suas bugigangas, e para isso não titubeavam em me comprar com espelhinhos e miçangas.

Com o tempo eu fui abandonado por todas as empresas de medicamentos, a ponto de nunca mais receber nenhuma em meu consultório – o que me deixou muito orgulhoso.

“Ah, mas você vê maldade em tudo”. Não!!! Vejo a realidade da relação capitalista e me permito enxergar por detrás do meramente manifesto aos sentidos mais grosseiros. Muitas mulheres sacam rápido quando os homens pretendem exercer um poder sobre elas através do pagamento das contas, mas poucas se apercebem como será difícil contornar a situação depois de terem recebido a sua parte. “Ou dá ou desce”, sempre foi o mantra de quem tinha o volante nas mãos. Por trás destas dádivas (dos homens, das mulheres, das empresas, etc.) existe a expectativa de uma contrapartida, e quem se nega a enxergar isso é tolo ou perverso.

Só há uma forma de se proteger: não aceitar nada “de graça” se você desconfia que existe uma clara intenção de receber um “benefício” posterior, caso contrário a sua dívida ficará ativa. Mas, pra não dizer que não falei de flores, muitas vezes existem razões bem óbvias para deixar alguém lhe pagar, como por exemplo uma amiga que sabe que você está mal de grana, ou o namorado que acha que “é a sua vez de pagar”. Não é necessário criar um modelo de absoluta paranoia. No meu caso, quando as pessoas dizem “Deixa que eu pago, você é nosso convidado” eu aceito, porque sei que farei o mesmo quando for a minha vez de convidar.

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