Eu tinha 17 anos e estava no último ano da escola. Naquele época se chamava “ginásio”, o que corresponderia ao nível médio hoje. Cheguei às 8h e abri a porta da sala de aula, ainda esbaforido pelos dois lances de escada obrigatórios para chegar ao andar superior. Mas eu estava impactado com o que havia escutado no rádio de casa apenas alguns minutos antes. Quando a porta se abriu a professora ainda não havia chegado e os colegas estavam arrumando seus pertences sobre as mesas de fórmica verde. O quadro negro ao meu lado esquerdo continha nomes de pessoas, desenhos rudimentares e uma fórmula matemática. As janelas olhavam para o norte, e não havia sol pela manhã a ultrapassar o vidro.
As cortinas estavam escancaradas para melhorar a luminosidade e do outro lado da rua podia-se ver a casa do João, colega de aula que, exatamente por morar ao lado da escola, sempre chegava atrasado, e sua corrida era testemunhada por todos nós, entre gracejos e gargalhadas. Postei-me em frente à turma, sem que eles de mim se apercebessem. Não me preocupei com a indiferença de todos, pois dentro de alguns minutos eles olhariam em silêncio e estarrecidos para mim, após dizer-lhes o que eu havia de contar. Encarei os colegas, imaginando que o que eu estava para dizer modificaria a vida de todos, daquele momento em diante. A minha, em especial, recebeu uma grande lição.
Um último gole de ar a inflar meus pulmões e falei, com voz alta o suficiente para que os últimos da classe, com as costas coladas à parede, pudessem me ouvir.
– Amigos, Elvis Presley morreu esta manhã em sua mansão nos Estados Unidos. Ele tinha 42 anos.
E foi assim. Curto e duro.