
O problema do adoecimento ao contrário do que muitos acreditam, não é dos cirurgiões ou dos clínicos; será sempre do sujeito doente. Foi ele quem o fez, quem o construiu; também quem o albergou e acalentou, às vezes por anos a fio. A negação sobre a responsabilidade das doenças pode servir de proteção para o psiquismo, em especial para quem está desconcertado diante da perspectiva da morte, mas não passa de ilusão. As doenças são construções do sujeito, obras que ele mesmo realiza no sentido – por vezes desesperado – de alcançar equilíbrio.
As enfermidades não são o “desafio dos médicos”, mesmo que deles dependa o tratamento e, algumas poucas vezes, até a eliminação dos sintomas. Alienar-se dessa responsabilidade apenas atrasa a compreensão dos sentidos últimos da enfermidade por parte dos enfermos, assim como de sua imensa potencialidade transformadora.
Ao dizer isso nada mais faço do que uma contestação à ideia prevalente de que a resolução dos problemas da saude repousa no outro, quando na verdade a doença é uma construção subjetiva. Por certo que os fatores ambientais adoecem o sujeito, porém o ambiente é também uma construção dos sujeitos sociais e só eles podem modificá-lo, não uma força mistica externa a eles. Assim, a responsabilidade pela saúde será sempre dos sujeitos através do cuidado próprio e de sua ação na sociedade.
Esther Ackerman, “Silente Healing” (Cura Silenciosa), ed. Chamonix, pág 135
Esther Ackerman é uma neurocirurgiã nascida em 1976, formada por Princeton e que fez residência médica na Case Western Reserve University, em Cleveland. Durante a gestação de sua segunda filha foi diagnosticada com leucemia e, na época, foi aconselhada a realizar um aborto para iniciar de imediato seu tratamento. Diante da negativa de começar o protocolo medicamentoso antes do parto ela mantece a gestação e, meses após, nasceu Victoria, uma criança saudável porém prematura, que precisou ficar alguns meses internada para ganhar peso. No período que se seguiu ao parto começou seu tratamento para o câncer, ao mesmo tempo em que dava suporte à sua filha recém nascida. Abandonou por dois anos a prática de consultório para se dedicar a estas tarefas e quando sua filha já estava estabilizada, e ela mesma livre do câncer, escreveu “Silent Healing”, onde descreve o turbilhão de emoções que surgiram com a gravidez, o câncer, a internação da filha prematura e o tratamento para sua doença. Seu livro mistura uma abordagem subjetiva do “precipício emocional” no qual foi jogada pela ocasião do seu diagnóstico, mas também uma análise muito objetiva das trajetórias possíveis que se oferecem às pessoas que se encontram diante de escolhas dramáticas. O livro recebeu o “Medical Writers Award” e foi posteriormente adquirido pela Paramount para se transformar em filme, com filmagens programadas para iniciar em 2024, com Sandra Bulock no papel de Esther. Mora em Boston com seu marido Samuel Hodgkin e as filhas Priscilla e Victoria.