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Mudanças

Parto CASA

Houve um período no debate sobre o parto humanizado em que se acreditava na possibilidade de “educar” médicos através de uma imersão nas “verdades da MBE”. Muitos colegas se deixaram entusiasmar com essa possibilidade e o Ministério da Saúde protagonizou uma espécie de Caravana da Humanização que se propunha a levar a “boa nova” aos médicos, uma espécie de “Evangelho das Boas Práticas” aos gentios.

O resultado foi, como eu previra, nulo. Zero. Não havia NADA nas evidências científicas capaz de seduzir, quanto mais mobilizar, os profissionais. Os novos regramentos não passavam de ficção aos ouvidos pétreos dos chefes de serviço. “Para que mudar e arriscar-se numa aventura humanizante se não há um clamor audível por mudança? Onde estão as marchas, os cartazes e a legião de indignadas? Se querem uma modificação no modelo, mostrem-me o choro e o ranger de dentes. Caso contrário, não me peçam para trabalhar mais em troca de nada“.  Realmente, a simples confrontação com a realidade das pesquisas é inútil como elemento transformador. Fosse isso suficiente bastaria folhear os cadernos do Ministério da Saúde e transformar radicalmente a sua prática. Todavia, sabemos que isso não acontece.

A única forma de mudar a realidade é transformando a “base”. Somente se as MULHERES forem atingidas e transmutadas pelo discurso da humanização é que poderemos descortinar uma nova realidade. Elas serão as únicas condutoras desta revolução. A nós caberá apenas a nobre posição de coadjuvantes.

Quem almeja protagonismo procure ser cantor de Rock ou Sertanejo. Médicos, parteiras e doulas não brilham, e a eles cabe o lugar de refletir a luz que emana das mulheres. O modelo iatrocêntrico (centrado no médico) em que as enfermeiras são “parte da equipe” nunca teve resultados positivos onde foi implantado (vide EUA). Por que haveria de produzir resultados positivos em um país que não dispões dos recursos imensos para consertar os problemas que ele mesmo produz?

Quando tive a oportunidade de tietar Ellen Hodnett em um congresso no Chile há alguns anos minha única pergunta a ela foi: “Você acredita na possibilidade de educar médicos para que sejam mais humanizados e assim mudar o paradigma do nascimento?

Sua resposta foi curta e simples: “Não, esse modelo se mostrou falho. Não há mais nada que ele tenha a oferecer“.

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