É inacreditável a persistência do espírito lavajatista no seio da esquerda. A ideia absurda de que se reforça a democracia oferecendo (ou aceitando) poderes absolutos ao judiciário precisa ser extirpada das mentes brasileiras, em especial dos progressistas. Democracia se faz com parlamento e com liberdade irrestrita de expressão.
Onde está na constituição que criticar – até com certa violência verbal – é crime? Qual parte da nossa carta magna fala que não se pode exigir a dissolução do STF? Onde está escrito que o STF regula a liberdade de expressão? Onde, na fala do Rui Costa Pimenta ou do PCO, existe conspiração ou ameaça? Onde está a materialidade de qualquer crime? Onde na constituição de 1988 existe impedimento à livre manifestação de opinião?
Será que está esquerda liberal não percebe o lavajatismo que defende? E, por favor, parem de utilizar como defesa o famigerado “paradoxo da tolerância”. Trata-se de uma tolice criada por um liberal de direita anticomunista – Karl Popper – que usou esse raciocínio para atacar o socialismo. Para ele a censura seria lícita para atacar os válidos e justos anseios populares de equidade e justiça social!!!
Quem defende a atitude do ministro careca não aceita a constituição de 1988!!! Quem aceita censura não é democrata, e quem despreza a democracia e a irrestrita liberdade de expressão é cúmplice do bolsonarismo e do lavajatismo. Não reclamem quando isso se voltar fatalmente contra os pobres, negros e movimentos populares.
Ver tolos no espectro da esquerda liberal aplaudindo a censura do ministro do Temer-PSDB sobre a livre manifestação das opiniões e pontos programáticos do Partido da Causa Operária é uma expressão bem clara das falhas ideológicas que ela carrega. A esquerda precisa ultrapassar sua visão pequeno burguesa punitivista e à reboque de ditadores de toga.
Aliás, nós avisamos isso quando dos ataques ao Monark e ao Daniel. Também foram eles vítimas da ditadura das opiniões criada pelo STF, mas criticar o abuso de autoridade da suprema corte contra eles soava aos ouvidos da esquerda tosca como uma concordância com a visão reacionária e golpista destes personagens da direita. Ao invés de pensar nos princípios a esquerda liberal preferiu adotar o oportunismo suicida, fazendo eco aos ataques contra nossos adversários.
Fomos tolos; a obliteração da liberdade de expressão mais cedo ou mais tarde recairia sobre a esquerda, sobre os socialistas e no colo dos progressistas. Ela está vindo mais cedo do que esperávamos – muitos acreditavam que essa arapuca viria apenas no governo Lula.
Pois agora como vamos defender a plena garantia da constituição e a defesa da liberdade de expressão se anteriormente tivemos uma posição oportunista, acreditando numa diferença visceral entre Bolsonaro e o ministro do Temer? Colocar este ministro – ou o judiciário – como escudo de defesa da democracia é um erro, principalmente pela história de ataques a democracia que o STF sempre teve. Eles foram peça essencial em todos os golpes contra a democracia no Brasil. Apoiaram o golpe de 64, a deposição absurda de Dilma, o impedimento de Lula ser ministro e a sua prisão ilegal, inconstitucional e cruel. É um erro confiar num poder não eleito, em especial no ministro que só chegou a esta posição por um golpe de estado juridico-midiático.
Precisamos renovar o pensamento de esquerda, livrando-nos do ranço violento, antidemocrático, punitivista e inconstitucional. Estaremos incondicionalmente ao lado do PCO e com o direito irrevogável de livre expressão.