Arquivo da tag: Lugansk

Ditadores

A imprensa burguesa nacional insiste em chamar em seus telejornais o presidente Putin de ditador. Eu pergunto: baseada em quê? Putin foi eleito com mais de 80% de aprovação. Democraticamente, nas urnas, seguindo as regras da decadente democracia liberal representativa. Hoje deve ter mais de 90% de apoio popular, conquistado pela sua excelente condução da economia bloqueada da Rússia e suas vitórias na guerra com o vizinho. É sempre bom lembrar que ele invadiu a Ucrânia depois de 8 anos de agressões incessantes contra a população russa étnica do Dombas, impiedosamente atacada e massacrada. A invasão ocorreu logo após trabalhadores serem queimados vivos na Ucrânia por sua conexão com a Rússia. Os ataques da Ucrânia já haviam causado mais de 14 mil mortes. Há consenso nas esquerdas de que Putin foi paciente até demais com as ameaças nazistas de Kiev.

Hitler invadiu a Polônia e a França sem ser agredido. Suas intenções eram outras. Putin invadiu Donetsk e Lugansk para salvar os russos de serem chacinados pelas milícias nazistas da Ucrânia. A diferença é gritante. O projeto russo é – de novo!!! – a desnazificação do seu vizinho, que planejava ser um entreposto da OTAN apontando canhões para Moscou – aqui, sim, na cara dura. Por favor, mostre onde estão as evidências de que na China Popular, na Venezuela e na Rússia não existe a distinção entre os poderes. Eu posso, entretanto, provar que No Brasil o STF trabalha em sintonia com os interesses da burguesia e mesmo aqueles interesses mais obscuros do imperialismo. As provas estão em toda a parte, em especial no apoio do STF para todos os golpes contra a democracia brasileira. Seremos, por isso, uma ditadura? Na Rússia matam opositores? Quem? Na Venezuela? Qual? Na Rússia? Qual a evidência disso? Já no Brasil um candidato à presidência foi morto num acidente de avião, isso sem falar de Getúlio, de Jango e de Juscelino, assassinados (Getúlio foi levado a se matar) por serem ameaças ao poder das ditaduras. Podemos ser considerados, por estas mortes, uma ditadura?

Um exemplo de separação dos sistemas judiciário e executivo é o da China. “O sistema judicial da China compreende não apenas os Tribunais Populares, mas também a Procuradoria Popular (Ministério Público) e a Segurança Pública. O Governo Central respeita a tradição dos sistemas judiciários das regiões autônomas especiais, Hong Kong e Macau, colonizadas pelos ingleses e portugueses. Os Tribunais Populares são criados pelo Congresso e a ele prestam contas. O sistema chinês possui um Tribunal Popular Supremo, Tribunais Populares locais e especiais. O Tribunal Popular Supremo, órgão máximo na hierarquia judiciária, tem três seções: civil, econômica e penal. Seu presidente é nomeado pela Assembleia Nacional para um mandato de cinco anos, que pode ser renovado duas vezes. O Tribunal Popular Supremo pode reexaminar sentenças das instâncias inferiores quando houver um recurso admitido. Como ele é o intérprete máximo da legislação, acaba sendo um guia de orientação aos demais tribunais, sua jurisprudência acaba sendo, na prática, vinculante. Os Tribunais Populares podem dividir-se em tribunais locais, intermediários ou superiores. Os primeiros, Tribunais Populares Básicos, localizam-se em distritos e municípios. Tribunais Populares Intermediários, uma instância acima, situam-se nas capitais das províncias ou regiões autônomas. Já os Tribunais Populares Superiores, que estão abaixo do Supremo, são 31 e estão em províncias ou municípios dependentes diretamente do governo central.” Como pode ser dito que a China é uma ditadura, afirmando que o “judiciário está na mão do presidente”? O sistema russo é ainda mais ocidentalizado, assim como o de Cuba, mas isso não impede a nossa imprensa burguesa de chamar de ditaduras tudo aquilo que não é espelho.

Por que todos os políticos democraticamente eleitos e que se posicionam contrários ao imperialismo são chamados de ditadores? Maduro foi eleito democraticamente, Putin da mesma forma. O presidente de Cuba e da China através dos sistemas sociocráticos de suas democracias, mas todos são chamados de “ditadores” apenas porque se opõem aos interesses do poder Imperial. Não é interessante? Fosse isso adequado, não poderíamos esquecer do Ditador Bush, cuja reeleição foi uma fraude, mas por que a Globo e o Estadão jamais usaram esse epíteto para designar o presidente americano?

