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Esquerdomachos e o feminismo

Esquerdomachos estão fora de moda?

Creio que sim, mas é importante lembrar que os “esquerdomachos” são apenas as pessoas da esquerda que não tem posturas aceitas por feministas. Qualquer esquerdista que ouse questionar seus princípios fundamentais, ou questione seus objetivos últimos, pode ser chamado assim. Claro, também pode ser um oportunista, um canalha ou um aproveitador, mas estes são mais facilmente identificados no ambiente da esquerda. Por outro lado, o movimento feminista sempre assumiu uma postura de direita. Não é por acaso que foram abraçados pela direita americana do partido democrata, exatamente porque servem aos interesses do status quo que deseja dividir o movimento operário e estancar a sangria do imperialismo.

Esses movimentos identitários são, desde sua origem, individualistas, jamais assumindo a imagem de uma esquerda real, revolucionária e pela luta de classes. Não faço um julgamento de mérito sobre este ativismo (que julgo importante), mas acho errado confundir feminismo com esquerda. Movimentos feministas nos Estados Unidos são claramente liberais, apoiam o “empreendedorismo feminino” e o “empoderamento das mulheres”, desprezando de forma clara a consciência classe em nome do fortalecimento de identidades.

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Festa dos Identitários

Então vejamos… “Se não quer que passem a mão em você não saia de casa com vestido curto”. A tática é a mesma: transformar a vítima em algoz. Neymar sai com o tornozelo destruído, parecendo uma abóbora, mas a culpa é dele por “pegar a bola”. Sério que a perseguição ao Neymar vai chegar nesse nível? Não acredito que por posições políticas discordantes vamos fazer coro a este tipo de estultice. Não se trata de “sofrer falta”. Pelé foi caçado em 62 e 66, Neymar em 2014, o que nos fez perder a Copa. Agora foi atacado violentamente de novo. Será que isso é “mimimi“?

Tenha em mente apenas que o meu exemplo compara a lógica utilizada, não os fatos. Por isso é uma ana-logia. Faltas no futebol são diferentes de abusos contra mulheres, mas a lógica para justificá-los pode ser a mesma. Usar a ideia de que levar faltas graves e violentas é o “ônus natural de quem carrega a bola” é o mesmo que dizer que ser apalpada é o ônus natural de ser bonita e/ou provocante. Não há nada natural nestas violências e tanto as mulheres quanto os jogadores não podem ser considerados culpados pela condução da bola ou por suas formas exuberantes. A explicação do jogador rival de Neymar não convence, apenas explica a brutalidade. Da mesma forma, a explicação do abusador não me faz mudar de ideia.

Não existe nada mais direitista do que expressar ódio a um jogador da seleção durante uma copa do mundo. Eu, que não gostava muito do cara, estou virando fã. Essa exigência com o Neymar curiosamente não se aplica a outros membros da seleção, quase todos bolsonaristas, nem com outras figuras públicas. Esse tipo de perseguição sempre obedece as linhas mestras do imperialismo: destruam seus ídolos, encontrem falhas neles que possam eclipsar seus feitos e suas vitórias.

O mesmo foi feito com Lula, que de herói passou a ser tratado como “ladrão”, depois de uma intensa campanha midiática de iconoclastia. A mesma estratégia de atacar Lula por elementos alheios à política – sua vida privada – agora é usada contra outro herói, outro negro que, assim como Pelé teve sua imagem vilipendiada por fatos bem distantes do futebol. Torcer contra Neymar é fazer o jogo do Império, e nessa armadilha eu não caio.

Não dou ouvidos a fofocas de jogador. São garotos e, como eu, diziam muita bobagem antes dos 30 anos. Não o convocamos para ser professor de ética,mas para representar o futebol brasileiro. Eu não chamaria esse cara pra tomar um chimarrão na minha casa, mas apenas para representar meu país numa Copa do mundo.

