Shakespeare foi censurado em escolas públicas na Flórida, no governo conservador de DeSantis. Ok, a gente sabe o quanto é diminuta a visão de mundo dos conservadores gringos, em especial ligados ao evangelismo de mercado. Enquanto isso, aqui no sul global, a esquerda liberal quer queimar estátuas, desler Monteiro Lobato e não admite quaisquer críticas ao modelo de visão identitária. Lá, como aqui, direita e esquerda se unem na exaltação da “censura do bem”, uma ideologia que acredita que é melhor privar as pessoas de informações conflitantes do que expor as contradições sociais e mostrá-las à luz do dia. Estas ações têm o mesmo sentido que pedir a alguém que procure esquecer seus sofrimentos e traumas com a ilusão de que, longe da memória superficial, eles vão desaparecer. Freud já nos alertava que o que é reprimido se fortalece, e o crescimento do fascismo no mundo inteiro é um belo e exemplo do quanto o velhinho de Freiburg estava correto.
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Pena Capital
Sempre que eu leio ou escuto dos defensores da pena capital o argumento(?) “Ah, mas a pena de morte que os bandidos aplicam nas ‘pessoas de bem’ tu achas correto?” eu sempre escuto como um lamento ao estilo: “Ah… quando é pra gente se divertir não pode, só eles que podem, é?”
Pode ser um exagero, mas a mim parece que os defensores apaixonados da pena de morte (não aqueles que ao menos procuram um debate racional sobre sua efetividade) possuem um desejo inconfesso e recalcado de matar, uma violenta pulsão destrutiva, que foi obstaculizada por inúmeros fatores sociais, em especial a educação e os princípios religiosos.
Todavia, quando falam em pena de morte eles se transmutam, se alteram, ficam com a cara do personagem Dexter e pensam “E se eu pudesse dar vazão a estes instintos dentro da lei, não seria o máximo?“
Certo que os traumas não totalmente resolvidos de algumas pessoas nos fazem entender este comportamento, mas a imensa maioria dos defensores da pena de morte nunca teve um episódio traumático – pessoal ou próximo – de violência extremada. Por isso penso que o discurso em favor “das pessoas de bem”, ou da “punição exemplar” é meramente encobridor de sentimentos muito mais primitivos, tão difíceis de aceitar quanto de confessar.

