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Netanyahu

A nova/velha tática de sionistas confrontados com imagens, relatos e depoimentos sobre o massacre de mulheres e crianças – além da morte de membros de uma ONG que levaria comida aos famintos de Gaza – é afirmar que estas verdades insofismáveis não são decorrentes da ideologia racista e supremacista que abraçam, mas do governo Netanyahu, que faz parte de uma extrema direita impopular e “extremista”. Esta é, aliás, a retórica mais preponderante entre os ditos “sionistas de esquerda”, um oximoro que ocupa posição de destaque na imprensa corporativa. Tentam retirar a culpa da estrutura que sustenta o Estado terrorista de Israel para colocá-la numa contingência eleitoral, como a presença de um radical de direita à frente do seu governo. Todavia, ao contrário do que os sionistas mais ufanistas acreditavam, Israel se mostrou incapaz de quebrar a resistência palestina. O apoio internacional à causa Palestina aumenta no mundo inteiro e o sionismo racista e supremacista se isola, restando apenas o apoio do Império Americano. Porém, mesmo no seio da América este suporte está enfraquecendo rapidamente, na medida em que as mentiras de Israel são reveladas e as pessoas aos poucos começam a conhecer a realidade da ocupação brutal de Israel. A Palestina vencerá porque o mundo não pode mais aceitar o racismo e a brutalidade fascista que são o coração do sionismo, porém, antes que isso aconteça, muitos sionistas tentarão oferecer a simples troca de um governo fascista por um personagem mais moderado como solução para o drama palestino. Todos sabemos o quanto isso é falso.

Ora, todos sabemos que a imensa maioria da população de Israel apoia os massacres aplicados à população palestina. Os descontentes que saem às ruas contra o governo atual clamam por ações mais enérgicas (ou seja, mais mortes) para o resgate dos reféns e pelo fim do governo corrupto de Netanyahu. Não são movidos por interesses humanitários, por certo. Também é fácil perceber que, entre a elite política de Israel, Netanyahu é visto como moderado; por mais bizarro que possa parecer, os chacais ao seu redor são ainda mais radicais no uso da violência. A possível troca de Netanyahu por Benny Gantz ou Yair Lapid – seus principais opositores – produziria mais radicalismo, pois que suas posições são ainda mais virulentas, racistas e genocidas que as utilizadas até agora.

A sociedade israelense foi se deteriorando com o passar dos anos, radicalizando-se no arbítrio e na opressão, mergulhada no fascismo mais abjeto, em um nível e em que o desprezo pelos árabes, a postura supremacista, o excepcionalismo e a desumanização do povo palestino permitem que o massacre cruel e abjeto seja a cola social que unifica seu povo. Não há diferença alguma em suas práticas que os diferencie dos seguidores de Adolf.

Por outro lado, é certo que esta “solução” – a queda e a prisão do primeiro ministro Netanyahu – mais cedo ou mais tarde poderá ser aventada, mas não nos enganemos; caso venha a correr a proposta terá como objetivo “mudar para não mudar”. Ou seja, “oferecemos a cabeça de Netanyahu em uma bandeja para o ocidente para que nossa proposta de extermínio da Palestina siga intocada”. A população da Palestina, que de forma intensa apoia as medidas dos grupos de defesa e de resistência armada, não vai aceitar a queda de um político corrupto como sinal de paz ou como solução para o colonialismo e a ocupação. Este truque também poderá ser utilizado na nossa questão doméstica: a prisão de Bolsonaro. Ao mesmo tempo em que coloca um criminoso na prisão esta ação pode manter vivo o bolsonarismo, deixando protegido o radicalismo fascista de extrema direita.

É preciso entender a delicadeza da situação na Palestina para não se deixar aprisionar pelo emocionalismo. O ataque ao sionismo e sua ideologia fascista precisa muito mais de cérebro e paciência do que pressa e ações apaixonadas. É necessário ser frio e entender que a luta de 75 anos pela Palestina livre não vai terminar da noite para o dia e muito menos vai se dar por ações atabalhoadas e midiáticas.

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Arquivado em Causa Operária, Palestina