Eu vejo uma certa perversidade social que se expressa no tal de “outing”. Hoje, manter-se reservado quanto à sua (homos)sexualidade parece um ato de covardia e um elogio à mentira. Ao mesmo tempo que admiro as pessoas que bravamente assumem de forma pública e desabrida sua orientação sexual e – mais penoso ainda – sua identidade de gênero, não posso aceitar que estas declarações se transformem em imposições sociais que, muitas vezes, até agravam os casos de culpa e depressão, ao invés de liberarem o sujeito. Se eu creio que a vivência da sexualidade livre só pode ocorrer a partir de escolhas livres, a exposição de sua intimidade só poderia acontecer pela mesma via.
Quando vejo cobranças sobre a “transparência” dos gays (atores, atrizes, políticos e pessoas comuns) eu sempre imagino que aqueles que “oprimem pela obrigatoriedade” da exposição (mesmo se dizendo parceiros na luta) em verdade deixam claro que: “se você quer usufruir deste gozo, então pague a nós o preço de gozar onde nos é interditado”. A cobrança diz muito mais de quem cobra do que daquele de quem cobramos…
A maioria dos gays e lésbicas que conheci queriam apenas curtir sua sexualidade sem constrangimentos, e não ser um “banner de arco-íris ambulante”. Ser reservado em relação à sua vida mais íntima é um direito pelo qual deveríamos todos lutar.
Armário é um espaço que só deveria ser aberto por dentro… o resto é violência.
(A partir de uma provocação de Diana Hirsch)