Game Over

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Um parto é como um casamento: uma travessia cheia de percalços, dificuldades, problemas, atrasos, recuos e vicissitudes de todas ordem. De um nascem as esperanças de uma nova vida; de outro uma parceria que nos oferece a oportunidade de crescimento pelo choque constante com o desejo do outro. Tanto quanto os partos, os casamentos são sempre acompanhados da constante sedução da desistência. Basta olhar para o lado e iludir-se rapidamente com a promessa de uma vida melhor desistindo propostas outrora assumidas. Parece-nos tão simples, tão mais fácil e tão mais adequado fazermos as malas e deixarmos para trás um processo que se desenrolava, mesmo que com toda a sorte de transtornos. A tecnologia das cesarianas e dos divórcios nos ofereceu a escapatória limpa e simples para a troca de planos.

Por outro lado, é certo que existem partos e casamentos que precisam ser cortados à faca, pois que se tornam viciosos e agridem as estruturas emocionais daqueles que dele fazem parte. Para a toxicidade de alguns processos não há paciência que resista e nem lenitivo para a tortura do convívio. Para estes, não há porque insistir em um projeto que pode levar a mais tristeza, dor e sofrimento. Entretanto, cada dia mais fica evidente que a simples desistência diante de pequenas discordâncias e contratempos não soluciona as angústias na maior parte dos casos, apesar das crescentes facilidades. Muitos processos que precisariam de um tempo maior de amadurecimento – para sedimentar cumplicidades, reforçar compromissos e aplacar mágoas – são cortados pelas lâminas vorazes dos bisturis e dos cartórios. Nem todos se beneficiam dessa ação radical, e fica claro que é preciso mais ponderação ao fazer escolhas definitivas.

Uma lástima tanta pressa quando o que mais precisamos é paciência, perseverança e vontade de vencer obstáculos. Partos e casamentos duradouros escassearam no mundo moderno, mas será que isso tornou as pessoas mais felizes?

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Arquivado em Pensamentos

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