E mais…. os ataques de Neymar são muito menos frequentes do que os ataques que sofre desde os 16 anos. Ele é muito mais vítima do que agressor. Vocês odeiam o Neymar porque ele é exibido e egocêntrico? Consegue imaginar que alguém que, aos 14 anos era considerado um super craque e que antes dos 30 é bilionário, não fique assim? Qual o problema disso? O que isso nos ofende? Os colegas adoram ele e não se importam com isso!!!! Por que a gente fica dodói com essas histórias???? Os jogadores estão fechados com seu amigo, e a torcida contra não ajudará a manter a União do grupo.

Força Neymar, cala boca Casagrande!!!!

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Dores e sons

Essa imagem é de um debate ocorrido em um grupo de Whatsapp – de esquerda!! – a respeito de um artigo que escrevi sobre a necessidade dos partidos marxistas se engajarem na luta pela humanização do nascimento e pelo fim da violência obstétrica, mas se afastando dos discursos identitários de viés individualista.

O primeiro comentário diz respeito ao aborto, mas fala que assim como ele a cesariana também não é crime. Bem, do ponto de vista da humanização do nascimento a cesariana é uma cirurgia maravilhosa e capaz de salvar vidas. Todavia, isso apenas ocorre quando esta cirurgia de grande porte é bem indicada, sem os abusos que presenciamos cotidianamente quando seu uso ocorre para satisfazer as necessidades dos profissionais e das instituições – e não das mães e dos seus bebês. Criticar o abuso de cesarianas não significa desmerecer sua importância e validade. Parece incrível ainda ser necessária oferecer este tipo de explicação.

O segundo comentário – que elogia a anestesia – é uma visão largamente disseminada na cultura ocidental. Desde o dia 16 de outubro de 1886, quando John Collins Warren – o velho e empertigado cirurgião – retirou um tumor da boca de Gilbert Abbot sob anestesia por éter sulfúrico, conduzida por um tal Thomas Green Morton, que a humanidade exalta a possibilidade do uso das drogas para exterminar o sofrimento e as dores. Nada mais justo este entusiasmo, visto que desde a aurora da humanidade a dor nos acompanha como sombra mórbida a nos fustigar e torturar.

Todavia, do entusiasmo inicial e o nascimento da moderna cirurgia, vieram também como consequência muitos questionamentos: até quanto é possível isolar os sujeitos da experiência da dor, e quais as consequências de uma vida sem ela? E se para as dores físicas temos os múltiplos analgésicos (e os anestésicos para as cirurgias), como lidar com as dores da alma? Serão elas igualmente passíveis de extermínio? Ou serão estas dores um alvo para aqueles ávidos por descobrir novos mercados?

É minha visão que as dores são constitutivas dos sujeitos e que é impossível viver sem elas. Também creio que as dores de parir produzem seus efeitos não apenas na mulher que as suporta, mas também no sujeito que nasce. É claro que para isso as dores precisam de sentido, significado e função, e não ser apenas o sinal corporal de uma disfunção onde a tecnologia pode ajudar e produzir alívio. Há que discernir para não abusar e tornar ruim algo que é, em essência, bom.

A terceira manifestação, foi feita por um médico, que acredita no mito do “culto ao parto normal”, que seria produzido por uma “seita de identitários avessos à tecnologia e aos recursos cirúrgicos”. Sua aversão à humanização do nascimento se sustenta no “recurso do espantalho”: a criação de um adversário fictício que facilitaria nossas críticas ao direcioná-las a uma mera caricatura das opiniões e posições que se opõem às nossas.

Não restam dúvidas de que existem identitários na humanização do nascimento. Por certo que muitas ativistas abusam de recursos espúrios como cancelamentos, silenciamentos, ataques sexistas, essencialismos e preconceito. Entretanto, apesar de serem por vezes vocais, são uma minoria nesse movimento. Este se estrutura na garantia do protagonismo à mulher, na visão interdisciplinar do parto e na atenção baseada em evidências, e não em misticismos ou revanchismos sectários. Tratar um coletivo pela imagem de uma parcela diminuta é desonestidade.

