
Alguns ataques pelas redes sociais a personagens ligados ao movimento do parto humanizado se referem a um velho ranço da turma da humanização do nascimento com a presença de homens nas suas fileiras. Essa mescla contemporânea de humanização + feminismo abriu as portas para esse tipo de rejeição. Sofri isso de forma velada desde o primeiro post que publiquei na Internet há mais de 20 anos, e vejo isso até hoje (o que me garantiu o recorde mundial de blocks: mais de mil). Evidentemente que eu não posso dizer que tal circunstância é “culpa” do feminismo, assim como as cruzadas não foram culpa do cristianismo – muito menos do próprio Cristo. Entretanto, o uso inadequado do feminismo como projeto de silenciamento do masculino – em todos os níveis – é o parefeito de um projeto que, por sua origem, deveria promover a escuta de todas as vozes, sobrepujando em definitivo as barreiras de gênero.
A rejeição aos homens no debate sobre o nascimento sempre foi um fato muito evidente para mim, expressando-se através de uma constante desautorização e pelo desmerecimento de falas. Essa questão deveria ser abertamente debatida, se é que o movimento de humanização se deseja plural e aberto, e não um mero braço do movimento feminista mais radical.
Se é verdade que os homens estão alijados de falar DE parto, pois que anatomicamente estão impedidos a isso, (e aqui não vou tratar da questão trans), nada os impede de falar SOBRE o parto e por cima de suas experiências profissionais e/ou pessoais com o evento. Calar a voz de especialistas em parto como se sua masculinidade fosse um defeito é um ato criminoso.
Acho também que essa é uma questão menor, por certo, mas que vejo como importante de ser tratada nesse ambiente restrito. O mais importante no atual momento é o estrelismo, que mais uma vez nos acomete. A exaltação de egos, dos Messias da ciência, de salvadores e de “mensageiros da verdade científica” está produzindo uma autofagia absolutamente inútil e desnecessária. Ao invés de reconhecermos a nossa fragilidade diante de uma pandemia sobre a qual MUITO POUCO OU QUASE NADA sabemos ficamos destruindo reputações on line, atacando colegas e mandando “indiretas” como adolescentes.
Sei que essa minha opinião não é compartilhada por muitas pessoas, e boa parte chamará esse desabafo de “mimimi“, curiosamente a mesma expressão usada secularmente para as ilustrar queixas justas das mulheres a respeito dos abusos sobre elas cometidos. Não esqueçam que os ataques misóginos contra a presidenta Dilma foram tratados com o mesmo desdém, chamados de puro chororô de perdedor. Entretanto, também é importante olhar com os olhos dos milhares de homens que trabalham com o parto, de enfermeiros, obstetras, parteiros e pediatras que gostariam de participar desse debate, mas que são afastados dele pelos constantes ataques – por vezes sutis, muitas vezes indiretos – mas que na emergência de crises como a de agora se tornam explícitos, duros, incoercíveis e até cruéis.
Paz…