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Redes sociais

Creio mesmo que as redes sociais ocupam uma importante função deixada em aberto pela igreja: o controle MORAL da sociedade. Hoje em dia as manifestações no Facebook, Twitter e Instagram são vigiadas por uma legião imensa de críticos ferozes e impiedosos da fala alheia. Basta uma vírgula mal colocada ou uma expressão politicamente incorreta para que estas torres de vigia soem o alerta. “Racista maldito”, “misógino”, “fascista” ou “homofóbico” ocupam o lugar de “pecador(a)”, “lasciva(a)”, “infiel” ou qualquer outra danação que frequentava os confessionários.

A patrulha da Internet é cruel. Existem sujeitos e grupos especializados em destruir reputações. A checagem dos fatos ou a interpretação por vezes são inexistentes ou viciosas, mas isso pouco importa; o que vale mesmo é a iconoclastia. Neste terreno as minorias são as mais ávidas em rotular seus inimigos e destruí-los.

Minha única dúvida é se esta vigilância surte algum efeito. Com o controle da sexualidade promovido pela igreja só criamos culpa e farsa. Pasolini mostrou isso muito bem. Não acredito que as patrulhas comportamentais da Internet serão mais eficazes. Nenhum comportamento egoístico ou preconceituoso muda por decreto, intimidação ou ameaça. Tudo o que conseguimos é uma hipocrisia institucionalizada.

PS: Enquanto escrevia isso uma amiga americana escreveu uma frase que me chamou a atenção. Disse que era grande o número de mulheres que estavam “completamente desinteressadas pela companhia masculina“. Arrematou dizendo que isso era “culpa dos homens”.

Bem…. eu respondi dizendo que eu via um fenômeno parecido entre os homens, mas que a culpa não me parecia ser das mulheres e sim da relação que hoje se estabelece entre os gêneros. Sou velho o suficiente para ter visto o assunto “virgindade” frequentar as páginas de revistas semanais, e contemporâneo o suficiente para me atrapalhar na confusão de gêneros e sexualidades. Por isso mesmo tive a possibilidade de ver a grande distensão da sexualidade feminina como uma marca bem importante da virada do século.

Há poucas décadas uma mulher que tivesse múltiplos parceiros era considerada “fácil” e até p*ta. Hoje as mulheres podem exercer sua sexualidade sem culpas sociais ou morais, e o sexo se tornou muito mais acessível do que era no fim do século XIX – quando Freud escreveu sobre a histeria tendo a construção sexual feminina como seu grande campo de pesquisa.

Bastou falar isso (??) para ser rotulado de misógino. Nem me perguntem porque…

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Ofensas virtuais

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Há alguns dias uma médica teria ofendido uma conhecida professora e obstetra humanista por causa da sua adesão à campanha para estimular os médicos a sentarem durante a assistência ao parto. Os adjetivos foram fortes, tendo nossa colega sido chamada de “sem noção“, “doentia” e “retardada“…

Eu creio que um pouco tem a ver com o ódio que assola a classe médi(c)a nos tempos atuais, misturada com o anonimato presumido nos comentários escritos no mundo das redes sociais. Entretanto, prefiro ir um pouco mais além e me aprofundar na análise da gênese de observações ofensivas e preconceituosas como estas.

Eu creio que estes comentários são análogos àqueles feitos pelos conservadores relativos ao beijos gays nas telenovelas. Trata-se de um choque estético, um modo diferente de olhar o amor (pelos outros e pelo parto) que abala mentes incapazes de pensar de forma criativa e abrangente. Muita gente ainda não compreendeu a razão da campanha para que os médicos sentem para auxiliar um parto, mas até que percebam que nos colocamos em posições estapafúrdias apenas para que a liberdade de posição da paciente seja assegurada, então jamais entenderão o sentido último do nosso malabarismo. Uma lástima que alguns escutem o grito, mas não sabem de onde vem. “Olha, psiu… vem daqui… aqui mais embaixo, onde habita o tal do protagonismo garantido“.

Escandalizar-se com médicos abaixo de uma mulher, adaptando-se às  posições dela (e não o contrário) ou com pessoas do mesmo sexo se amando, apenas demonstra a incapacidade de adequação a um mundo que gira e se transforma; muda e se transfigura. Para muitos dói saber que não existem verdades estanques ou modelos eternos. Tais xingamentos nada mais são que gritos de dor de sujeitos que perderam o chão, seus referenciais e seu norte, mas que são “velhos” demais para rever conceitos e posturas. Perdidos em sua angústia e medo só lhes resta xingar e ofender, iludindo-se que tais palavras agressivas possam fazer o tempo parar ou impedir a terra de girar.

Pobres e tristes, correm o risco de terminar seus dias corroídos pelo rancor.

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