Em verdade, a ideia de que o objetivo dos humanistas seria tornar a cesariana ilegal é tola e apartada da dura realidade do parto, porque é exatamente o oposto que acontece: é o parto normal que lentamente desaparece do horizonte das mulheres, expropriado pela tecnocracia médica que possui nas mãos o mapa único, a versão de uma realidade que insidiosamente evapora. Se existe nobreza neste movimento é a tarefa de lutar para que um processo fisiológico como o parto não seja exterminado pela arrogância cientificista.

Hoje em dia, nos países colonizados pela medicina drogal e intervencionista, é o parto normal que em breve precisará “habeas corpus”. Sim, “que tenhas o teu corpo” é a melhor definição para o desejo de uma mulher que pretende ter seu filho em paz, sem ser interrompida ou incomodada. É o fluxo normal e fisiológico da vida que está em perigo de extinção; é o parto que corre o risco sério de desaparecimento.

Repito a pergunta que fiz há 20 anos: o que será da humanidade quando os gritos lancinantes primais que constituem nossa estrutura psíquica mais primordial forem substituídos pelo som duro e metálico dos instrumentos cirúrgicos de uma sala gelada e repleta de luzes? Se a música é realmente feita da reverberação infinita desse som, que se repete indefinidamente em nossa memória mais precoce, que humanidade será essa onde não haverá mais nenhuma canção a nos aliviar as inevitáveis dores de viver?

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Identitários

Identitários pegam uma boa causa – o anti racismo, o orgulho LGBTQ+ ou o feminismo – e a transformam num discurso arrogante, chato, presunçoso, violento e agressivo. Esse modelo individualista – de viés americano e liberal – é um dos principais fatores para o afastamento dos aliados. Fácil entender porque nenhum branco, homem, cis e hétero vai aceitar apoiar um movimento que o trata com tanto desprezo e prepotência.

Essas meninas e meninos são os responsáveis pelo atraso dessas ideias, em especial ao tentar estabelecer uma posição de superioridade moral na condição de oprimido, o que é tão somente um absurdo; você não é moralmente melhor por ser socialmente explorado.

Jeanette Wilkins, “Another Round Table”, ed. Cambridge, pág. 135

Jeanette Wilkins nasceu em Glasgow, na Escócia, em 1975. Socióloga, comunista, membro de movimentos de libertação feminina, tem uma postura crítica em relação aos modelos de luta liberais importados da América. Publica no Glasgow Herald todas as semanas.

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Miko

Não resta dúvida que para as esquerdas é fundamental nos aprofundarmos na luta antirracista, na luta por direitos humanos reprodutivos e sexuais (incluindo aí a luta pelo parto humanizado), na conquista da autonomia de corpos, na proteção aos grupos vulneráveis, etc. Modelos sectários baseados em identidades não cabem mais na nossa sociedade e não podem mais ser confundidos com as bandeiras históricas que defendemos. A segmentação artificial engendrara pelos laboratórios e “think-tanks” liberais americanos precisa produzir uma crítica consistente, severa, firme e dura.

Diante dos massacres a que são submetidos os palestinos, no maior ataque contra civis do século XX, é importante lembrar de um dos mais importantes combatentes da causa palestina da atualidade, figura constante em todas as entrevistas realizadas sobre a questão. Este homem se chama Miko Peled, que provavelmente poucos conhecem, mas é um israelense, por volta dos 60 anos e judeu. É filho do general israelense Matti Peled, herói da guerra do “Yom Kipur“, que assinou a declaração de independência de Israel e participou de ações de limpeza étnica na Palestina em 1948 e 1967, mas que ao se aproximar do fim da vida foi um das primeiros sionistas adeptos da aproximação com os representantes da Palestina para estabelecer um diálogo na busca de uma solução pacífica. Quando jovem, ainda vivendo em Jerusalém, Miko viu sua sobrinha morrer em um ataque suicida causado por um homem bomba do Fatah em 1997. No dia seguinte políticos e jornais israelenses clamavam por vingança e retaliação contra os terroristas árabes. Diante das câmeras a irmã de Miko, Nurit Peled, mãe da menina morta e uma conhecida professora judia israelense, disse em lágrimas para os jornalistas: “A culpa dessa morte é do governo de Israel, que nunca deu aos palestinos qualquer alternativa para além do terror. Não aceito nenhuma retaliação em meu nome ou de minha família, porque jamais aceitarei que uma mãe Palestina sofra a dor que agora estou sentindo”. Após a tragédia da morte de sua sobrinha de 13 anos, Miko começou sua jornada como ativista contra quem considera o principal responsável por essa violência: o regime racista de Apartheid sionista e o seu contínuo plano de ocupação violenta na Palestina.

