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Estrangeiros na própria terra

Conheço alguns, até (em especial) médicos…

Sempre se acharam superiores a essa “tigrada” com quem são obrigados a conviver. Um deles, um cardiologista, quando viajou pela primeira vez à Europa, veio nos dizer que se sentia “em casa”, com aquela “finesse”, todo o charme e a elegância dos europeus. Esta falta de noção aqui no Rio Grande do Sul é MUITO pior do que no resto do Brasil por causa da colonização italiana e alemã.

Há alguns anos uma sociedade cultural italiana aqui de Porto Alegre distribuía aos seus sócios um adesivo onde se lia em dialeto vêneto: “Mi son Talian grazie Dio”, ou seja “Eu sou italiano graças a Deus”, o que nos faz lembrar dos italianos mortos de fome e miseráveis que vieram para nosso país para fugir da “mirada” (miséria + gelada) da Europa do século XIX. Foram recebidos de braços abertos e com terras gratuitas para plantarem. Alguns viraram industriais e grandes fazendeiros, e muitos continuam vivendo na Europa, mesmo sem sair da sua fazenda no interior do Rio Grande do Sul ou São Paulo.

Hoje os tetranetos desses miseráveis europeus se acham superiores pela cor de sua pele, e não aceitam ser confundidos com os “pelo duro”, os moreninhos, os “brasileiros” com quem são obrigados a conviver. Dizem frases características como “se eu pudesse fugia daqui” (mesmo para ser cidadão de segunda classe em Miami), ou “o problema não é o Brasil, mas esse povinho” (mas sempre se colocam fora do “povo”) e tantas outras grosserias que estamos acostumados a ouvir em mesas de bar ou conversas informais.

“O Brasil não merece uma pessoa como eu”, dizem, numa arrogância patética e estúpida. Negam o quanto receberam desse país e o tanto de benefícios tiveram para chegar onde agora estão. Médicos, advogados, comerciantes e empresários sustentados pelo esforço conjunto de uma sociedade que agora desprezam, achando que seu mundo é outro.

Mal sabem que quando chegam na Europa são vistos com deboche e desconsideração pelos racistas que, como eles, não percebem o quanto de sua riqueza depende do trabalho de quem tanto desprezam.

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A Holanda NÃO é aqui

Windmill

Um motorista ensandecido pilotando uma “Hilux” grita para uma ciclista na ciclovia paulistana: “Vagabunda!! Isso aqui não é a Holanda!!

Um cesarista ensandecido pilotando um reluzente bisturi grita para um profissional humanizado: “Idiota!! Isso aqui não é a Holanda!!

Discorram sobre esse paralelo…

PS: Quando eu era adolescente nos ano 70 ainda vivíamos na época da ditadura militar. A nós era vedado o ritual sagrado do voto. Governos se sucediam sem que o povo tivesse o direito de escolher seus mandatários; eram os anos de chumbo. Eu vivi nesse tempo e trago as marcas dessa dor em meu peito. Eu sei o quanto dói a falta de liberdade.

Nesse período sempre que um “esquerdista” resolvia falar da importância da democracia alguém levantava a voz e clamava em altos brados: “Cale a boca!! Aqui não é a Europa. Lá é possível votar, pois eles tem cultura. Nosso povo não sabe fazer isso“, num discurso que mesclava de forma curiosa Macunaíma com Newton Cruz. A desculpa era sempre centrada no fato de sermos uma gente preguiçosa, um povo malemolente, inculto, incapaz, incompetente e que – mais do que precisar – merecia que a ditadura governasse seu destino. Com as mulheres o mesmo: é preciso sempre alguém que as governe e controle, pois elas são essencialmente incapazes de tomar decisões por si mesmas.

“Isso” aqui não é a Holanda. Esse país não se presta para democracia. Esta nação não pode se auto gerir. Nossas mulheres são dóceis e submissas e precisam ser controladas para parir. Calem a boca.

A Holanda NÃO é aqui…

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