Seria Lula subserviente à China e à Rússia apenas por perceber a necessidade de estreitar laços com estas potências? Putin e Xi são os líderes da “nova ordem”, que já controla o maior PIB do planeta e quase 80% da população mundial. Por que haveria Lula de se omitir dessa aliança que só tem a nos ajudar? Quem perdoaria Lula caso perdesse essa oportunidade histórica de se unir aos líderes do mundo multipolar? Putin e Xi são mesmo admiráveis em suas posições contra-hegemônicas e de enfrentamento ao imperialismo. Na verdade, estamos testemunhando os últimos anos da presença de 3 grandes lideres mundiais no nosso convívio: Putin, que tirou a Rússia do buraco causado pela derrocada criminosa do socialismo por Yeltsin e Gorbachev, de Xi Jinping, que alçou a China a primeira nação desenvolvida do mundo e Lula, líder popular que se contrapõe (ainda que de forma limitada e atabalhoada) ao poderio massacrante do imperialismo fascista e assassino.

Repito, a pergunta mais justa seria: por que deveria Lula desprezar essa chance histórica de oferecer protagonismo ao Brasil e de estar ao lado da corrente mais importante da política e da economia do século XXI?

Deixe um comentário

Arquivado em Causa Operária, Política

Lula e o imperialismo

A chegada do Sergey Lavrov ao Brasil acendeu as sirenes de alerta da direita e daqueles comprometidos com a influência americana no “sul global”. Entretanto, sobraram também algumas críticas da esquerda às declarações “salomônicas” de Lula sobre a guerra na Ucrânia. A declaração de Lula de que “A decisão da guerra foi tomada por dois países” se insere em uma postura diplomática bem clara e evidente dos representantes brasileiros. Por certo que a Rússia, ao invadir a Ucrânia para salvar os russos étnicos do massacre programado no Donbass pelo Batalhão Azov, tem 1% da culpa nessa guerra (que já estava acontecendo há pelo menos oito anos, desde o Euromaidan, e contabilizando já inúmeras vítimas). Os outros 99% da culpa cabem à OTAN, a Zelensky e ao naziterrorismo ucraniano, em especial às milícias do Pravyi Sektor e do Azov. Todavia, mesmo que desgoste os mais afoitos, Lula tem plena razão em se colocar à equidistante nesse conflito. Sua posição de condenar a invasão da Ucrânia pelas tropas russas é protocolar: visa demonstrar sua filiação às normativas mestras da ONU, as quais condenam as invasões de espaço territorial de outros países. Sem essa postura da nossa diplomacia, como criticar as demais ações imperialistas – como as invasões atlantistas no Oriente Médio? Por outro lado, todas as suas atitudes posteriores estão alinhadas com os parceiros dos BRICS e a perspectiva da criação de um novo bloco, que detém 25% do PIB do planeta e 40% de sua população, o que significa um mercado gigantesco e uma perspectiva de crescimento inédita. Também a fala posterior, onde Lula questiona a supremacia do dólar, e mais ainda a eleição de Dilma Rousseff como presidente do banco dos BRICS, desempenham um importante passo no sentido dessa integração e um afastamento significativo dos interesses do FMI e do imperialismo.

Nada me orgulha e estimula mais em “Lula III – o Retorno” do que sua posição anti-imperialista. O apoio aos Brics, em especial às posições de Putin, é o melhor exemplo da postura de enfrentamento ao Império. A formação de um bloco independente da ação predatória do imperialismo nos países satélites passa pelo apoio ao presidente Putin, por mais que sejamos contrários a algumas de suas posições em território russo. A posição legítima e precípua de esquerda é pela autonomia dos países, algo contrário aos interesses da OTAN e dos Estados Unidos. Porém, é assombroso testemunhar que muitos ainda apoiam a posição ucraniana, mesmo à esquerda no espectro político. Ao comprarem a versão do “Putin malvadão” e da “Rússia expansionista” – duas peças descaradas de propaganda imperialista – não tiveram nenhum pudor em oferecer total apoio (ou virar o rosto para não ver) os nazistas da Ucrânia, o Pravyi Sektor, o Batalhão Azov, a exaltação do nazista e antissemita Stefan Bandera, o massacre dos russos étnicos no Donbass, os 14 mil mortos no conflito em Donetsk e Lugansk, o assassinato dos 42 ativistas e sindicalistas (muitos deles queimados vivos) em Odessa e as ameaças da utilização da Ucrânia como base de mísseis contra Moscou pelos nazistas que chegaram ao poder na Ucrânia após o golpe do Euromaidan. Quem, ainda hoje, consegue aceitar a posição da Ucrânia e da OTAN e condenar a ação russa de proteção de sua integridade territorial?