Miko, alguns anos depois e já morando em Los Angeles, nos Estados Unidos, e trabalhando já como um profissional de artes marciais, conheceu na Universidade um grupo de ativistas palestinos e, apesar da desconfiança, aceitou escutá-los. Ao inteirar-se pela primeira vez da narrativa dos “inimigos”, dos “terroristas”, dos “bárbaros árabes” com mais de 30 anos de idade ele viu seu mundo de crenças sionistas desabar.

Sim, eles – os sionistas – eram os terroristas, não os palestinos. Pela primeira vez entendeu o Nakba, a expulsão, os massacres, o êxodo e o exílio palestinos. No ano de 2012 escreveu um livro chamado “O Filho do General” e iniciou sua trajetória como palestrante, ativista, defensor dos palestinos, pela paz, na busca de uma solução desarmada, pelo BDS (Boycott, Divestment and Sanctions) e por uma consciência mundial sobre o regime de Apartheid de Israel. A importância de sua história está relacionada ao fato de que Miko não é um palestino árabe; nunca sofreu diretamente na pele a dor de ser estrangeiro em sua própria terra. Também não teve sua família morta ou sequestrada pelo exército de ocupação e sequer foi preso por jogar pedras em quem matou seus vizinhos e primos. Porém, Miko foi convencido por amor e não por oposição.

Um palestino “identitário” o veria como um inimigo de sua identidade árabe, por não ter sua língua e sua pele mais escura. Por ser judeu jamais seria aceito, e suas palavras seriam bloqueadas com o silenciamento do “lugar de fala”. Ora, “como você ousa falar da Palestina, seu judeu opressor?”, poderia ser a reação dos que não enxergam nele a identidade Palestina, a única que lhe garantiria direito de falar. Entretanto, Miko sabe que a Palestina é o seu lar também e por isso mesmo não aceitou jamais ser calado. Ao lado de outros ativistas, árabes e judeus, debate abertamente uma solução para a Palestina, sem levar em consideração a cor da pele, a origem, a cultura ou a língua . Ousa discordar em alguns temas com o direito que a paixão pela Palestina lhe confere. Para Miko Peled, o que une todos esses personagens na busca para a paz na Palestina é o que nos faz humanos, o traço que nos une para acima das diferenças étnicas e culturais.

Da mesma forma muitos homens brancos sabem que um mundo que oprime mulheres, gays, trans e que despreza negros também é o seu mundo e por esta razão desejam falar de sua inconformidade e lutar contra estas injustiças. Porém, muitos são silenciados por um identitarismo sectário que se move por ressentimentos e preconceitos, que apenas afastam muitos dos possíveis aliados. Precisamos de um mundo com mais personagens como Miko Peled e menos revanchismos estéreis.

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Lugar de Fala

O tão famoso “Local de fala” é o câncer dos movimentos identitários, que produz isolamento, ressentimento, radicalizações e resistência. Hoje em dia já proliferam sites, blogs, vídeos e paginas da Internet que se opõem aos ditames autoritários de algumas propostas originariamente libertárias e humanistas. Falha nossa?

Lutei sempre para que a humanização do nascimento nunca sucumbisse à sedução fácil das “prescrições” e das “rotas seguras”, dos “protocolos” e das “rotinas”, mantendo esse movimento aberto às noções de complexidade, subjetividade, liberdade e autonomia. Humanização do nascimento é um conjunto de ideias que gravitam em torno da ciência, da pluralidade de visões e da autonomia da mulher; não é um culto ou seita, muito menos um “saber sagrado” reservado apenas para iniciados.

