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Visita Íntima

Acho curiosas as justificativas de quem defende tratamento violento, agressões, privações, mortes e tortura para internos do sistema prisional. A lógica é sempre a mesma:

“Alguma coisa fizeram”,
“Se tivesse ido a igreja ao invés de assaltar…”,
“Não quer dormir na masmorra, comporte-se”,
“Tratamento humano? E a vítima teve?”,
“Direitos humanos para humanos direitos”,
“Bandido bom é bandido morto”,
“Leva pra casa”, etc…

Também é engraçado ver os defensores dos direitos humanos sendo acusados de “comunistas” e “defensores de bandidos”, quando na realidade estes avanços civilizatórios são conquistas liberais, na justa iniciativa de proteger o cidadão comum do poder imenso do Estado. Sem estas medidas, os Estados teriam poder ilimitado de destruir aqueles que se opõem aos seus interesses.

Os direitos humanos são assim chamados porque se referem à dignidade humana. Isto é: inobstante o delito que tenha sido realizado o Estado não pode agir abaixo da linha da dignidade inata que qualquer cidadão tem por pertencer a está espécie.

“Ahhh, mas o sujeito cometeu um crime bárbaro (estuprou, matou, cometeu genocídio) por quê deveria ser tratado com candura?”

Por uma razão simples: a ação do Estado precisa ser pedagógica. Da mesma forma, uma criança que chuta um adulto não pode receber outro chute como punição. E não é porque a criança é inimputável, mas por ser indigno do ser humano cometer coletivamente um erro que um sujeito solitariamente cometeu. Além disso, não se trata de absolver e sequer perdoar, nem mesmo tratar com carinho e doçura (o que seria bom e produziria benefícios para todos) mas garantir a mínima dignidade que qualquer ser humano merece.

Mais do que isso, e acima de tudo, as medidas violentas contra apenados do sistema fechado são inúteis, ineficazes, indignas e contraproducentes, além de servirem apenas como vingança cruel e estimular sentimentos baixos no povaréu, o mesmo grupo de linchadores que assistia bruxas e punguistas queimando nas fogueiras na idade média.

Penas de morte, prisões perpétuas, tortura, condições sub-humanas de presídios e privação da sexualidade tem o efeito OPOSTO ao que se espera. Ninguém deixa de cometer uma barbárie com medo da pena de morte. Se isso fosse verdade, a pena de morte que existe entre facções do crime organizado faria as chacinas desaparecerem, e o que vemos é o oposto, um ciclo infindável de mortes e vinganças.

É cientificamente comprovado que o distensionamento da sexualidade nos presídios diminui a violência interna e os estupros. Portanto, pedir a extinção desse DIREITO só pode partir de quem se compraz com motins, carnificina, assassinatos, estupros e violência disseminada.

Isto é…. cidadãos de bem.

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Visitas Íntimas

detentos-revista

Existem maneiras de avaliar o nível espiritual de um lugar, desde uma cidade a um país. Costuma-se dizer que se pode medir pela capacidade de cuidar dos mais frágeis: as minorias, as mulheres, as crianças, os deficientes e os idosos. Nesta curta lista eu apenas acrescentaria os prisioneiros. Nenhuma sociedade pode-se dizer verdadeiramente civilizada e justa enquanto o sistema prisional for um “depósito de lixo humano”. Se não formos capazes de guardar uma porção, por pequena que seja, de nossa compaixão para os que erraram não poderemos nos considerar minimamente civilizados.

Escrevi isso porque é incrível o número de pessoas que se ofendem com as visitas íntimas dos prisioneiros. Acham que o exercício da sexualidade só deveria ser exercido pelas “pessoas de bem”, as que estão fora do cárcere. Bem, não vou falar minha opinião sobre o que eu considero como “pessoas de bem”, mas o fato de ser esse o nome do jornal da KKK já dá uma pista sobre a minha opinião. Entretanto, a questão destas visitas é humanitária e prática.

Quando você diminui a tensão sexual masculina a violência dentro das prisões cai dramaticamente. Os casos de estupro em presídio desabaram com a instituição das visitas de esposas e companheiras. Acima de tudo, um prisioneiro não pode ser tratado como um animal. A sexualidade privada leva a neurose. Freud estudou a histeria em sociedades onde as mulheres tinham COMO REGRA esta privação sexual, e o resultado era a somatização e a histeria. Se achamos indigno o cerceamento da liberdade sexual das mulheres, por que deveria ser diferente com prisioneiros? Some-se a isso uma cultura falocêntrica e o acúmulo de testosterona e temos um barril de pólvora nas penitenciárias. Sem sexo, desumanizados e privados da liberdade, por que razão não se comportariam como animais ferozes enjaulados?

Visita íntima devolve calma e tranquilidade ao ambiente terrível de uma penitenciária e, mais que isso, oferece um pouco de amor próprio e dignidade ao prisioneiro.

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