Mais ainda: enquanto aceitam como válidas as críticas contra Putin permitem que os maiores invasores do mundo – os Estados Unidos – venham a pregar “moral de cuecas”. Ver americanos acusando russos de “expansionistas” é mais do que ridículo; é produto de lavagem cerebral, um trabalho produzidos por décadas de invasão nos países do terceiro mundo, produzindo o conhecido “excepcionalismo americano”, que permite que este país realize exatamente o que critica e combate nos outros. Lula percebeu a russofobia que permeia esta guerra e também percebeu o quanto apostar no imperialismo seria contrário aos reais interesses do Brasil, no que diz respeito à sua industrialização, autonomia e na produção de um planeta multilateral. Na verdade, a posição de Lula é quase irretocável, algo característico da sua genialidade política. Acreditar no risco de invasões russas na região é ignorar que a Crimeia não foi anexada, ela votou pelo retorno à Rússia, com mais de 95% de votos favoráveis. A Rússia tão somente protegeu a vontade soberana do povo da Crimeia – uma região historicamente ligada à Rússia, e onde ocorreu a conhecida “Guerra da Crimeia” que envolveu a Rússia czarista contra uma coalisão de países europeus e o Império Otomano. Da mesma maneira, o povo do Donbass também votou de forma massiva, quase 90% de votos, em sua independência da Ucrânia, posteriormente transformada em reunificação com a Rússia.

Deixe um comentário

Arquivado em Causa Operária, Política

Paradoxo da Paz

“Desculpe, sou contra o Putin, um diabo medonho, e porque tenho horror a qualquer guerra. Não existe justificativa para elas. Ah, e dizem que o Putin é homofóbico”

É impressionante a dificuldade dessa esquerda liberal de entender que essa guerra não pode ser avaliada por critérios morais aplicados a seus personagens principais. Também parece difícil entenderem que a guerra já estava acontecendo há 8 anos mas, curiosamente, só quando a Rússia reagiu é que os “pacifistas” se escandalizaram. Lembra muito o horror que surge quando uma bombinha Palestina atinge Israel alertando os “pacifistas” – que saem as ruas vestindo branco e pedindo paz – mas são os mesmos que respondem com absoluta apatia quando ocorrem os repetidos massacres em Gaza (que os sionistas tratam como “mowing the lawn” – aparar a grama).

Pois agora aparecem oportunistas que são contra a Guerra da Ucrânia, mas sequer ficam com a cara vermelha ao apoiar nazistas “old school” – que sequer podem ser chamados de neonazis, porque de novo nada têm. Querem a paz, mas só a paz do domínio, da submissão e do silêncio.

Em nome de uma russofobia e um ódio infantil à “pessoa do Putin” (e não sua política nacionalista e seu governo de direita) aceitam de bom grado passar pano para fascistas e assassinos, que queimaram mais de 50 pessoas vivas em um sindicato em Odessa, construíram laboratórios para guerra química, amarram cidadãos em postes, espancam ciganos e aniquilaram – através de suas brigadas de ultradireita – mais de 14 mil cidadãos em Donetsk e Lugansk desde o golpe de 2014

Por que apenas agora a guerra se tornou inaceitável? Por que admitiram até então que um país dominado por nazistas se juntasse à OTAN e se armasse com bombas atômicas ao mesmo tempo em que rasgavam o acordo de Minsk? Por que se negaram a perceber que uma ogiva nuclear em Kiev leva 4 minutos para atingir Moscou e estaria sendo colocado em uma cabeça de ponte da OTAN na Europa Oriental? Qual país no mundo inteiro aceitaria essa ameaça no seu vizinho? Por certo que o Império americano não, visto que a crise dos mísseis de Cuba em 1963 teve a mesma motivação.

É impossível não se indignar quando vemos xenofobia e desrespeito à todas as pessoas que defendem a Rússia e que cometem o “crime” de refletir com conhecimento de causa e sensatez, fugindo da propaganda imperialista massacrante, entreguista e oportunista que nos invade. A mesma imprensa corporativa que, em nome dos interesses do sistema financeiro internacional, emporcalha redações e redes de TV com mentiras que transformam nazistas declarados em “nacionalistas” e “forças da resistência”.

Estar contra o Putin (que é um direitista, autoritário, anticomunista e, talvez, homofóbico – who cares??) significa cerrar fileiras com a OTAN e a barbárie maligna e genocida do Império americano. Putin, por mais defeitos que tenha, está do nosso lado, lutando por um mundo multipolar, contra o Imperialismo corrupto e racista. Muitos ainda confundem a paz com a falta de reação e a apatia diante da violência imposta. Muitos mais acreditam numa “pax americana”, onde o imperialismo reinaria sem reação. Esta é uma visão ingênua e paradoxalmente violenta, pois condena muito mais pessoas à opressão e à morte.

Ninguém que se diga de esquerda pode estar ao lado dos golpistas ucranianos e do Império Americano. Uma improvável vitória dos nazistas da Ucrânia poderia determinar as bases irreversíveis para uma terceira guerra mundial. Aí reside o maior paradoxo: os pacifistas pró imperialismo e defensores da OTAN esperam como resultado desse conflito algo que inevitavelmente levaria a uma guerra de proporções catastróficas.

Deixe um comentário

Arquivado em Causa Operária, Política