Na minha infância e juventude a parte dos filmes que mais me assustava era quando se revelava que o policial – algumas vezes o juiz – era uma figura corrupta e maligna. Manipulava com seu poder pessoas e circunstâncias durante toda a trama, e nunca era possível pegá-lo; afinal, ele era o poder. Ver pessoas com tal nível de poder abusarem de sua autoridade em benefício próprio – seja por dinheiro ou vaidade – me oferecia uma sensação aterrorizante de fragilidade. As figuras de poder que corrompem a sagrada função de nos proteger, por razões mesquinhas e egoísticas, desafiam até nossa capacidade de perdoar, tamanha a violência psicológica de burlar nossa confiança.
Escrevo isso porque a mesma sensação tenho quando vejo médicos escrevendo textos violentos, agressivos, desrespeitosos, homofóbicos, sexistas ou simplesmente cruéis nas redes sociais. A mesma sensação de fragilidade diante dos poderosos e a tristeza de ver uma função social tão delicada sendo deturpada. Como admitir que os profissionais que nos acolhem nos momentos mais delicados, de dor e sofrimento – mas também de alegria e júbilo – possam expressar tanto preconceito e arrogância, distribuindo julgamentos sem nenhum constrangimento? Pior, sem sequer tentar entender os contextos e circunstâncias que levaram pessoas tomar atitude e fazer escolhas sobre sua saúde.
Médicos, juízes, policiais e políticos precisariam estudar filosofia e psicologia desde muito cedo em sua formação, muito antes de aprender as leis ou a anatomia humana. Sem estes conhecimentos fundamentais, e a atitude ética que se produz a partir deles, podemos criar monstros e algozes brutais.
Alguns deles já são facilmente encontráveis em nossas redes sociais.