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Relativismos

Charge de Larte Coutinho

E o que dizer quando falam que o STF abusou de filigranas e ritos processuais para “forjar” a anulação das condenações de Lula???? Esta turma que agora, oportunisticamente, reclama do STF é a mesma que há poucos anos aplaudia a inação da Suprema Corte quando a bandalheira do “impeachment” rolava solta. É a mesma que aplaudiu o impedimento de Lula assumir como ministro por uma canetada obscena de Gilmar Mendes. Foi a mesma que achou justo impedir que Lula concorresse, mesmo estando preso, e a mesma que soltou foguetes quando Lula foi trancafiado em uma masmorra sem trâmite em julgado. Essa turma de “justiceiros” precisa se definir!!! Afinal, os ritos do processo judicial valem ou não?? Quando forjaram a posse de um apartamento e apressaram os ritos – pulando na frente de 256 processos no TRF4 – aí os ritos do judiciário valiam e estavam corretos para serem usados explicitamente para atingir um “inimigo”. Quando foram mostradas as provas de que o triplex não poderia ser dado pela construtora porque também não era dela (estava alienado à Caixa Federal) aí são apenas detalhes técnicos.

Quando Lula teve suas sentenças anuladas porque foi julgado por um juiz ladrão em conluio criminoso com a promotoria, aí se trata de tecnicismo, “forjando” uma absolvição. É verdade que não foi apenas Moro o juiz corrompido; há também que se responsabilizar os juízes venais do TRF4. Para esses magistrados que romperam com a legalidade – e que igualmente são incapazes de dizer qual o crime cometido por Lula – não deve haver perdão algum. Agiram da forma mais criminosa e premeditada possível. Crápulas. Entretanto, quando ministros do supremo se escandalizam com a ladroagem aberta, descarada, inacreditável e vergonhosa do judiciário – com fartas provas materiais – aí o judiciário erra e usa elementos “meramente formais”

Quando mantém Lula preso por mais de 500 dias, ferindo o artigo 5o da Constituição, apenas para que não pudesse concorrer à eleição – sem provas e por “atos de ofício indeterminados”(!!!) – o judiciário acerta. Porém, quando é libertado por uma TONELADA de evidências de inocência, aí o judiciário está sendo fraco e “meramente técnico.”.

Quando se afirma que a família do presidente manda eliminar uma parlamentar de oposição, que poderia competir pelo Senado com o filho do presidente, aí torna-se necessário comprovar, o que me parece muito justo. Não basta o bandido ter chamado por ele, em sua própria casa, horas antes do crime. Também não basta todo mundo ter visto que a facada que levou o presidente ao hospital é altamente suspeita, é preciso provar. Entretanto, para acusar Lula as provas são desnecessárias, bastam as convicções. Para chamar Lula de ladrão basta a sua impressão, sua vontade, sem evidências, pois para ele e os partidos de esquerda as provas se tornam apenas ……

…. meros tecnicismos.

Existe um lado violento nessa história sim. Produzir uma falsa dicotomia é absurdo. Por acaso os dois lados “nazistas e judeus” eram agressores? “Sionistas e Palestinos” são ambos violentos e produzem massacres? Essa é uma forma fácil de passar pano para a opressão, tentar tapar o sol com a peneira do relativismo. Não há como aceitar que o bolsonarismo, que surgiu sob o signo da violência e da eliminação simples dos adversários, possa ser igualado aos governos de esquerda que jamais tentaram dividir o país entre uma parte que representa o “bem” e a outra o “mal”. Só os fascistas agem assim, só eles acham que a solução do conflito está em matar, “fuzilar a petralhada” ou a simples destruição dos adversários.

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Informações perigosas

Minha tese a respeito das investigações é simples, e tem a ver com os estados psíquicos induzidos pelas informações. Para mim, a comunicação – em especial tudo o que dizemos aos pacientes – também contém riscos. Uma informação inútil pode se tornar algo extremamente perigoso. Por exemplo: quantas vezes atendi partos em que a única avaliação do tamanho do bebê havia ocorrido pela palpação, ou por uma ecografia bem precoce. No dia do parto… tóóóóin, nascia um bebezão de 4.400g. Pois eu pergunto: como se comportariam TODAS as pessoas envolvidas no parto – incluindo mãe, família e equipe – na presença de uma ecografia apontando um bebê de 4800g (imaginando que a ultrassonografia erre por 10%)? Que tipo de resiliência a uma parada de progressão haveria no transcurso do trabalho de parto? Que tipo de paciência haveria diante de um período expulsivo prolongado? Quanto sobraria de confiança a esta mulher e seu companheiro diante da sentença “fatídica” de um bebê “enorme”?

