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Buracos da Memória

Foi o sobrinho de Freud, Edward Louis Bernays, quem dizia no início do século passado que “somos controlados, nossas mentes são moldadas, nossos gostos são formadas e nossas ideias são sugestionadas”. Também foi ele o primeiro que entendeu a importância da propaganda na criação do que passou a ser chamado de “Consenso Manufaturado”, um conceito primeiramente criado por Walter Lippmann em 1922 e posteriormente disseminado pelo intelectual americano Noam Chomsky. Não é admissível desprezar décadas de propaganda violenta que, junto com os aparatos de repressão do Estado, tentam evitar a explosão inevitável da barragem produzida pelas lágrimas de milhões de excluídos pelo capitalismo. Propaganda e Estado policial; Publicidade e Forças armadas a serviço do Império.

Hoje vemos a adesão inacreditável da mídia imperialista da América do Norte, da Europa e até do Brasil (em especial a rede Globo) à luta contra a “ameaça russa”, retirando das tumbas o macarthismo dos anos 50, adaptando-o às exigências das redes sociais e da velocidade da informação. Para tanto, a publicidade oficial das nações ocidentais – movidas pelo interesse americano e pelo acadelamento das nações europeias – tenta nos fazer apagar o passado nazista da Ucrânia – Stepan Bandera, a iconografia nazi, os monumentos, as execuções de judeus, o Batalhão Azov e tantos outros fatos que ligam este governo ao seu passado recente. Toda essa obliteração da memória é construída para justificar a aliança das nações do mundo ao governo golpista de Zelensky, um comediante medíocre, notório corrupto e que nos últimos meses fechou 12 partidos de oposição – incluindo o partido comunista da Ucrânia – usando como desculpa o conflito no Donbass. Imaginem se Vladimir Putin, que é um autoritário direitista, proibisse a existência de partidos da oposição ao seu governo (incluindo aí o Partido Comunista da Federação Russa) usando a mesma desculpa: “Ora, estamos em guerra!!”. Como seria tratado pelo ocidente? Ora, no mínimo “ditador sanguinário”…

A propaganda, usada de forma científica, é uma das mais importantes ferramentas de dominação e isso pode ser atestado facilmente hoje em dia, bastando olhar para os fatos recentes da geopolítica. Os eventos que se seguiram à derrubada das Torres Gêmeas e que culminaram na guerra contra o Iraque são “cases” de propaganda, meticulosamente utilizados para moldar a opinião pública com o objetivo de criar o engajamento de uma nação para a destruição de outra. Milhões de pessoas morreram nessa aventura, e o que se pode observar pelas inúmeras mentiras contadas à época (as armas de destruição em massa, os ataques de Antraz, etc…) é de que havia um esforço de inteligência para que, antes da guerra dos tiros de artilharia, fosse vencida a guerra da opinião pública. Na atual guerra da Ucrânia o mesmo tipo de “guerra midiática” pode ser observada, em especial as fraudes sobre “massacres”, técnica igualmente utilizada na Síria há pouco tempo.

No célebre livro “1984” George Orwell descreve as dezenas de milhares de incineradores chamados “Buraco da Memória” nos corredores do edifício do Ministério da Verdade, onde o protagonista Winston Smith trabalha. Nele são colocados os documentos que não mais interessam ao governo atual, apagando as histórias, relatos e contradições existentes, para não criar constrangimentos para a nova direção do país.

“Destinava-se ao desembaraço de papéis servidos. Aberturas idênticas existiam aos milhares, ou às dezenas de milhares em todo o edifício, não apenas nas salas, como a pequenos intervalos, nos corredores. Por um motivo qualquer, haviam sido apelidados de buracos da memória. Quando se sabia que algum documento devia ser destruído, ou mesmo quando se via um pedaço de papel usado largado no chão, era gesto instintivo, automático, levantar a tampa do mais próximo buraco da memória e jogar o papel dentro dele para que fosse sugado pela corrente de ar morno, até as caldeiras enormes, ocultas nalguma parte, nas entranhas do prédio.” (1984, George Orwell)

Hoje existem milhões desses buracos espalhados por todo o mundo, mas não estão confinados aos prédios de um governo absolutista. Sequer precisam ficar restritos à criações literárias de futuros distópicos. Eles são, em verdade, controlados pelo poder econômico e atendem pelo nome de “imprensa corporativa”, que nos fazem apagar as mazelas e os horrores do passado apenas para que não sirvam de constrangimento para nossos interesses atuais. Claro que através destes buracos não passam apenas o passado obscuro e criminoso de quem agora defendemos; passa também nossa ética, nosso amor à verdade e nossa dignidade.

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Guerra de versões

Antes de adotar um lado de qualquer de matérias tão importantes é essencial situar-se e ver como as informações são produzidas. O que vem da Síria, Coreia do Norte e mesmo Cuba é filtrado por agências de notícias com claras vinculações com o poder econômico internacional. As notícias da Coreia até hoje, e as do Iraque antes da invasão, são exemplos claros do quanto é possível mentir sobre um país inteiro. Quem lembra do Antrax e das armas de destruição em massa? Pois estas desculpas absurdas foram usadas para justificar à opinião pública o massacre sobre um país soberano.

Na Síria de hoje podemos ver “crianças recicladas” sendo tratadas como “novas vítimas” pelos “Capacetes Brancos” para produzir a comiseração internacional e modificar a percepção ocidental da barbárie da guerra. Pode-se ver isso claramente nos inúmeros vídeos sobre o tema. É importante notar que em 2014 houve eleições nas quais Assad foi o vencedor. Portanto, esforçar-se pela deposição de Assad – como é o desejo americano – é correr o grave risco de repetirmos Iraque, Afeganistão e Líbia, onde a intervenção produziu mais miséria, destruição e o controle americano dos recursos, mas às custas de milhares de mortes de civis.

Em qualquer sociedade é necessário que haja pessoas que desafiem o senso comum, procurem visões alternativas, desconfiem dos poderes constituídos e lutem por perspectivas múltiplas e democráticas para os eventos. Não existe verdadeira liberdade quando somos atraídos por uma única narrativa e nos seguramos a ela como se ela fosse “A Verdade”. Os exemplos de fraudes internacionais patrocinadas por grandes nações são incontáveis.

No Brasil o simples convencimento das seis famílias de controladores da grande mídias é suficiente para garantir uma versão particular da história como hegemônica, por mais absurda que ela possa ser. A farsa do triplex do Lula e as escutas de uma presidente eleita sendo divulgadas na grande mídia seriam suficientes para demonstrar a falácia da “liberdade de imprensa”. A confissão de Boni, com 20 anos de atraso, da vergonhosa manipulação do debate presidencial Lula-Collor poderiam botar uma pedra sobre a questão, mas a ilusão de democracia de meios se mantém mais pela nossa fé do que por qualquer evidência. As versões filtradas da guerra da Síria, assim como qualquer outra, mostram que um conflito como esse produz narrativas controladas estritamente pelos poderosos, sendo que só conseguimos alguma visão diferente através da garimpagem criteriosa de descrições alternativas. Nem sempre podemos tê-las, mas quando as encontramos podemos descortinar uma realidade, via de regra, antagônica à versão oficial.

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