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Bloqueios

A dificuldade de interpretação continua sendo a tragédia das redes sociais. Um drama que parece não ter sido ainda controlado pois se assenta sobre um fato inconteste, e talvez insolúvel: só lemos o que nosso desejo permite e apenas o que se adapta ao molde previamente determinado por nós na fala do outro.

Criamos espantalhos cujas palavras não tememos (dis)torcer, desde que, assim construídos por nós mesmos, sejam mais facilmente atacados pela fúria de nossas crenças.

No fim acabamos debatendo solitariamente, gritando contra nossas próprias contradições e fragilidades. Solilóquios que se multiplicam em milhões de respostas agressivas e “lacrações”, navegando no cyberspaço a milhões de bytes por segundo.

Todos os dias, em toda parte…

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Psicólogos cristãos

O problema dessa publicação é que produz um falso dualismo, como se a prática corrente em consultórios de psicólogos fosse estimular a sexualidade dos clientes. Nunca ouvi nenhuma corrente reconhecida da psicologia que estimule pessoas – em especial adolescentes – à prática sexual contra seus valores religiosos. Por outro lado, a prática CORRENTE na ideologia da chamada psicologia cristã é promover a castidade. Posso afirmar que, o caso trazido acima (um relato da “amiga, da amiga da minha vizinha da praia que me contou) só pode ser entendido de duas formas: a) uma interpretação errônea por parte do paciente de uma orientação do profissional ou b) uma péssima abordagem psicológica, onde uma terapeuta se arroga o direito de influenciar valores e crenças de seus clientes, estimulando a prática sexual entre um casal de namorados cristãos. Entretanto, o post insinua a falsa simetria de que “ambos os lados cometem erros“, quando em verdade a ideologia cristã é que induz a este tipo de doutrinação pela castidade, enquanto NENHUMA corrente da psicologia ensina, reproduz ou estimula a prática sexual de adolescentes que preferem não o praticar.

Um profissional da psicologia pode ter problemas com a religião, sem dúvida. Quem não tem suas dúvidas e questões mal resolvidas com a religião, qualquer seja ela? Pode também ser ateu, carnívoro ou vegano. Pode ser hétero ou gay. Pode gostar de samba ou “death metal“. Pode ser sexualmente ativo, casto, casado, solteiro, bi ou transexual. Pode ser uma pessoa normal ou considerada por muitos como “bizarra”. Pode ser introvertido ou extrovertido, tímido ou esfuziante.

Entretanto, e creio que sobre isso não há dúvida, nenhuma dessas escolhas pessoais e subjetivas pode interferir na fala do seu cliente. Nenhuma preferência ou escolha do terapeuta pode influenciar a forma como o seu cliente organiza seu inconsciente através do exercício da fala, na aventura do discurso livre. Um psicólogo “cristão”, ao recomendar castidade (ou fidelidade…) ao seu cliente estará interferindo em suas escolhas através de uma projeção de SEUS valores, crenças, medos e fantasias, o que em nada poderá auxiliar a saúde psicológica de seus clientes. É possível até que os adolescentes estivessem mesmo se punindo através da castidade, mas isso é irrelevante para o tratamento. Pode ser que estivessem apenas exercitando o “gozo da contenção”, mas isso também não importa. Um consultório psicológico não é lugar para a prática da “selvageria interpretativa”, onde “verdades” são jogadas e valores cuspidos sobre pacientes desamparados.

Estabelecer uma dualidade entre “psicólogos neo-progressistas” e “psicólogos cristãos” não é justo e nem honesto. O que é descrito como no texto como um psicólogo “neo progressista” nada mais é que uma abordagem inadequada e condenada por todas as correntes da psicologia. Outrossim, reforçar conceitos como “castidade” antes do casamento é um dos pilares que sustenta a ideia de uma “psicologia cristã”. Ambas são equivocadas, mas apenas uma é estimulada pelos seus correligionários.

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