
Por que as pessoas evitam ao máximo consultas médicas?
O problema é o choque hierárquico, o saber que se faz autoritário de um sujeito sobre o corpo de outro. Também tem a ver com a insensibilidade com o sofrimento do paciente causada pelo afastamento afetivo característico da medicina. Esta distância, por fim acaba por obliterar a empatia que deveria fluir em todo encontro interpessoal.
A impotência que o paciente é levado a sentir, na medida em que suas perspectivas são frequentemente negligenciadas, é algo que dói no corpo, e portanto retarda a chegada ao profissional, o que obstrui muitos tratamentos. E não é por negligência com a própria saúde, mas por um mecanismo bem compreensível de defesa.
Nesse terreno os homens são muito mais afetados porque na cultura patriarcal abrir mão da autonomia sobre o próprio corpo é muito mais grave quando se trata do corpo masculino.
Não creio que a mudança deve partir dos pacientes através do aumento da confiança ou forçando docilidade diante dos médicos. Não, deve ser um movimento de pressão por parte dos clientes dos serviços de saúde, exigindo uma medicina menos tecnocrática e mais voltada às necessidades subjetivas de cada sujeito enfermo.


