É importante que alguns termos normalmente usados sejam esclarecidos para que qualquer debate seja mais produtivo e claro:
- Parto normal: parto pela “norma” fisiológica, isto é, via vaginal.
- Parto natural: parto em que a natureza comanda o processo, sem intervenção técnica ou de linguagem.
- Parto humanizado: partos que ocorrem em uma espécie de mamíferos dotados de razão e linguagem: homo sapiens sapiens. É composto de 3 elementos constitutivos:
- Protagonismo garantido à mulher, sem o qual teremos apenas sofisticação da tutela patriarcal
- Uma visão interdisciplinar, portanto, aberta e abrangente, para analisar e assistir um evento humano e fisiológico, e…
- Vinculação visceral e inquestionável com a Saúde Baseada em Evidências
Portanto a VIA DE PARTO é fundamental, pois é um caminho constitutivo da mãe e do bebê. No dizer de Bárbara Katz Rothman, “Partos não servem apenas para fazer bebês, mas para construir mães fortes e capazes de lidar com os desafios da maternagem.” O parto humanizado é, portanto, um grande capacitador materno, oferecendo à mulher as melhores ferramentas para seu posterior desempenho como mãe.
É importante não confundir esses termos, assim como é fundamental perceber que o fato de mães e bebês terem sobrevivido NÃO É o único valor significativo. Existem muitos elementos importantes no nascimento de um bebê além da simples sobrevivência dele e de sua mãe.
Se é certo que o mais importante é sobreviver – e bem – também é correto dizer que parto NÃO é tão somente “meio”. O que se percebe é que o parto é fundamental para a construção de ambos os sujeitos: o bebê que nasce e a mãe que ressurge. Como um filho adolescente que vai a um show de Rock. Claro que voltar vivo é o mais importante, mas eu certamente perguntaria se o show foi bom, porque existe mais em um show de música do que simplesmente sobreviver a ele.
Experiências humanas podem ser comparadas a um “show”, claro. Um show tem desejo, alegria, gozo, tristeza, começo e fim. E tem morbidade e mortalidade. Uma excelente metáfora. Aliás, o “Show da Vida” não nos lembra algo? Pois é… a abertura era um nascimento. Parto é SIM espetáculo…
Partos recheados de violência são eventos que TODOS deploramos. Dizer que uma cesariana é melhor que “isso” pode ser até verdade (mas ela é sempre subjetiva nos pacientes), mas não pode nos levar a ter um olhar mais condescendente com a abordagem cirúrgica (que tem sabidamente uma morbimortalidade muito maior). Partos violentos devem, pelo contrário, nos fazer combater práticas defasadas e violências institucionalizadas que ainda são a regra na atenção ao parto. “Terceira via” é a solução !!!! Nem cesariana, nem parto violento. Queremos parto de princesa!!!
Quanto à atenção é bom estar atento para o fato de que o médico NÃO faz NADA, preferencialmente, no espetáculo do parto. O parteiro (médico ou obstetriz) PERMITE que o SHOW aconteça no corpo alheio, conforme as determinações fisiológicas escritas há milênios no nosso código genético, agindo APENAS quando a rota do parto se afasta da fisiologia e entra no terreno espinhoso da patologia. Nesse momento, altera-se o protagonismo, e o médico pode fazer seu show (sua arte, suas aptidões) e garantir o bem-estar de mães e bebês. Não se trata, portanto, de excluir as habilidades e capacidades médicas, mas colocá-las apenas a serviço do binômio mãe-bebê, sem uma interferência exagerada e danosa ocasionada pelo exagero de aporte tecnológico.