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Identitários

Identitários pegam uma boa causa – o anti racismo, o orgulho LGBTQ+ ou o feminismo – e a transformam num discurso arrogante, chato, presunçoso, violento e agressivo. Esse modelo individualista – de viés americano e liberal – é um dos principais fatores para o afastamento dos aliados. Fácil entender porque nenhum branco, homem, cis e hétero vai aceitar apoiar um movimento que o trata com tanto desprezo e prepotência. Essas meninas e meninos são os responsáveis pelo atraso dessas ideias, em especial ao tentar estabelecer uma posição de superioridade moral na condição de oprimido, o que é tão somente um absurdo; você não é moralmente melhor por ser socialmente explorado.

Jeanette Wilkins, “Another Round Table”, ed. Cambridge, pág. 135

Jeanette Wilkins nasceu em Glasgow, na Escócia, em 1975. Socióloga, comunista, membro de movimentos de libertação feminina, tem uma postura crítica em relação aos modelos de luta liberais importados da América. Publica no Glasgow Herald todas as semanas.

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Lógica sexista

No mundo contemporâneo é necessário ter muito cuidado quando usamos uma determinada lógica para apoiar nossas convicções e sustentar nossos argumentos. Quando usada em uma situação específica – oportunista, eu diria – ela pode ser de utilidade considerável e pode nos valer alguns pontos em qualquer debate. O problema é que se esta lógica contiver elementos de preconceito ela será usada contra nós no futuro, de forma inexorável. Um exemplo ocorreu ontem quando uma pessoa da internet publicou um trabalho que insinuava que países governados por mulheres (ou com mais mulheres na política) são menos corruptos. A insinuação seria de que “aumentar o número de mulheres na política poderia combater a corrupção”, deixando implícita uma tese marcadamente sexista: mulheres são menos corruptas que homens.

Vi mulheres comemorando esse “achado”, sem se darem conta de que o uso de uma lógica sexista tem seus reveses imediatos. Acreditar que um gênero tem mais qualidades morais e intelectuais que o outro é o mais puro e cristalino sexismo. Se aceitamos para um lado teremos que admiti-lo para outro. As lógicas sexistas acabam, depois, cobrando um preço muito alto e que não é nada legal de pagar.

Há poucos meses foi revelado o maior escândalo de corrupção em um país extremamente rico, como a Coreia do Sul. Isso causou a queda de todo o governo e a prisão do chefe de estado. Neste caso, uma mulher, a presidente Park. Ser mulher não livra ninguém das tentações do poder, e a corrupção está na alma humana, não nos testículos.

O que leva uma sociedade ser menos corrupta não é a presença de mulheres. Também não será a presença de negros, travestis, transexuais ou qualquer religião. Em verdade, a presença desses atores sociais são o RESULTADO de uma maior consciência social. A relação entre mulheres na política e honestidade com a coisa pública não é vertical – de causa e efeito – mas horizontal.

Podemos entender essa relação como a nossa genealogia. Nós NÃO somos descendentes dos macacos, como alguns ingenuamente pensam, mas de um ancestral comum entre a nossa linha evolutiva e a dos grandes macacos. A esse elemento damos o nome de “Proconsul” e surgiu há 12-14 milhões de anos. Nosso parentesco com os chimpanzés não é de pai filho para pai, mas de primos distantes por eras.

Com a diversidade na política o mesmo. A diversidade de gênero e a condução honesta dos assuntos públicos não são causa e efeito, mas são filhos dos mesmos pais: a equidade/ justiça social e a educação. Portanto, AMBOS (pouca corrupção e diversidade) são “primos”, surgidos do mesmo “ancestral comum”: uma sociedade com mais justiça, equilíbrio e educação.

Quando usamos argumentos que tentam colocar um gênero como moralmente ou intelectualmente superior ao outro corremos o risco de autorizar e referendar TODOS os argumentos sexistas e essencialistas que por séculos os homens usaram para diminuir as mulheres. Não há como se calar diante desse argumento, pois eles contém o gérmen da separação e do preconceito, mesmo quando aparentemente nos beneficiam.

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