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Requentando Celso Daniel

Deixa eu explicar dessa forma: Élcio de Queiroz, o assassino de Marielle e Anderson, horas antes de cometer o crime foi ao Vivendas da Barra, condomínio de luxo na Barra da Tijuca, e apertou no número 58, exatamente a casa de Bolsonaro. O porteiro contou à polícia que, horas antes do assassinato, em 14 de março de 2018, Élcio adentrou o condomínio e disse que desejava ir à casa do então deputado Jair Bolsonaro. Não se trata de uma especulação; há provas materiais disso. Marielle era desafeto de Flávio, mal vista por Carlos e inimiga das milícias cariocas – a cloaca que sustenta Bolsonaro. Façam as contas…

Existem muito mais provas de que Bolsonaro está envolvido na morte dessa moça do que suspeitas para colocar culpa em alguém do Partido dos Trabalhadores na morte de Celso Daniel, ex-prefeito de Santo André – ele próprio um integrante do PT. A partir de insinuações de que houve uma possível motivação política envolvida na morte de Celso Daniel o caso foi foi amplamente investigado em São Paulo por uma polícia ligada ao PSDB, que teria todo o interesse em jogar a culpa deste caso no PT.

Enquanto isso, resultado de todas as investigações conduzidas mostra, de forma inequívoca, que a morte de Celso Daniel foi comprovadamente um crime comum. Sequestraram o sujeito errado. Não resta dúvida sobre isso. Vinte anos depois, pelo desespero da mídia e pela falta de realizações do governo atual o caso está sendo requentado para atacar Lula e o PT e – de novo – forjar a narrativa mentirosa de que o partido dos trabalhadores é uma organização criminosa, enquanto os partidos patronais e do grande capital são honestos e virtuosos, mesmo que todas as provas e a nossa experiência recente apontem para o oposto disso. O ex delegado geral da Polícia Civil de São Paulo, Marcos Lima Carneiro, afirma que se “Sombra” – amigo de Celso Daniel – tivesse sido condenado como mandante do crime, como querem os conspiracionistas, este seria um dos maiores erros da história do judiciário brasileiro.

O caso Celso Daniel foi julgado há mais de 20 anos, e nada foi comprovado além do óbvio: crime comum. Houve 4 inquéritos independentes: um da polícia federal e três da polícia civil que levaram à mesma conclusão: um crime comum. Atualmente a deixa para reabrir o caso estaria em um depoimento do condenado Marcos Valério que teria feito delações a respeito do caso. Mais ainda, Marcos Valério disse essa barbaridade para ganhar alguma vantagem. Seu depoimento é o seguinte: “ouvi de algumas pessoas que me falaram que….”. Marcos Valério também fala de um dossiê com provas sobre o caso que teria sido escrito pelo próprio Celso Daniel, mas que teria sido destruído. A própria Lava Jato não aceitou a cena feita por Marcos Valério, por ser inconsistente e carecer de provas. Até ela…

Vamos combinar que o espetáculo midiático protagonizado por Marcos Valério é pior que uma delação sem materialidade; trata-se da exata definição de uma “fofoca”, uma mentira contada para ganhar algum benefício espúrio, porque o Valério sabia que na Lava Jato aceitariam qualquer coisa que envolvesse o PT. Além disso, pense bem. Caso Celso Daniel tivesse sido morto por alguém do PT, o que o PT enquanto instituição teria a ver com isso? Por acaso a morte do petista em Foz do Iguaçu, cometido por um bolsonarista fanático, significa que o próprio Bolsonaro ou seu partido o mandou matar? É isso que a direita pensa sobre o caso? A culpa é do partido dele? Até onde o lavajatismo mais tacanho, misturado com o bolsonarismo paranoico pretende levar essa fábula?

A história requentada de Celso Daniel, agora com especial na TV Globo, jogando dúvidas sobre um caso mais do que esclarecido, é mais uma cartada goebbeliana conhecida e muito utilizada pela grande mídia e pelo esgoto do “Gabinete do Ódio”: repetir uma farsa ad nauseum, para convencer aqueles que assim desejam se deixar enganar. Não importa que o caso esteja encerrado e não interessa que nunca tenham surgido provas. Pouca relevância tem o fato de que Marcos Valério usou este estratagema para conseguir algum benefício em sua pena através do recurso de agradar os abutres do Ministério Público, sedentos de – literalmente – qualquer coisa para implicar Lula e o PT em algum tipo de escândalo. O objetivo sempre foi político, jamais policial e nunca pela busca da verdade.

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Trincheiras

Lembram em 2018 quando Lula foi preso sem provas num esquema que envolvia a “joint venture” entre a mídia e uma parcela fascista do judiciário? Lembram do que a esquerda dizia? “Lula está sendo preso sem provas, apenas pelas convicções sem base dos promotores alucinados. Não há crime!! Não há provas!!”

Hoje as mesmas pessoas que defenderam Lula parecem não mais se lembrar da destruição que Lula passou pelas redes sociais, o julgamento falso a que foi submetido e o martírio de ficar mais de 500 dias preso sendo inocente. Lula foi encarcerado pelo que era, e não por algo que fez. Nunca encontraram provas contra Lula, e várias provas de sua inocência foram se somando ao processo. Não obstante, o massacre midiático não será facilmente curado numa cultura dividida.

Se a esquerda não assumir como princípio essencial a defesa do Estado Democrático de Direito e do devido processo legal não haverá porque continuar existindo. Sem essa estrutura basilar da civilidade seremos apenas selvagens com smartphones.

Meu pai me repetia um antigo provérbio chinês que dizia: “Só podes me fazer mal se me fizeres mau”.

Dizia ele: “Sem que o teu mal me contamine sou imune. Se minha alma se mantiver firme nenhum ataque me atingirá”. A virtude é algo que se gesta no âmago de nossa alma, e só nós temos o poder de perdê-la; ninguém a tira de nos sem nossa permissão.

O que me entristece no lado de cá das trincheiras é ver o discurso autoritário e antidemocrático gritado lá do outro lado fazendo eco nas palavras dos meus irmãos. Se eles queriam o nosso mal, sabem que só terão sucesso nos tornando maus.

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