É um erro (ou oportunismo) difundir a ideia de que nós estamos “dicotomizados” agora; de um lado a “extrema esquerda” (o PT) e do outro a “extrema direita” (o bolsonarismo). Está se tornando corriqueiro um discurso patético que tenta colocar a esquerda como antípoda do bolsonarismo, como se fossem as duas faces da mesma moeda do extremismo. O ápice dessa perspectiva veio hã poucos dias quando parte da mídia corporativa anunciou que o ato terrorista – onde um bolsonarista fanático atirou e causou a morte de um petista – foi decorrente de uma “troca de tiros”. Seria o equivalente a noticiar que Israel “troca agressões com os militantes Palestinos”.
Durante anos o PT disputou com o PSDB – um partido de direita – a hegemonia da nação. De um lado FHC, Alckmin, Serra e Aécio pelo PSDB e de outro Lula e Dilma pelo PT. Nesses sucessivos embates o PT foi vitorioso em todas as eleições limpas deste século, mas exatamente por isso foram necessários golpes – com o STF com tudo – para evitar que uma nova vitória ocorresse na última eleição presidencial. Entretanto, o caso mais grave de agressão nesses anos todos foi uma bolinha de papel que levou o candidato José Serra para um hospital para fazer uma tomografia cerebral.
Até a derrota de Aécio em 2014 nunca houve relatos de mortes, assassinatos, ameaças à democracia ou golpes. Foi com Aécio que se abriu a caixa de Pandora do fascismo, quando o candidato derrotado disse (na verdade ele prometeu) que o “PT não ia governar” e que eles boicotariam toda e qualquer possibilidade de governabilidade. Depois dessa manifestação – a semente do mal – vieram os golpes sucessivos. Primeiro o impedimento de Lula virar ministro, depois o golpe contra Dilma, em seguida a prisão ilegal de Lula, seu impedimento concorrer, a facada falsa, a ausência de Bolsonaro nos debates e a eleição deste fascista. Tudo isso a mando dos Estados Unidos para nos roubar empresas estatais estratégicas como Petrobrás, Eletrobrás, e Embraer, assim como para acabar com as empreiteiras multinacionais brasileiras e a indústria naval.
Enquanto não havia fascismo no governo a “dicotomia” estava confinada às ideias e ninguém temia ser morto ou ameaçado por pensar diferente. Tudo isso mudou com a chegada dos milicianos ao poder, inaugurando a barbárie e o vale tudo. Já não há mais “dicotomia” entre partidos e ideias como outrora; a diferença de hoje é entre civilização e barbárie, Estado ou milícia.
E agora o presidente fascista diz que a população deve se armar para dar tiros em nome de Cristo, para proteger a propriedade privada acima da vida humana, e para garantir que os ricos fiquem cada vez mais ricos…. e que os pobres continuem a sustentá-los.