Falsos brilhantes

Eu não sou brilhante, por certo, e jamais chegarei perto disso. Entretanto, nunca encontrei um professor ou um colega de faculdade que merecesse esse nome. Em minha vida fui cercado de medíocres, alguns bem-intencionados e dedicados.

Mas vejam; não falei em excelentes ou bons; falei em brilhantes. Meu conceito de brilhante é muito diferente do que trabalhar no exterior ou entrar nas melhores universidades. Nem mesmo ser culto ou inventivo. Meu conceito de “brilhante” está bem fora desse espectro. Muitos que nós descrevemos como “gênios”, “especiais” ou “fora de série” são basicamente sujeitos que fizeram o que se espera de um profissional normal usando os inúmeros privilégios que recebeu da vida.

Aliás, o brilhante, via de regra, passa despercebido. Ninguém o reconhece como tal; quando se faz notar é para ser perseguido, porque via de regra está fazendo ou dizendo algo que seus iguais não querem fazer ou ouvir. Ignaz Phillip Semmelweis, Nietzsche, Freud, Darwin e Marx jamais foram agraciados com prêmios e condecorações pelo trabalho inovador que realizaram, o qual produziu profundo impulso na ciência; pelo contrário, foram todos – sem exceção – vítimas do preconceito.

Ignaz Phillip foi expulso de Viena pelo crime de estar certo sobre as mortes puerperais; Marx passou fome enquanto mudava o mundo ao seu redor, Darwin foi excomungado e passou anos trancado em seu quarto (como Galileu e Espinoza); Freud foi renegado e humilhado pelos idiotas da corporação de Viena enquanto Nietzsche era expulso de Heidelberg pelas suas ideias inovadoras.

Todos foram verdadeiramente brilhantes, e a prova disso é o fato de ainda os citarmos, mesmo depois de mais de um século ter se passado desde que aqui chegaram. Todavia, nenhum dos seus contemporâneos a quem muitos chamaram de “geniais” – mesmo sendo medíocres – deixaram seus nomes na história. Ninguém conhece o bispo “genial” que perseguia Darwin, o reitor que expulsou Nietzsche, o médico que cuspiu em Freud, o capitalista que escarnecia de Marx ou o diretor (Dr Klein) que mandou Semmelweis de volta para Budapeste para lá sucumbir à loucura.

E a razão para isso é simples: o verdadeiro gênio passa incólume pelo nosso olhar. Só as falsas luzes brilham para aqueles que, como nós, só enxergam o que lhes seduz. O ser verdadeiramente brilhante só tem seu brilho reconhecido muito depois de nos deixar.

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