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Lavagem Cerebral

Recomendo o documentário “A Lavagem Cerebral do meu Pai”. Todavia, apesar da qualidade e da profundidade das entrevistas, reconheço que, por ter sido realizado nos Estados Unidos, ele perde um dos pontos mais essenciais do debate sobre a influência da mídia sobre o cidadão comum. A mídia é sempre a semente que é lançada sobre a população, carregada de ideologia, com a potencialidade de crescer e se multiplicar. Entretanto, para que a semente possa germinar é necessário que exista um terreno fértil e acolhedor, e só assim a semeadura terá êxito.

Se a propaganda fosse suficiente para a mudança de padrões de comportamento, bastaria fazer propagandas diárias contra a violência doméstica, contra latrocínios, abusos de cesarianas ou corrupção. Infelizmente (ou felizmente) o terreno é essencial, sem o qual a propaganda atinge a rocha dura e impenetrável das nossas seguranças.

O surgimento da direita feroz americana só pôde ocorrer pelas crises sistemáticas e recorrentes do capitalismo, produzindo um sentimento de ressentimento e rancor que atinge, em especial, os homens de meia idade, traídos pela promessa de serem o sustentáculo de suas famílias. Há uma crise do capitalismo conjugada com a crise do patriarcado, produzindo um contingente gigantesco de homens desorientados, cuja falta de norte os leva à violência – inclusive a violência política. Portanto, ao se analisar o crescimento de Fox News ou Alex Jones nos Estados Unidos (ou Rede Globo e Alan dos Santos no Brasil) é necessário entender o contexto de crise dramática do sistema capitalista, em especial a partir dos anos 80 e da aventura neoliberal iniciada por Thatcher-Reagan. Olhar para as hordas de homens de meia idade e suas senhoras amontoados na praia de Copacabana no 7 de Setembro pode ajudar a entender o que os move.

O que vemos hoje se reproduzindo no Brasil com o ódio bolsonarista, o império das Fake News e das mentiras, as famílias divididas por sujeitos de extrema direita disseminado ideias extremistas (racismo, xenofobia, homofobia, etc.) é a herança nefasta dos estertores de um sistema econômico quase defunto, cujo corpo apodrece ao ar livre até que seja retirado. Nas palavras de Antonio Gramsci, “O velho resiste em morrer, e o novo não consegue nascer”. Esse é o mundo em que estamos inseridos, escutando o tic-tac que fará o planeta explodir.

Por outro lado, o documentário mostra a impressionante máquina da imprensa burguesa americana ocupada na lavagem cerebral de milhões, fazendo com que creiam nas mais absurdas teorias, nas mais rotundas mentiras e nas mais inacreditáveis fantasias. Também mostra como, vencida a etapa dos jornais e da televisão, o novo campo de disputa é a Internet e as redes sociais, e para este tipo de batalha a modernidade precisa estar preparada.

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Saudosismo

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É que eu sou velho. É só esse o problema.

Estava pensando na TV que eu levei hoje para o apartamento da minha filha e lembrei-me de como era ver televisão nos anos 60 e 70. Naquela época a TV tinha antena externa (no telhado) ou interna (em cima do aparelho). Nessa última a gente colocava Bombril para “aumentar a recepção”. Não adiantava muito: sempre tinha “fantasma”. Quando a antena era externa o pai subia no telhado (só ele podia fazer isso) e a gente botava a cabeça para fora da janela e gritava “assim, pára, não mexe!!!”. Aí ele largava a antena na posição e descia, mas os fantasmas continuavam. “Nós e o fantasma”, lembram? Carolyn Muir e capitão Daniel Gregg… ok, deixa prá lá. Vocês não eram nascidos quando eu curtia esse romance além da vida.

Havia antenas que pegavam um canal, mas os outros ficavam muito ruins. Nessa época a gente escolhia deixar a antena na posição que facilitasse a Globo, pois tinha o Jornal Nacional, as novelas e tals. Daí o locutor dizia “E agora, mais com campeão de audiência”. Claro, só podia, já que a gente deixava a antena só pra ela. As televisões da época se chamavam Philco, Telefunken (é alemã, então é boa), Zenith, Colorado RQ (o Pelé fazia a publicidade) e Admiral. Tinha outras, mas não me lembro as marcas. Tinham tubo e demoravam a esquentar por causa das válvulas, que a gente via acenderem quando olhava a TV por trás.

A queda da Globo só veio a acontecer quando lançaram no Brasil as TVs com controle remoto, com muitos anos de atraso. Diziam na época que foi a Globo quem impediu os aparelhos de terem essa facilidade, para garantir a “audiência por inércia”. Pode ser… depois dos controles remotos ficou mais fácil escolher os canais. Lembro bem do primeiro que tivemos!! Que loucura trocar de estação sem se levantar!!

E a TV colorida? Que revolução !!! Primeiro jogo de futebol televisionado a cores no Brasil: Grêmio x Caxias, durante a festa da uva em meados dos anos 70. Ninguém tinha uma TV a cores em casa, então fui ver o jogo na vitrine de uma loja na rua da Praia. Que lindeza. Mas foi 0 x 0.

Lembro de um amigo cujo pai comprou uma televisão colorida muito antes de termos uma em nossa casa. Logo que ele ligou a TV me telefonou e falou exaltado:

– Ric, tenho uma coisa incrível pra te contar.
– Diga…
– O boné do Jacques Cousteau é vermelho.

Que emoção….

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