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Mansplaining e outras aberrações

Houve na manchete sobre a treta de Felipe Neto e Tábata uma clara confusão entre “mansplaining” e “manterrupting“. Mansplaining é quando um homem explica uma coisa para uma(s) mulher(es) usando a retórica que se usava nos anos 40 ao explicar futebol (tipo, impedimento) para elas. Isto é: partindo do princípio de que, por serem mulheres, não vão entender. Como se a condição masculina lhes oferecesse uma clarividência maior sobre temas específicos – tipo política, futebol, tecnologia, etc.

Está é, inequivocamente, uma prática machista, preconceituosa e indevida usada contra mulheres, mas que também pode ser usada contra outras pessoas como expressão de arrogância. Por exemplo: “entendeu ou preciso desenhar?”, é uma forma de responder aos comentários de forma petulante e ofensiva, embora sem o componente machista.

Já o “manterrupting” é interromper a fala de uma mulher apenas POR SER mulher. Isto é: impor sua condição masculina para interromper a manifestação de uma mulher sobre determinado assunto, seja por concordar ou por discordar. O que Felipe Neto fez poderia ser considerado “mansplining“, mas evidentemente que não se pode fazer “manterrupting” por meios eletrônicos. Aliás, ao meu ver ele não fez nenhuma das duas.

Por outro lado eu proponho que estes anglicismos HORROROSOS do vocabulário feminista sejam abolidos e trocados por suas variantes mais simples e que respeitam o nosso idioma. Boa parte da confusão do texto acima se deve a isso. Por que não “explicação machista” ao invés de “mansplining” ou “interrupção machista” ao se referir ao “manterrupring”? Até porque, não são os homens (man) que o fazem, mas um subgrupo dos homens: os machistas e os chauvinistas.

Ops, aqui um galicismo, pois o termo deriva de Nicolas Chauvin, um soldado do Primeiro Império Francês sob o comando de Napoleão Bonaparte que, demonstrado enorme fervor patriótico, retornou aos campos de batalha mesmo tendo sido ferido por dez vezes durante os combates em defesa da França. Por essas vias tortas da linguagem o patriotismo e a bravura de Nicolas acabaram sendo ligadas ao machismo e se tornaram sinônimo de atitudes sexistas.

Quanto a Tábata… o que esperar de uma menina deslumbrada com seu sucesso inicial e que se originou dos Think Tanks liberais do Sr. Lemann? Erro mesmo é acreditar nessa representação identitária como garantia de pensamento progressista. A diferença de Tábata e Joice é que a segunda sempre foi abertamente reacionária e mentirosa, e a Tábata veio como uma capa de doçura e candura que seduziu por algum (pouco) tempo os menos avisados.

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Youtubers

Ver Youtubers fazendo publicidade com a tragédia alheia me faz lembrar que isso é o mesmo que Huck faz todo fim de semana e Silvio Santos faz desde os anos 70. Nenhuma novidade, e nada a comemorar.

“Ainn, mas pelo menos estão fazendo algo”. Sim, seria pior a inação, mas, por princípio, essa menina não deveria ganhar UM TOSTÃO sequer dessas pessoas ricas, mas receber tudo o que a iniquidade e a injustiça social sonegaram a ela. É com estas atitudes publicitárias que um liberal medíocre como Huck hipnotiza milhares de pessoas e se tornou candidato à presidência. Faturando em cima da desgraça de um sujeito popularizamos a “doutrina da graça”, onde um miserável qualquer – como um de nós – cai nas graças de um milionário poderoso e consegue sua casa, um caminhão do Faustão, um enxoval ou até a reforma de sua “lata velha”.

A tática de distribuir migalhas é antiga, e vai desde o dono de mercadinho na Vila que se veste de papai Noel distribuindo balas para as crianças até as doações vultuosas de Gates, Bezos, Soros, Koch e tantos outros milionários. São todos movidos pela “culpa cristã da riqueza” e por bem articuladas campanhas de publicidade, alçando seus nomes na sociedade como “beneméritos”, enquanto (no caso de Gates e Bezos) continuam com suas práticas predatórias e até criminosas contra a vida humana.

Existem formas éticas de ajudar em situações de urgência. O anonimato, por exemplo. Bastaria descobrir a conta da mãe da menina (se ela tiver), ou entregar um envelope em mãos. Poderia pagar a escola diretamente, sem aparecer e sem ganhar dividendos com seu “altruísmo”.

Por princípio não confio em milionários que tiram selfie com pobres ou que divulgam suas caridades em outdoor. Aliás, não posso aceitar que uma sociedade madura aceite bilionários, pois que eles são um brutal entrave à democracia.

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Felipe Neto

Vejo as reações ao Felipe “Repaginado” Neto situando-se entre o entusiasmo – afinal ele coloca Bolsonaro e Malafaia no mesmo caldeirão diabólico do fascismo – e o ressentimento – a mesma prateleira onde colocamos Lobão, Joice, Moro, Janaína, etc., aquelas figuras patéticas da história recente que montaram a festa do golpe e agora choram porque o vizinho chamou a polícia.

Sem querer inventar a roda, creio que é possível situar-se com equidistância destas posições. Sim, é verdade que é muito bom que ele cerre fileiras contra o fascismo e o atraso representados por Bolsonaro e Malafaia. Sim é bom que esteja do nosso lado, reconheça seu erro e queira ajudar. Entretanto, de bons moços já estamos saturados. Collor já fez este papel; Huck está tentando ocupar este espaço. Representantes limpinhos da burguesia sempre jogam desta forma: colocam-se como “novidade”, impolutos, sinceros, apolíticos, enojados com o “mar de lama”, etc.

Todavia, alguém que se situa entre “Amoedo e Ciro” não parece ter condições para falar em nome da esquerda, ou mesmo das forças progressistas do país. Ele parece bem sincero, mas está longe de ser um personagem inédito.

Por outro lado, um cara com quase 40 milhões de seguidores não deve ser desprezado, e fico muito feliz que um sujeito com a sua influência no mundo cibernético tenha acordado para o risco que Bolsonaro representa para o país e a nossa democracia.

Gosto dessa atitude, mas não acho ser possível nutrir muitas esperanças por um “nouveau riche” com crise de consciência.

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