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Em Busca da LUZ

Meu amigo Túlio Ceci Vilaça escreveu sobre o poder e a sedução que existe em construções fantasmáticas de mentes criativas, algo mentiroso e falso mas que é apresentado como “A VERDADE que eles escondem de você”. Tipo, o bordão “Isso a globolixo não mostra!!!”

Sim, entendi e concordo. Tenho um conhecido muito querido meu que, quando adolescente, me falava de teorias conspiratórias sobre quase tudo: de ETs, de ninjas, da China, da “grande conspiração internacional” e do comunismo do dia-a-dia, mas quando você mostrava uma séria contradição a essa arquitetura de causas e efeitos (tipo, “se o STF é de esquerda, porque mantiveram o Lula preso e o impediram até de dar entrevistas?”) ele respondia com uma frase que ficou clássica entre os seus conhecidos: “Isso é exatamente o que eles querem que tu acredite”.

Essa pessoa é muito querida, e eu particularmente gosto muito dela, mas sei que estas crenças são adquiridas em estratos muito primitivos da mente, e não estão sujeitas a análises racionais. É inútil retirar o véu da falsidade para mostrar a verdade que se esconde por baixo, porque a realidade é menos importante do que o desejo. Ou, como diriam os filósofos “o intelecto do homem não é páreo para a sua vontade”.

Eu ainda entendo que a este tipo de vinculação com as teorias conspiratórias, ou a busca de um sentido recôndito, como uma maquinaria superior a coordenar as nossas vidas e através de uma ultra estrutura cósmica que coordena cada um de nossos passos apenas representa o desejo de encontrar sentido no caos, que nada mais é do que uma das mais nobres aspirações humanas.

A diferença é que alguns suportam – com maior ou menos grau de sofrimento – a angústia do desconhecido e das perguntas sem resposta, enquanto outros, por medos atávicos do desamparo, procuram estas respostas de forma compulsiva e irreflexiva, e acabam encontrando nos gurus, nas seitas, nas drogas, nos planos cósmicos mirabolantes e nas teorias conspiratórias mais elaboradas um alívio para este tipo especial de ansiedade.

Oferecer para eles (melhor dizendo, para nós) a saída dessa armadilha do desejo, não será através da ferramenta da razão. Apenas o afeto tem esse poder transformador.

PS: Ahhh, mas não esqueçam que o fato de um sujeito ser paranoico não impede que ele esteja MESMO sendo perseguido. Além disso, a pior de todas as teorias conspiratórias é acreditar que não há nenhuma conspiração.

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Construindo a Maternidade

Menino Sorrindo

A maternidade é uma construção muito mais complexa do que aquela ditada pela biologia. Somos constituídos por um núcleo de medos, fantasias e crenças, cobertos por uma fina camada de intelecto, que nos faz pensar que estamos livres dos perigos ao nos oferecer uma ilusão de controle. Por outro lado, a linguagem nos oferece uma especial posição na criação: somos muito mais do que uma mera carcaça de ossos e tendões recoberta por uma tênue camada de pele.

No que diz respeito ao nascimento, uma criança pode ter sido adotada, nunca ter conhecido seus pais biológicos, até mesmo abandonada sem jamais ter recebido a carga de hormônios adaptativos relacionados com o vínculo, e mesmo assim ser amada, saudável e crescer com felicidade. Exemplos como este são fáceis de encontrar na cultura. Ao mesmo tempo, o presídio está cheio de adultos que nasceram de parto normal, assim como os manicômios estão lotados de mulheres que pariram naturalmente. Não existem linhas retas a nos guiar a trajetória. Se é lícito acreditar nas inúmeras evidências que demonstram a superioridade do parto fisiológico sobre qualquer alternativa cirúrgica, tanto para a mãe quanto para o bebê – e de uma forma abrangente (física, emocional, espiritual, social) – também é verdade que um parto conduzido sob estas diretrizes não é garantia de uma infância feliz ou livre de problemas. A sinuosidade da vida é o que faz dela um caminho a ser percorrido todos os dias, e sem garantias.

Da mesma forma, um nascimento com mais riscos (de toda ordem) ocorrido de forma operatória, pode produzir uma criança feliz e uma mulher plenamente realizada com sua maternidade. Basta para isso reverter as dificuldades que se apresentaram na “porta de entrada”. Se é verdade que reconhecemos a inexistência de determinismo no parto e nascimento, também é certo que valorizamos as evidências comprovando que os riscos diminuem quando adotamos uma conduta respeitosa com a natureza íntima que estrutura o nascimento humano. Se não temos nenhuma garantia como os partos mais dignos, temos a certeza de que esta escolha é a que mais facilmente leva o sujeito a receber a nutrição de afeto que será seu combustível para o resta da existência.

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