Ao ver ontem as imagens do batismo de Bolsonaro na Palestina – esse é o verdadeiro nome daquele local – eu fiquei me perguntando qual o real sentido das religiões tradicionais na vida atual. Pergunto isso porque no cenário contemporâneo não há ninguém mais afastado dos valores cristãos – que podem ser sumarizados no Sermão da Montanha – do que as figuras públicas que explicitamente abraçam a religião, como uma bandeira ou uma atividade lucrativa.
Sou cercado de ateus e agnósticos no meu cotidiano, e de algumas pessoas claramente crentes e devotadas a uma filosofia religiosa. Entre elas não consigo perceber nenhuma diferença de caráter ético ou moral. Meu filho é agnóstico e minha mulher é espírita, a entre eles só vejo posturas que valorizam a moralidade e a ética. Nenhuma atitude deles revelaria qual dos dois é o “crente”. Que diferença faz chamar um sujeito nascido há dois mil anos de “Mestre” ou acreditar mas forças da natureza e na importância da fraternidade na prática?
Poucas pessoas se distanciam mais das palavras de Jesus do que Bolsonaro, Malafaia, Feliciano, Everaldo, Edir Macedo e toda essa turma gigantesca de vendilhões do templo e mercadores de indulgências. Não é a toa que se postam junto às facções mais reacionárias da política, as do “boi” – os latifundiários donos de terra – e as da “bala” – os que desejam pena de morte (para pretos e pobres, como sempre) e diminuição da idade penal.
Qual o sentido de mantermos estruturas gigantescas e ineficientes como as grandes religiões se elas são totalmente incompetentes para estimular o pensamento crítico, o crescimento da consciência (social e de si mesmo) e a reforma íntima dos que dela se aproximam?
O batismo de Bolsonaro, teatro bufo retratando uma tragédia nacional, apenas demonstra que as religiões falham espetacularmente em sua tarefa essencial de modificar o homem em direção aos valores superiores da fraternidade e da justiça. Uma farsa, uma mentira e um engodo social, que atinge apenas desesperados; ou espertalhões em busca de holofotes.