Sempre desafiei a ideia de “lugar de fala” na minha ação como ativista e jamais aceitei que me desautorizassem a falar sobre um evento que, se ocorre no corpo das gestantes, atinge a todos nós, homens e mulheres, enquanto ainda formos todos nascidos de um ventre de mulher.

Se o desrespeito com as múltiplas visões sobre o nascimento surgir sem contestação, surfando na onda do radicalismo, prevejo o isolamento e as dissensões. Se, por outro lado, o movimento de humanização acolher (e não “obedecer”) a voz dos homens – pais e profissionais – poderá criar um ambiente de congregação e fluxo saudável de contraditórios e propostas. Sem isso nossas proposições serão eternamente consideradas fechadas e dogmáticas.

Cristalizar um movimento em torno de segregações e dogmas é plantar a árvore de cuja madeira sairá o esquife em que a história vai enterrá-lo.

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Autofagia

Eu li o pedido de desculpas da professora Elika e não li o texto do ano passado que gerou a celeuma. Entretanto, pela minha própria experiência, nem é preciso ler o texto inicial para saber que a violência contra ela é absurda e desmedida. Eu sei exatamente como estes grupos fazem linchamentos virtuais e por isso me solidarizo com Elika e todas as outras bruxas e bruxos queimados nas fogueiras da intolerância. Apenas deixo claro que o sucesso desses movimentos libertários e por justiça social não se dará apenas pelo enfrentamento com os adversários machistas, misóginos, racistas ou LGBTfóbicos, mas também através da dura tarefa de reconhecer e extirpar das entranhas do próprio movimento os fascistas que militam por estas causas.

Ninguém mais tem dúvidas do racismo e do machismo em nossa sociedade. Não é preciso avisar isso em todo texto como se fosse uma novidade. Não é mais esse o problema, e sim como combater de forma pedagógica e eficiente. O que eu penso é que o combate à estas duas feridas sociais não pode ser com a DESTRUIÇÃO de reputações, patrolando suas biografias e jogando toda uma militância do bem no lixo pela simples escolha errada de palavras. Esta é uma estratégia suicida. Alguém acha que os movimentos feministas, de esquerda ou anti racistas se beneficiaram com a “aposentadoria” da Elika no Facebook? Tenho certeza que nas fileiras adversárias é possível escutar o sorriso dos bolsonetes com a autofagia dos setores progressistas.

Pois vou mais adiante: nós brancos precisamos ser educados para a nova realidade. Sou da época em que era lícito contar piada de negros, claramente racistas, e fui amorosamente educado pelos meus amigos de que isso não tem graça. Quem quer imprimir uma nova realidade precisa entender e ter paciência para a adaptação. Isso não diminui nossa culpa, mas coloca todos os personagens sociais como responsáveis pela mudança.

Tanta gente acha errado espancar crianças quando elas agem errado, mas acham natural triturar publicamente a honra de quem cometeu erros. Lembre que o racismo – assim como o machismo – é tão naturalizado em nossa sociedade que muitas vezes agimos com estes preconceitos sem sequer percebermos. Erramos muitas vezes sem saber, como Elika errou com suas palavras…

Da mesma forma como as crianças erram também…

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Extremismos de Esquerda

Esse para mim é o pior problema: o surgimento de um pelotão de fascistas de esquerda, prontos para atacar com igual ou maior ferocidade do que os seus adversários da direita. Muito triste ver os progressistas se tornando tão nocivos quanto aqueles a quem criticam. Quando vejo jovens militantes de esquerda agredindo ou tentando calar bolsonetes eu sempre penso que um visitante estrangeiro, ao ver tal cena, teria imensas dificuldades em saber qual grupo representa melhor os fascistas.

Ina May Gaskin, ativista americana pelo parto humanizado, foi apenas mais uma vítima desses “pelotões de renegados” capazes de exercer tanta violência quanta aquela a que foram submetidos durante sua vida. É nesses momento que aparece mais luminosa ainda a fala de Paulo Freire:

“Quando a educação não é libertadora o sonho do oprimido é se tornar opressor”.

