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Vovô

Um debate curioso: mulheres de mais de 60 anos que se ofendem quando chamadas de (ou descritas como) “vovós”. Posso entender que isso pode ser ofensivo quando a mulher não tem filhos (portanto, em geral, sem netos), mas para mim é estranho que alguém se ofenda por ser chamado pelo nome que descreve o mais vitorioso de todos os sujeitos no critério “reprodução”, e na categoria “manutenção dos genes no pool planetário”.

Portanto, talvez antes de questionar a inadequação de chamar as pessoas mais velhas dessa forma seria interessante analisar porque nos dias de hoje isso é considerado ofensivo. Eu pergunto: por quê? Qual o demérito em ser vovô? Antes disso eu igualmente nunca tive problema algum em ser chamado de “tio”, e me orgulho dos meus 30 sobrinhos. Por que ser “vovô” parece ser visto por alguns como um defeito?

Assim, mantenho a pergunta: qual o problema em ser vovó ou vovô? Por que seria demeritório ser chamado dessa forma? No meu caso, a partir do dia que nasceu meu primeiro neto eu assumi a persona “Vovô Ric”, sem nenhum pudor (e eu tinha apenas 52 anos!), até porque o meu grande sonho na vida sempre foi ser avô. Igualmente quando eu me tornei pai não achava ofensivo ser chamado de “papai”.

Essa manifestação de desprezo aos vovôs não seria o real ageísmo?

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Drama no vagão

Entro no metrô em São Paulo na estação da Sé (vim errado para o Siaparto) e observo que os bancos estão todos ocupados. Grudo minha mão no ferro que paira sobre minha cabeça e equilíbrio o corpo quando o vagão arranca de súbito. Encaro as pessoas sentadas cuidando de suas próprias vidas e deixo meu pensamento se esvaziar. Assim, desatento, me assusto ao sentir as leves batidas sobre meu ombro direito e quando volto a cabeça para trás vejo um rapaz corpulento e sorridente apontando para algo ao seu lado. Ainda sem entender, percebo-o insistindo e, só bem depois, me dei conta do desastre que acabara de acontecer.

Ninguém falou nada, não houve protestos, entre os presentes. Todos em silêncio foram cúmplices. O jovem continuava apontando para o canto do vagão e eu, sem saber o que fazer, me encaminhei para lá. Não havia como fugir.

Dois passos adiante vejo o assento azul reservado aos idosos. Sentei-me conformado ao lado de uma senhora. Ao jovem só pude dizer um constrangido “obrigado”, mas tive vontade de esganar sua boa educação e sua absurda gentileza. Tentei explicar, em pensamento, que estou muito longe de merecer esta deferência. Afinal, 6 meses não são 6 dias!!!!

Preferi resignar-me e chorar em silêncio. “Maldita barba branca”, disse eu em pensamento. Pensei que ficar parecido com o Alexandre Frota traria alguma vantagem. Ledo engano!!! A senhora no banco ao lado, ao me ver soluçar, apenas segurou minhas mãos e disse:

– Sei o que voce está passando. Já sofri isso também. Agradeça por ele não ter lhe chamado de “vovô”.

Segui em silêncio fúnebre vislumbrando à frente o lúgubre primeiro dia do resto da minha vida.

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