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Diplomas

 

“O maior gênio da política brasileira de todos os tempos nunca teve um curso universitário. O maior político da história da África do Sul passou 27 anos preso. O maior revolucionário da política australiana era um operário.

Política NÃO é concurso público. Política é REPRESENTATIVIDADE. Ouso dizer que (infelizmente) Alexandre Frota é muito mais representativo do que alguns candidatos que emergem das universidades, cheios de títulos, graduações e experiências no exterior. Para comprovar o que digo basta ver os votantes do Bolso. Ciro Gomes falou certo ao se referir ao Daciolo como “o preço a pagar pela democracia”. Sem isso teríamos uma aristocracia perversa de concurseiros, e se alguém tem curiosidade para saber como isso seria olhe para o nosso judiciário, uma instituição que 90% da população não confia em sua lisura, mesmo com tantos diplomas na parede de trás.

Os sujeitos com mais qualificação superior no congresso são, via de regra, os mais reacionários. Tratá-los como “excepcionais” e levá-los ao congresso apenas por sua performance acadêmica é um erro que já cometemos muitas vezes. Está na hora de varrer esse conceito da nossa sala.

Para ser político precisa MUITO mais do que um diploma. Precisa falar a língua do povo e sentir na pele o que ele sente.”

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Duas mães

Uma vez, aos 10 anos de idade, saí na porrada com um colega de aula. Ao chegar em casa a história ja tinha sido contada pela minha irmã fofoqueira. Levei pito do meu pai e da minha mãe. Expliquei: ele me chamou de “filho da puta”. Minha mãe deu uma risada e disse: “E tu achas que eu me incomodo com o que o pirralho do teu colega diz de mim?”. Eu suspirei fundo e expliquei: “Não era de você que ele estava falando, era da minha “mãe”. A minha mãe e você são duas pessoas diferentes e eu não admito que aquela outra seja ofendida. Entendeu?”

Meus pais ficaram me olhando assustados. Eles certamente anteviam que não poderia sair coisa boa daquele moleque.

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Ativismo e Política

Jean Wyllys 1

No episódio do encontro do deputado Bolsonaro com seu desafeto político Jean Wyllys em um voo recente, creio que o comportamento do Bolsonaro foi absurdamente infantil e grosseiro para um cidadão na sua posição e idade. Filmar seu colega de congresso da forma como ele fez não tem justificativa, nem se eles fossem colegiais. Também acredito que Bolsonaro representa as forças mais retrógradas e conservadoras do país, além de significar uma ameaça a própria sobrevivência da democracia. Jean Wyllys, por sua vez, representa o novo, o diferente, e sua defesa aberta e corajosa das comunidades LGTB – e mesmo da humanização do nascimento – são novidades no parlamento, e que nos enchem de esperança.

Porém acho que a atitude do Jean Wyllys no episódio do avião foi despreparada e pouco esperta. Ele poderia ter capitalizado para suas causas. Poderia ter sido simpático, feito uma piada, esboçado um sorriso. Infelizmente faltou a ele o que sobrou ao deputado Bolsonaro: jogo de cintura e agilidade para encontrar uma brecha nos fatos para fazer política.

Ficar emburrado apenas mostrou seus limites. Não acho que todo mundo tenha que suportar calado ou hipocritamente sorridente a presença de um ogro, ou mesmo aceitar a presença destes sujeitos, mas os estadistas aprendem como fazer isso, a ponto de conquistar o respeito até dos adversários. Por isso existem políticos e estadistas.

Um estadista pensa longe e dialoga até com ditadores e assassinos. Por isso ele é especial. Qualquer um que estivesse sendo assaltado tentaria dialogar com o criminoso, para ao menos garantir uma redução de danos. Infelizmente o deputado Jean se portou como uma pessoa comum, sangue quente, e que preferiu manter sua coerência e os SEUS valores a ganhar pontos para suas lutas. NÃO é assim que se faz política de qualidade, que nada mais é do que a arte de compor, de ajustar, de aproximar e de provocar acordos e consensos. Porque não negociar com Bolsonaro? Ora, porque Jean Wyllys não se deu conta que a postura PESSOAL dele vale muito menos do que os MILHARES que ele representa. Nesse episódio Bolsonaro saiu com jeito de bem humorado e fanfarrão, e Jean saiu com cara de garoto emburrado.