Pois agora respondam o que aconteceria a uma mulher cujas mamas foram “avaliadas” pela sua possível capacidade (ou não) de produzir leite ANTES de estar efetivamente amamentando. Que mulher investiria na continuidade da amamentação diante de uma avaliação “preocupante”? Quem insistiria em um projeto de amamentar com um rótulo grudado no peito dizendo “mamas incompetentes”? Quem se manteria firme ao ver surgir a primeira fissura ou ao ver que seu bebê que não entra na curva de crescimento da pediatra?

Façam o seguinte: avaliem meninos de 15 anos de idade para saber seu o pênis deles vai funcionar adequadamente quando tiverem relações sexuais. Não precisa nem dar nota, basta olhar, examinar e depois coçar o queixo dizendo: “hum, não sei não. Acho que está bom, mas vamos ver”. O que acham que ocorreria?

Eu digo: uma explosão no diagnóstico de impotência. Ou… um aumento vertiginoso nas vendas de Viagra ou até mesmo de tratamentos para aumento de pênis. E talvez UM em 100.00 tivesse realmente um problema verdadeiro relacionado à sua capacidade de ter relações sexuais satisfatórias relacionada ao seu pênis. Desta forma, essas avaliações são semeaduras de insegurança, mas que nenhuma vantagem produzem.

No caso das mamas, se houver uma (raríssima) incapacidade de produzir leite, que diferença faz saber durante o pré-natal? O que esse diagnóstico presuntivo ajudaria esta mãe? O mesmo eu digo das ecografias invasivas e suas informações inúteis, que quase só disseminam pânico, e nenhum benefício. As vantagens para os profissionais e o sistema capitalista nós já sabemos, mas qual a vantagem para os pacientes?

Tetas erradas = bacias erradas. Fazer diagnóstico de ambas “de olhada” é um erro. E esse erro vai transmitir à mulher (mais) uma mensagem de sua longa lista de defectividades culturalmente determinadas. Também vai dar a ela uma excelente oportunidade para desistir na primeira dificuldade. “Afinal, não tenho mesmo passagem, ou minhas tetas são atrofiadas. Para que insistir?”

E mais… “Toda mãe sabe parir e todo bebê saber nascer”. Sim, mas nem todos sabem interpretar essa frase, porque parimos e nascemos antes de termos qualquer consciência disso. Portanto, parir e nascer são coisas que “sabemos” muito antes de termos condições de racionalmente “saber”.

As falhas não ocorrem por falta de “saber”, mas talvez pelo oposto: criar expectativas e racionalizar sobre um fato pulsional e automático, sobre o qual quanto menos a mulher racionalizar, melhor ocorrerá. Uma breve história: conheci um paciente de quase 70 anos no estágio de urologia da residência médica, o qual veio ao hospital para operar uma hipospádia. Isto é; a uretra saía no meio do pênis, para baixo, e não na ponta. Com isso ele urinava para o chão e tinha um pênis muito encurtado.

Enquanto fazíamos a avaliação pré-operatória, meu colega (ingênuo e desatento) lhe perguntou: “Por que o senhor não veio antes? Digo, há muitos anos mesmo. Poderíamos consertar isso e o senhor teria uma vida normal, com filhos e tudo”. Quando ouviu isso o “colono” acostumado com a lida da roça respondeu com o sotaque alemão característico e de forma rude:

“Filhos? Pois eu tenho 6, com 3 mulheres diferentes. E não estou pensando em parar”.

Se alguém tivesse lhe dito que não podia, ou que era insuficiente, talvez não fosse tão fértil. Oferecer ajuda é diferente de induzir anomalias onde ainda não existe nenhum problema real.

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