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O abandono do macho

Lee Van Cleef, em “3 Homens em Conflito” (1966), o protótipo perfeito do “homem mau”…

Hoje escutei de novo a frase: “Nem todo homem, mas sempre um homem”….

A ideia é de que, sempre que um fato ruim ocorre na sociedade – que envolva violências ou abusos – haverá um homem envolvido. Sim, alguns homens não são perversos, abusivos ou malignos, mas na malignidade e na perversão sempre haverá um macho envolvido. Os homens são a raiz e a fonte de todos os males, a violência, a perversão e o horror.

Sabem por quê? Porque as pessoas que usam essa frase com o propósito de atacar os homens acreditam piamente que as mulheres não cometem erros graves, não produzem crimes e jamais têm atitudes perversas. Devotam uma fé inabalável na perspectiva de que pessoas oprimidas são moralmente superiores aos seus opressores.Para estas pessoas existem diferenças espirituais entre os sexos, e os homens se encontram em um plano inferior em relação às mulheres. Pense nisso quando alguém acusar os homens de machistas. Sim, porque o machismo é a “crença de que os homens são – para além das diferenças físicas – moral e intelectualmente superiores às mulheres“; porém, essa perspectiva de mundo é combatida por todas as pessoas que desejam um mundo equilibrado, com justiça e equidade. O machismo é a ideologia que tenta sustentar um sistema baseado na opressão.

Agora pergunto: por que deveríamos aceitar quando alguém afirma que os homens são moralmente e intelectualmente inferiores às mulheres? Por que achamos que tal acusação deveria ser tratada de forma diversa? Por que achamos que é justo passar pano para estas atitudes sexistas? Que tipo de sociedade desejam aqueles que consideram todos os homens – e não apenas aqueles que cometem erros e crimes – como se fossem inferiores, malévolos e perversos – os famosos “estupradores em potencial”?

Atentem para o fato de que tratar os homens (metade da população mundial) como os inimigos do progresso e da justiça fez com que o homem branco, cis, hétero e de classe média (a descrição do vilão contemporâneo) se refugiasse nos movimentos de direita – e até no fascismo. Isso porque foram tratados pelos identitários (que invadiram os movimentos de esquerda) como os inimigos, como o “problema” a ser resolvido na sociedade. Para estes grupos – criados nos laboratórios e “think tanks” do partido Democrata americano – o que existe de errado nas sociedades contemporâneas é o homem e sua visão de mundo. Mais do que o patriarcado, é a masculinidade que espalha o mal pelo planeta. “Fossem as mulheres a governar seria tudo diferente“, o que é um exemplo clássico de idealismo, pois que nenhum exemplo existe para nos mostrar as diferenças morais e de competência entre as mulheres que ocuparam posições de poder.

O que faziam tantas mulheres – e de todas as cores – nas manifestações que exigiam a volta da ditadura – em 1964 e agora mesmo nos piquetes bolsonaristas? Como se comportaram as mulheres quando alcançaram o poder? O que dizer de Margaret Thatcher ou Madeleine Albright – responsáveis pelo aniquilamento dos trabalhadores ou pela morte de milhões de árabes nas invasões imperialistas? “Essa é uma pergunta difícil. Mas, sim, achamos que valeu a pena”, disse a ex-secretária de Estado norte-americana Madeleine Albright, quando, em 1996, lhe perguntaram sobre a morte de 500 mil crianças no Iraque. Já a Dama de Ferro teve sua morte comemorada por multidões na Inglaterra. A políticas neoliberais desta senhora resultaram na destruição de 20% da indústria inglesa entre os anos 1979 e 1981, maior até que o estrago na indústria causado pela força aérea alemã na II Guerra Mundial, resultando em mais de 3 milhões de desempregados. Esses simples fatos se chocam com a visão do “homem mau e perverso“, ou da famigerada expressão “sempre eles“.

Coloquem homens e mulheres, dotados de uma visão burguesa no controle de suas sociedades, e não haverá como reconhecer-lhes o gênero apenas avaliando suas ações. Não parece que existam tantas diferenças assim como alguns querem nos fazer crer; o que fica claro é que esses desvios de caráter não atacam apenas o cromossomo Y. Por esta razão simples, as esquerdas precisam urgentemente se reciclar nesse aspecto, trazendo os homens para – junto com as mulheres – criar uma sociedade mais equilibrada e justa. Abandonar o discurso identitário, de defesa das questões de gênero acima da luta de classes, é uma urgência. Rechaçar os homens do debate das esquerdas está na gênese do aparecimento do maior ícone contemporâneo dos homens ressentidos: Jair Bolsonaro. Todavia, muitos daqueles homens que se uniram a esta corrente de rancor e fanatismo poderiam ser recuperados não tivessem sua condição masculina tratada como defeito ou danação por aqueles que, na esquerda, se consideram progressistas.

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Mansplaining e outras aberrações

Houve na manchete sobre a treta de Felipe Neto e Tábata uma clara confusão entre “mansplaining” e “manterrupting“. Mansplaining é quando um homem explica uma coisa para uma(s) mulher(es) usando a retórica que se usava nos anos 40 ao explicar futebol (tipo, impedimento) para elas. Isto é: partindo do princípio de que, por serem mulheres, não vão entender. Como se a condição masculina lhes oferecesse uma clarividência maior sobre temas específicos – tipo política, futebol, tecnologia, etc.

Está é, inequivocamente, uma prática machista, preconceituosa e indevida usada contra mulheres, mas que também pode ser usada contra outras pessoas como expressão de arrogância. Por exemplo: “entendeu ou preciso desenhar?”, é uma forma de responder aos comentários de forma petulante e ofensiva, embora sem o componente machista.

Já o “manterrupting” é interromper a fala de uma mulher apenas POR SER mulher. Isto é: impor sua condição masculina para interromper a manifestação de uma mulher sobre determinado assunto, seja por concordar ou por discordar. O que Felipe Neto fez poderia ser considerado “mansplining“, mas evidentemente que não se pode fazer “manterrupting” por meios eletrônicos. Aliás, ao meu ver ele não fez nenhuma das duas.

Por outro lado eu proponho que estes anglicismos HORROROSOS do vocabulário feminista sejam abolidos e trocados por suas variantes mais simples e que respeitam o nosso idioma. Boa parte da confusão do texto acima se deve a isso. Por que não “explicação machista” ao invés de “mansplining” ou “interrupção machista” ao se referir ao “manterrupring”? Até porque, não são os homens (man) que o fazem, mas um subgrupo dos homens: os machistas e os chauvinistas.

Ops, aqui um galicismo, pois o termo deriva de Nicolas Chauvin, um soldado do Primeiro Império Francês sob o comando de Napoleão Bonaparte que, demonstrado enorme fervor patriótico, retornou aos campos de batalha mesmo tendo sido ferido por dez vezes durante os combates em defesa da França. Por essas vias tortas da linguagem o patriotismo e a bravura de Nicolas acabaram sendo ligadas ao machismo e se tornaram sinônimo de atitudes sexistas.

Quanto a Tábata… o que esperar de uma menina deslumbrada com seu sucesso inicial e que se originou dos Think Tanks liberais do Sr. Lemann? Erro mesmo é acreditar nessa representação identitária como garantia de pensamento progressista. A diferença de Tábata e Joice é que a segunda sempre foi abertamente reacionária e mentirosa, e a Tábata veio como uma capa de doçura e candura que seduziu por algum (pouco) tempo os menos avisados.

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