A atitude do Jean foi pessoalmente coerente, e politicamente burra.

Aliás, os mais velhos podem lembrar: a postura do Lula e do “velho PT” nos anos 80 era assim: “não falamos com burgueses, que exploram o povo, roubam, são corruptos, defendem os interesses dos banqueiros e blá, blá, blá.“. Isso era apenas infantilidade e imaturidade do PT, que foi corrigida posteriormente com uma ampla política de alianças, com a ideia de que não existe pessoa suficientemente suja com quem não seja possível fazer um acordo, desde que isso ajude a produzir avanços e conquistar espaços.

Eu não acuso o deputado Jean de ter feito algo errado; apenas o “acuso” de ser normal, de agir como qualquer pessoa diante do mesmo desafio. MEU erro foi esperar dele uma atitude inteligente e diferenciada, curiosa e única, brilhante e propositiva. Meu equívoco foi criar uma expectativa exagerada sobre um político – aparentemente – comum, que diante de um desafio preferiu ficar emburrado, perdendo uma rara possibilidade de capitalizar politicamente o evento.

Se for possível fazer uma análise isenta e desapaixonada, serei obrigado a reconhecer que, se há alguém com espaço para crescer diante de seu eleitorado, este é o Bolsonaro. Jean é um militante, um representante ainda politicamente imaturo.

Agressões verbais para o Bolsonaro é o que o faz crescer. Analisar esse episódio de forma pessoal, chamando o ex milico de “monstro” é tolice. Convido a todos para que observem este evento pela ótica verdadeira: o teatro político. Visões pessoais e morais (nesse caso) são inúteis. Verme, monstro, animal… Enquanto for esse o discurso Bolsonaro vence, e avança mais e mais. Ganhou 400.000 votos no Rio por causa disso, e ganhou mais alguns pelo episódio tosco do avião.

Sabe o que seria uma atitude genial do Jean Wyllys? Sentar do lado dele e fazer bullying, gravar um vídeo, dizer palavras de amor, segurar a mão dele e tentar fazer o Bolsonaro ficar envergonhado, emburrado e constrangido. E cair na risada!!!!

Xingar o Bolsonaro… quanta criatividade.

Diante do que ocorreu me permito perguntar: “Que ganho há para os homossexuais e minorias ficar zangado diante da chacota do Bolsonaro? O que avançamos com essa atitude mal humorada?” Eu respondo: NADA!!! E xingar também não. Ali era o lugar de uma grande sacada armada pelo destino: inimigos lado a lado. Foi o que o Bolsonaro fez, e o Jean Wyllys caiu!!!

Mas agir de forma bem humorada não é ficar em cima do muro, pelo contrário. É mostrar que o SEU jogo não é o da mágoa, do rancor e do ódio!!!

Política é mais do que atacar posições contrárias: é almoçar com o diabo e jantar com o demo, negociando algumas almas, salvando alguns poucos pecadores e avançando terreno. Não acredito que o deputado Jean agiu errado. Ele apenas foi medíocre, e (meu erro) eu esperava mais dele. Tolice minha. O grande erro é confundir atitudes pessoais com atitudes políticas.

É possível que eu tivesse as mesmas atitudes que o Jean teve: sairia de perto e ficaria em silêncio, emburrado e brabo. Mas eu sou medíocre e comum, e não um signatário do povo. Meu erro foi esperar política de quem, até agora, só aprendeu a militar para o seu eleitorado.

Espero que Jean Wyllys possa fazer uma leitura madura desse episódio, para perceber que em política estes encontros não se repetem e que precisam ser capitalizados em benefício das causas que defendemos.

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