
Não passem pano para seus mitos espíritas…
Acho curioso quando surge esse tipo de argumento: “sim, Moro é um juiz corrupto e Dalanhol cometeu crimes como promotor, mas, mas, …. quem pode falar qualquer coisa contra esses combatentes corajosos contra a chaga da corrupção no Brasil???“
Ora… o trabalho de Chico e Divaldo deve ser reconhecido pelo seu valor, mas o fato de serem dois notórios reacionários deve ser dito e exposto, até para retirar a aura de divindade que carregam.
Querem mais? Passei a infância lendo Monteiro Lobato, um racista e eugenista asqueroso. Valorizo seus livros infantis e deploro seus preconceitos. Humberto de Campos era um racista nojento e grande cronista. Fernando Pessoa, ele mesmo, nutria profundo desprezo pelos negros e foi o maior poeta da língua portuguesa. John Lennon era um perverso e sádico. David Bowie pedófilo, assim como Simone Beauvoir nos anos 60. Todos humanos e falíveis, alguns com máculas morais terríveis. Não passo pano para nenhum deles, e ainda assim separo o autor da obra.
Chico e Divaldo apoiaram regimes de força. Foram coniventes com as ditaduras de outrora e com o golpe juridico-midiático de agora. São golpistas com um pezinho no autoritarismo e na ditadura. Divaldo exaltou publicamente um juiz criminoso que combinava sentenças secretamente com a promotoria.
Ambos poderiam ter ficado quietos, mas deixaram claro seu apoio à brutalidade da direita nesse país.
“Ahhhh, mas e os livros, a Mansão do Caminho, as palestras?” É curioso quando trazem esse argumento pois é o mesmo argumento usado pelos milicianos. Eles esperam ser desculpados pelas assistência oferecida aos pobres e pelas benfeitorias que realizam nas favelas que comandam (a ferro e fogo). Pablo Escobar, os donos de Escolas de Samba e os barões do jogo do bicho sempre agiram assim. Sei que a comparação é dura, mas não comparo as figuras e sim a lógica usada para passar pano em seus erros. Não tem como usar a obra de Chico e Divaldo como blindagem para sua vinculação clara com o ditadura de 64 ou os crimes terríveis desse magistrado corrupto que envenenou a democracia no Brasil.
Blindagem de espíritas? O mesmo que faziam com os crimes de papas, suas orgias e lambanças da Igreja.
Para finalizar, eu não reduzo essa dupla de mitos espíritas às suas opções políticas autoritárias ou a exaltação de corruptos como heróis nacionais. O trabalho deles, para os que creem, ultrapassa esse limite. Entretanto, exatamente pela importância que eles tem, não há como perdoar e desviar o olhar de sua vinculação com a barbárie e o atraso do nosso país.