Paulo Freire

As meninas que atacaram Ina não são da esquerda como a conhecemos no Brasil, mas são lutadoras por equidade racial, um pensamento e uma luta normalmente ligados à esquerda. Entretanto suas armas se tornam iguais às usadas pelos piores fascistas: a destruição da imagem pública de alguém cujas diferenças são infinitamente menores que as semelhanças no discurso e na prática. Isso precisa ser denunciado pelo bem da própria luta contra o racismo. Produzir mais racismo e mais perseguições não poderá trazer nenhum benefício aos negros e nem acabar com a opressão que sofrem. Não se constrói uma sociedade igualitária com violência. O que faltou a estas ativistas é a compreensão de que nós brancos precisamos ser educados para um novo mundo e não destruídos por sermos da cor “moralmente errada“. A insensatez dos ataques demonstra a incapacidade de suplantar o ciclo vicioso de violência. O que elas fizeram com Ina May foi usar a chibata midiática e humilhá-la publicamente, um sofrimento semelhante ao que historicamente tiveram. Que alternativa de mundo elas tem a oferecer se tudo que mostram é rancor e vingança?   O que digo serve para qualquer grupo, seja branco, preto, mulher, homem ou gay: o ódio jamais será ferramenta de transformação positiva. Não se trata de “colocar o negro no seu lugar“, mas colocar a todos nós em um modelo de fraternidade. A única coisa que este tipo de ação agressiva resulta é em atitudes defensivas. Acabamos pensando “ok, então é isso mesmo: seremos nós contra vocês.” Todo o simpatizante da causa negra (ou gay, feminista e indígena) acaba se afastando porque será sempre visto como “o inimigo a ser aniquilado“. Que tolice brutal!!!

Não vou dizer (não ousaria) como as feministas ou as negras ativistas americanas devem agir, mas a forma como agem vai resultar em me considerar aliado ou adversário. No momento, apesar de ser um ferrenho antirracista, me considero mais adversário desse movimento americano do que amigo. Até porque sei que, basta uma vírgula mal colocada, ou diferente da agenda destes grupos para ser literalmente linchado, destruído e jogado ao inferno. Infelizmente é um fato inquestionável de que os ex-aliados são sempre tratados com mais crueldade do que os inimigos declarados. Todavia, apesar das críticas à violência desses grupos, isso em hipótese alguma invalida a justiça da luta contra o racismo, porém nos alerta para que as armas usadas nesta luta não podem ser as mesmas do opressor. No eterno embate das ideias e dos projetos somos pedagogos de nossas propostas e nosso comportamento será sempre um reflexo do que verdadeiramente somos, por mais belas e sublimes que sejam estas propostas.

Minha mãe sempre dizia: “Cuida como vives; talvez sejas o único evangelho que teu irmão lê“. Acatar e absorver como prática a crueldade de nossos adversários apenas nos torna uma cópia mal feita daqueles a quem tanto combatemos.

Menos o surgimento de monstros como Bolsonaro e mais o apoio que recebe de uma imensa parcela idiotizada da população (10%!!!!) se relacionam com a imagem que é vendida à população por estes extremistas que se chamam esquerda, mas cuja postura e atitudes estão mais próximas do fascismo do que das históricas bandeiras de solidariedade e democracia que a esquerda carrega. Quando fui vitima de insultos e boicotes há alguns anos eu estava sozinho nessa luta. Era fácil agredir uma pessoa que pedia moderação e menos violência por parte de grupos historicamente oprimidos. Não acredito no ódio como solução, muito menos a vingança. Esta queixa agora explodiu ao mesmo tempo nos Estados Unidos e no Brasil, com Ina May e Elinka. Estamos cansados de radicalismos e não precisamos mais aguentar fascistas de esquerda que infestam partidos e universidades subvertendo a visão solidária e democrática do socialismo.   Não se trata de calar a voz de nenhum grupo; pelo contrário, é fazer a nossa voz ser respeitada por quem não admite contraditório ou crítica.

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